Vírus movimenta um enorme e estranho mercado de remédios que depende de financiamento público
Os 30 anos passados geraram diversos triunfos na longa batalha contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Uma enxurrada de dinheiro permitiu que cientistas criassem novas medicações e que trabalhadores de saúde fizessem com que elas chegassem àqueles que precisavam. Essas medicações transformaram uma doença letal em uma crônica. Elas também criaram um grande negócio do HIV.
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As vendas de remédios retrovirais nos EUA e nos cinco maiores mercados europeus alcançaram US$ 13,3 bilhões em 2011. Este mercado é tão incomum quanto grande, impulsionado por financiamento público e preocupantemente dependente deste. A década passada trouxe remédios mais modernos para os países ricos e uma quantidade copiosa de auxílio humanitário para países pobres. Mas a guerra está muito longe do fim.
Pesquisas financiadas com dinheiro público tiveram um papel mais determinante no desenvolvimento de fármacos para o HIV do que para outras doenças. Uma pesquisa publicada no ano passado no periódico Health Affairs revelou que os remédios de HIV tinham uma probabilidade três vezes maior de envolver uma patente do setor público.
Se o processo para desenvolver remédios de HIV tem sido incomum, as vendas têm sido mais ainda. Os EUA são o maior mercado do HIV no mundo rico, com 841 mil pacientes diagnosticados – 10 vezes mais do que na Inglaterra.
Mais de 60% dos remédios de HIV nos EUA são comprados com dinheiro público. Os planos de saúde dão um tratamento especial ao HIV: raramente os pacientes são pressionados a comprar as pílulas mais baratas, como costuma ser feito em relação a outras doenças.
Distribuir remédios nos países pobres é mais difícil.
Há uma década, era muito raro alguma pessoa pobre ter condições para bancá-los. Num primeiro momento, as empresas farmacêuticas não lidaram bem com isso. Em 1998, 39 grandes empresas ocidentais processaram a África do Sul para proteger as suas patentes relacionadas ao tratamento de HIV. Seguiu-se um alarido global; as empresas desistiram da causa em 2001.
Então duas coisas mudaram. Primeiro, países ricos começaram a fazer doações vultosas para os esforços contra a AIDS nos países pobres. Em 2000, menos de US$ 2 bilhões anuais se destinavam aos programas de HIV; em 2010, esse valor somava US$ 15 bilhões ao ano, graças ao Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária e ao Plano de Emergência para Tratamentos contra a Aids de George W. Bush (PEPFAR, na sigla em inglês).
Segundo, o preço dos remédios de HIV despencaram. Em maio de 2000, um ano de tratamento com o “coquetel triplo” custava cerca de US$ 2 mil. Em 2011 a mesma terapia saía por US$ 62 nos países pobres. O tratamento pode se expandir ainda mais? Apesar dos subsídios e da queda do preço, menos da metade das pessoas infectadas com o vírus HIV toma a medicação apropriada. Contudo, aqueles que o fazem vivem por um período longo, e têm que continuar a tomar as pílulas. Ademais, novos estudos mostram que quanto mais cedo o tratamento é iniciado, melhor, de modo que o aumento da demanda é uma certeza.
Infelizmente a ajuda humanitária caiu em 2009 e 2010 devido à crise financeira. Para complicar ainda mais as coisas, há uma relação entre mais remédios ou remédios melhores. A maioria dos pacientes dos países pobres recebe pílulas defasadas, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras. Permitir que empresas de medicamentos genéricos copiem ainda mais remédios patenteados pode ajudar.
Há dois mercados distintos de HIV. Em países ricos, muitos tratamentos bons competem por domínio do mercado. Os melhores gerarão lucros significantes, uma vez que seus usuários têm que tomar uma dose por dia. Mas o Datamonitor prevê que o crescimento diminuirá após 2017, quando muitos remédios perderem a proteção da patente e os preços despencarem. Nos países pobres, por outro lado, as grandes empresas farmacêuticas não ganham muito dinheiro, mas os copiadores mais eficientes se multiplicam. Enquanto isso, o mundo ainda espera por uma cura.
09 de junho de 2012
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