"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 10 de julho de 2012

ALÔ... ALÔ... CARIOCAS! PREST'ENÇÃO!!!

Vereadores do Rio de Janeiro extorquem R$ 63 anuais de cada carioca
 
Reportagem de Dorio Ewbank Victor e Luiz Gustavo Schmitt no Globo de ontem, mostra o quão inúteis, irresponsáveis e desonestos são os vereadores do Rio de Janeiro. Há quatro anos, às vésperas das eleições municipais de 2008, eu andei ensaiando mostrar a folha corrida de cada um, mas foi muito trabalho: os canalhas eram muitos e eu, um só. Mas vamos à matéria:
Com 8% de projetos aprovados, Câmara custa R$ 398 milhões/ano, R$ 63 a cada carioca
A Câmara Municipal do Rio, a segunda mais cara entre as capitais do país, segundo a ONG Transparência Brasil, custa aos cofres públicos R$ 398 milhões por ano, ou R$ 7,8 milhões por vereador. É como se cada carioca tivesse que desembolsar, anualmente, R$ 63 para manter a estrutura em torno de seus 51 representantes. Este investimento significativo, porém, tem dado pouco retorno quando se verifica o nível de produtividade de seus parlamentares. Segundo levantamento feito pelo GLOBO, de fevereiro a junho deste ano, apenas 8% dos projetos apresentados foram aprovados pela Casa.
Das 244 propostas apresentadas no primeiro semestre deste ano, só 20 foram aprovadas. As demais aprovadas pelos parlamentares foram apresentadas entre 2004 (início da gestão anterior) e 2011. Essa morosidade tem provocado um acúmulo de projetos, que não têm previsão de serem votados.
Além disso, o cancelamento de sessões no plenário por falta de quorum provoca acúmulo de projetos. Só este ano, 13 das 71 sessões foram canceladas. O GLOBO registrou sessões que contaram com apenas três parlamentares; o mínimo para iniciar é de sete. As sessões são às terças, quartas e quintas.
Prefeitura usa regime de urgência
Dos 20 projetos aprovados em segunda discussão este ano, 13 são projetos de lei (PL). Destes, nove são de autoria da prefeitura. Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, não houve prioridade em aprovar só projetos do Executivo este ano. A explicação é que as matérias da prefeitura entram em regime de urgência, com tramitação mais rápida pelas comissões do que PLs.
Segundo assessores e parlamentares que não quiseram se identificar, os próprios vereadores escolhem os projetos que devem entrar na ordem de votação. Mas eles acabam escolhendo os de sua autoria ou de aliados. O objetivo é fortalecer a sua imagem dentro da Câmara e tentar prejudicar os adversários.
Em várias ocasiões, os vereadores combinam faltar à sessão ordinária, para participar somente da extraordinária, que começa mais tarde, às 18h. O motivo seria combinar votos, ou mesmo vetar projetos de parlamentares da base adversária no plenário.
Na opinião do diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, o número excessivo de projetos apresentados é, na verdade, uma forma de os vereadores se autopromoverem:
- Os parlamentares apresentam os projetos não só para serem transformados em leis, mas também para fazer figuração dentro da Câmara. Existem projetos de lei surreais, como, por exemplo, limitando lucros de empresas, o que é fora da alçada deles. No entanto, a atividade legislativa não é a principal do parlamento, e, sim, fiscalizar o Executivo, coisa que eles não fazem.
O número total de projetos acumulados na Câmara não foi informado pela Câmara de Vereadores. Segundo a assessoria, não existe uma contabilidade final das matérias apresentadas que ainda não foram votadas.
A vereadora Teresa Berguer (PSDB), que na semana passada entrou com um ofício na Mesa Diretora da Câmara para que sejam divulgadas as faltas dos vereadores, informou que um dos fatores que provocaram o acúmulo de projetos foi um número significativo de sessões canceladas no ano passado por falta de quorum.
- O outro fator que provoca esta lentidão na aprovação dos projetos é que, antes de votar as propostas, os vereadores precisam analisar os vetos do Executivo, e isso acaba tomando grande parte do tempo da sessão - ressaltou.
Em maio deste ano, o vereador Rubens Andrade (PSB) protestou durante uma das sessões de votação no plenário. Na ocasião, o painel eletrônico de presença registrava 48 parlamentares, mas apenas 20 estavam no local.
