"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 9 de agosto de 2012

OS CORDEIROS DE DEUS E DO BRASIL, JÁ QUE DEUS É BRASILEIRO

Obrigado, José Dirceu! Obrigado, José Genoino! Obrigado, Delúbio Soares! Obrigado, Marcos Valério! Obrigado, Kátia Rabello! Obrigado, Henrique Pizzolato!

Como tem observado o professor Marco Antônio Villa, nos debates que temos feito na VEJA.com (ver vídeo abaixo), o julgamento do mensalão, dada a sua forma, embute desequilíbrios óbvios. O procurador-geral da República falou por cinco horas. Mas vai apanhar por pelo menos 36!!! Poderiam ser 38 — ele pediu a absolvição de dois. Nunca antes na história destepaiz um procurador foi tão errado, não é mesmo? Nota: cada acusado não ocupou mais de cinco ou seis minutos de sua exposição.

Como cada advogado procura dar o seu melhor — até porque se tem ali uma grande vitrine —, os doutores se esmeram, e é seu trabalho, em provar a inocência dos seus clientes. Sabem como é… Num país como o Brasil, não falta mercado para advogados criminalistas. Mas as causas que realmente valem a pena, aquelas que fizeram a fama e a fortuna de Márcio Thomaz Bastos, não são tantas assim. Aí a gente vê, então, alguns exageros retóricos.

Por isso, fica-se com a sensação de que o processo do mensalão se resume a uma grande conspiração contra uma legião de heróis e mártires.
Como observou Augusto Nunes no nosso programa, mais um pouco, e nós ainda cairemos de joelhos aos pés dos acusados, pedindo-lhes desculpas em nome do Ministério Público, da imprensa e de outros malvados que houveram por bem considerar que havia algo de errado naquela lambança toda. Engano! Não havia!

Não só as pessoas cumpriam todas as leis como, em alguns casos, estavam acima da raia miúda, das pessoas comuns. Alguns réus, como José Dirceu, José Genoino e Katia Rabello, estão, assim, numa espécie de promontório da humanidade e só estariam sendo julgadas por conta de sua excepcionais qualidades humanas.
Não é, dizem seus defensores, que não tenham cometido crimes; não só não cometeram como pensaram e pensam, o tempo todo, no nosso bem.

É isto: o que se vê ali é um desfile de cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo. O julgamento mais famoso da humanidade tinha apenas um réu e um único inocente. E se cometeu uma só injustiça — embora estivesse prevista já na mente divinal.
O julgamento de agora traz pelo menos 36 réus, 36 inocentes, e seus advogados, evocando — ainda que sem tocar na palavra — a injustiça original, gravada na nossa cultura. Alertam em tom quase apocalíptico: “Não mandem este Cristo redivivo para a cruz, senhores ministros!”

Lembrar-me-ei de acrescentá-los em minhas orações, não pelos votos que renovo todos os dias na humanidade e na razão, mas pelo bem que fizeram aos homens, aos brasileiros em particular.

Obrigado, José Dirceu!
Obrigado, José Genoino!
Obrigado, Delúbio Soares!
Obrigado, Marcos Valério!
Obrigado, Kátia Rabello!
Obrigado, Henrique Pizzolato!

O que seria de nós, pecadores, sem vocês?! Suponho, no entanto, que, do Cristo original, vocês só queiram a nossa devoção, mas não o mesmo destino, não é mesmo?

09 de agosto de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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