"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 9 de junho de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

Bié, consagrado poeta popular de Fortaleza, era muito amigo de Lutero Vargas, filho de Getúlio. Toda vez que Lutero vinha ao Ceará, a caminho ou voltando da Europa, Estados Unidos, Bié e ele detonavam muito uísque, recitando poemas em escocês

Em 1944, Lutero voltava dos Estados Unidos, desceu em Fortaleza. Ofereceram um grande banquete ao filho predileto do ditador. Nobreza, clero e puxa-sacos, estava lá a fina flora da cidade. O principal orador foi o senhor arcebispo. Lutero, até por força do nome herético, agradeceu emocionado.
Mas nem tempo teve de levantar-se para sair, porque Bié pediu a palavra, lá do canto da mesa:

– Meu amigo Lutero, tenho um pedido a te fazer, em nome de todo o povo do Ceará. Leva para teu ilustre e poderoso pai esta mensagem, que não é minha mas de todo o Estado. Pede a ele que me nomeie arcebispo de Fortaleza.
Quando procuraram, o senhor arcebispo já estava lá fora. Saindo de fininho.

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TERAPIA OCUPACIONAL

O País e sobretudo o Congresso e os políticos precisam ter muita compreensão e misericórdia com os Biés do TSE, do Tribunal Superior Eleitoral. Eles vivem um permanente drama existencial. Muito gostariam de ser nomeados arcebispos, quiçá cardeais. Quer dizer, ir para o Supremo.
Três, por lei, já são do Supremo Tribunal. A maioria, coitada, fica ali anônima, incógnita, inconsolável, sem saberem para o que servem, já que os problemas, quando sérios, vão para o Supremo. E ninguém se lembra deles.

Daí, esses ataques periódicos de histeria jurídica. Passam anos inteiros sem nada fazerem, sem poderem dizer que estão vivos. E caem naquela modorra verde mas seca de Brasília, fatal para quem não tem o que fazer. De dois em dois anos, agarraram-se às eleições como a um terapia ocupacional. Toda vez que se aproxima uma eleição, as Darlenes jurídicas se vingam do destino de almas chochas, arranjam um forró jurídico e pulam para o palco. Se fossem forrozeiros inofensivos, tudo bem. Mas logo se metem a legislar, a parir portarias fingindo de leis, e atropelar o Congresso e a ordem jurídica.

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JABOTICABA ELEITORAL

Essa coisa de Justiça Eleitoral é uma joboticaba nacional. Também só existe aqui. Nos outros países, a cada eleição a Justiça cria comissões eleitorais especiais para acompanhar os pleitos. Acabaram, estão dissolvidas.
No Brasil, eles ficam pendurados em inexplicáveis mordomias. E para tentar justificá-las, metem-se a proprietários da lei, legislam sem qualquer mandato, passam por cima do Congresso como Brucutus jurídicos invadindo favelas.

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