- Esta é a segunda semana (em que ele tentava votar um projeto sem quórum). Estou me sentindo prejudicado - reclamou Andrade à época. Nesta semana, o vereador minimizou: - De lá para cá, o Legislativo acelerou os trabalhos de votação. Mas ainda estamos longe de alcançar o ideal.
Sobre a votação de projetos de anos anteriores, a assessoria de comunicação da Câmara informou que na ordem do dia podem constar até cinco projetos de cada vereador, independentemente do ano em que a proposta foi criada. Os parlamentares encaminham os requerimentos solicitando a inclusão de matérias para entrarem na pauta de votação. A assessoria ressaltou que a ordem do dia é organizada pela presidência da Casa, todas as sextas-feiras, para vigorar na semana seguinte.
Folha salarial representa 70% dos gastos no Rio
Casa gasta R$ 2,6 milhões com selos postais por ano e funcionários comissionados são o dobro dos efetivos
Só para pagar salários da Câmara do Rio, são necessários 278 milhões com gastos de pessoal (vereadores, servidores efetivos e comissionados) e encargos sociais, de um orçamento de R$ 398 milhões. Os funcionários comissionados equivalem ao dobro dos concursados: 1.415, ante outros 776 efetivos, de acordo com o Portal Transparência.
Cada parlamentar pode nomear até 20 cargos de indicação política. A lista é extensa: um assessor-chefe; um consultor; um assessor especial; dois assessores; dois assistentes; seis oficiais de gabinete e sete auxiliares de gabinete. O salário bruto desses profissionais varia de R$ 2,4 mil a R$ 15 mil. Por baixo, a estimativa é que o gasto mensal com esses cargos é de cerca de R$ 3,8 milhões para os 51 gabinetes ou R$ 46 milhões anuais.
No entanto, o custo dos comissionados não para por aí. Eles também recebem R$ 775 de auxílio alimentação, R$ 516 de auxílio saúde, R$ 516 de auxílio transporte e ainda uma gratificação classificada como “dedicação legislativa”. Essa última poderia variar entre R$ 500 e R$ 2,1 mil, segundo o Portal Transparência da Casa.
Esses valores foram incluídos no site após questionamentos do GLOBO, feitos na quinta-feira. Até então, eles só estavam discriminados nos vencimentos dos funcionários efetivos da Casa. A página, que saiu do ar entre a noite de sexta-feira e sábado à tarde, não informava, porém, os encargos especiais, uma espécie de gratificação de cerca de R$ 2 mil, que pode ser concedida a no máximo cinco funcionários de um vereador.
Para Claudio Weber Abramo, diretor- executivo da Transparência Brasil, a estrutura inflada da Câmara se justifica só por um motivo: a satisfação dos interesses eleitorais dos vereadores.
— Toda essa estrutura serve para abrigar os cabos eleitorais. É uma prática disseminada em todo o país — afirma Abramo.
A vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) explica que a Casa precisa de mais transparência:
— A Câmara precisa se adequar à Lei de Acesso à Informação Pública. O portal Transparência não informa as despesas detalhadas e tem pouca serventia à população — diz a vereadora.
A Câmara também tem gastos curiosos. Um vereador tem direito a utilizar mil litros de gasolina por mês. O preço médio da gasolina no Rio de Janeiro custa R$ 2,81, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Os parlamentares despendem R$ 1,7 milhões para abastecer seus veículos anualmente. Os pagamentos são feitos por meio de um cartão em postos de um rede credenciada pela Casa.
Considerando que um carro, em média, percorre dez quilômetros por litro, cada vereador poderia andar por 10.000 quilômetros mensais. A Câmara não explicou quais são os postos credenciados para abastecimento.
Em tempos de internet e redes sociais, as cartas se tornam cada vez menos utilizadas como meio de comunicação. Apesar disso, todo mês cada vereador recebe 4 mil selos ao custo de R$ 1,10. Sendo assim, ao longo de um ano, essas despesas alcançam R$ 2,6 milhões. De acordo com assessores de gabinetes, os selos são utilizados pelos parlamentares durante as campanhas eleitorais e também para o envio de cartas de felicitações em datas comemorativas.
Procurado pela reportagem, o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felipe, preferiu não comentar o assunto, assim como o presidente da Comissão de Finanças, o vereador professor Uóston (PMDB).
10 de julho de 2012

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