"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 4 de julho de 2012

ANOTAÇÕES POLÍTICAS DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS

A renovação que não houve

A natureza das coisas tem sido uma constante em nossa História. Durante décadas as lideranças sindicais e estudantis tinham muito de farsa, umas atreladas ao ministério do Trabalho, outras ao ministério da Educação. Com exceções, é claro, que só faziam confirmar a regra.
Veio o golpe de 1964, com sua falta de conhecimento da realidade, e começaram as perseguições às velhas lideranças, em pouco tempo suprimidas ou foragidas. Resultado: renovaram-se os movimentos sindicais e estudantis, emergindo neles operários e jovens que não viviam agarrados a favores dos governos ou a empregos públicos. Possuíam objetivos acordes com as novas realidades.

Foi quando surgiram o Lula, Joaquinzão, Wladimir Palmeira e José Dirceu, só para citar dois de cada categoria, entre centenas de outros que deram muito mais trabalho aos militares do que teriam dado seus antecessores. Porque trouxeram a renovação de métodos e de concepções. Sob certo aspecto, introduziram pureza e idealismo em suas propostas, ainda que também radicalismo.

Demonstra-se, assim, a natureza das coisas, ou seja, que a renovação é inexorável, em especial quando ajudada por fatores exógenos do tipo ditaduras e similares.

Há, no entanto, um razoável vazio quando se trata dos políticos. Entrou gente nova, por certo, depois que foram saídos João Goulart, Leonel Brizola, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Miguel Arraes e muitos mais. Sobreviveram, também, e até cresceram, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Amaral Peixoto, Negrão de Lima e Israel Pinheiro, entre tantos.

Não se deve tirar o mérito dos “autênticos” do MDB, nem dos fundadores do PT, sequer de alguns renovadores do partido do governo daquela época, mas, como norma, e até hoje, os políticos não mudaram de concepções nem de métodos.

Qual a diferença entre um deputado federal dos tempos anteriores ao regime militar, como outro que militou naquele período, e agora um terceiro, eleito com a redemocratização? Nenhuma. Todos, e as exceções novamente confirmarão a regra, todos cuidam primeiro de seus próprios interesses, legítimos e ilegítimos.

A maioria gravita em torno do poder, por razões óbvias, e os que se opõem estão de olho em voltar a ele ou em conquistá-lo pela primeira vez. Sempre atrás de votos, prometendo horrores em períodos eleitorais, valendo-se da credulidade de grupos sociais distintos, até religiosos, são os mesmos de sempre.

Tanto faz, hoje, se integram o PT, o PMDB, o PSDB, o PTB e outros, os políticos pouco ou nada mudaram. A não ser a renovação genética, que por sinal eleva filhos e netos às posições antes ocupadas por pais e avós, alteração não houve, em matéria dos referidos métodos e concepções.

É o que está faltando na realidade nacional. Adianta pouco botar a culpa no eleitorado, sendo os eleitos os mesmos, desde quando candidatos. Parece inócuo ficar procurando saber quem apareceu primeiro, se o ovo ou a galinha, mas a verdade pode estar com Darwin: quem não evolui, isto é, quem não se renova, condena-se a desaparecer.
Um belo dia vamos perceber que os políticos sumiram e que ninguém deu falta deles…

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O MESMO ERRO?

José Serra começou a perder a presidência da Republica quando aceitou, sem reagir, a imposição feita pelo DEM, empurrando-lhe goela a dentro um desconhecido para vice-presidente. Com todo respeito ao então deputado Índio da Costa, ninguém o conhecia fora de sua paróquia fluminense. Não trouxe um voto para o candidato e, pior ainda, nenhuma mensagem ou proposta.

Pois não é que, guardadas as proporções, Serra pode estar repetindo o mesmo erro? Engoliu como candidato a vice-prefeito Alexandre Schneider, indicado por Gilberto Kassab.
O jovem que nos desculpe, mas qual a sua bagagem? Ser amigo e colaborador do atual prefeito de São Paulo? Pertencer a um novo partido ainda não testado nas urnas? Algum dia ainda vão perceber que todo candidato a vice-qualquer coisa precisa dispor de luz própria.

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O GRANDE LÍDER

José Maria Alckmin era ministro da Fazenda de Juscelino Kubitschek e recebeu missão da Arábia Saudita. Numa recepção regada a refrigerantes, e através de um intérprete, dialogou com os visitantes e ficou entusiasmado. Logo reuniu-se a um grupo de deputados do PSD, curiosos em saber o conteúdo da conversa com os árabes. O ministro não regateou: “Eu quis saber o que significa Alckmin, na língua deles, e fiquei feliz quando me disseram que significa “o grande chefe, o grande líder”.

Renato Azeredo desconfiou e pouco depois procurou o intérprete para saber da veracidade da tradução. E ouviu que os árabes, meio constrangidos, haviam informado que Alckmin significava “o grande mentiroso”…

Nenhuma relação tem essa historinha com o atual governador de São Paulo, mas quando perguntam a ele a tradução do sobrenome, sai sempre pela tangente, dizendo haver várias interpretações…

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REJEIÇÃO

Discursando para um plenário vazio, o senador Demóstenes Torres não perdeu a esperança de manter o seu mandato, quando ele estiver em votação, dia 11. A falta de colegas para ouvi-lo, segunda-feira, foi sintomática: só três. A estratégia dos advogados do representante de Goiás será de conquistar o maior número possível de ausências na sessão. Só que dos 81 senadores, pelo menos 70 dispõem-se a condenar Demóstenes

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