O OUTRO GENERAL DUTRA
O nome dele era general Dutra. Reformado, simpático, inteligente, irônico, morava em Fortaleza. Cunhado do saudoso deputado cassado Clidenor de Freitas, foi a Teresina visitar a irmã.
Psiquiatra revolucionário, Clidenor era o fundador, proprietário e guia espiritual do Sanatório Meduna, o primeiro hospício livre do Brasil, em cujos domínios ele vivia, numa ampla casa toda branca, rica biblioteca e uma sala de jantar com uma longa mesa de jacarandá desenhada por Oscar Niemeyer.
Cercado de garbosas mangueiras, flaboyants majestosos, uma grande onça de verdade e na entrada uma estátua de Dom Quixote, seu herói, Clidenor nos hospedava ali, a seus amigos, entre filhos, livros, Mozart e vinhos.
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COM DE GAULLE
O general Dutra estava no centro da cidade, em mangas de camisa, um calor marroquino, resolveu passar no Palácio Karnack e visitar o governador Alberto Silva. Na entrada, um guarda, só um guarda.
- Boa tarde. Sou amigo do governador Alberto Silva, quero falar com ele.
- Quem é o senhor?
- General Dutra.
O guarda olhou-o de cima a baixo, desconfiado:
- De onde o senhor é?
- De Fortaleza. Estou aqui a passeio.
- Onde o senhor está hospedado?
- No Sanatório Meduna.
O guarda não teve dúvida:
- Muito bem. No Meduna, não é? Mas o governador pode não estar. Se ele não estiver, o senhor poderia falar com o general De Gaulle?
O general Dutra ficou uma fera, empurrou o guarda, entrou no peito.
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EDUARDO DUTRA
Sergipe também tem seu general Dutra. Dutra no nome, general na pose. José Eduardo Dutra era presidente da Petrobras em 2003/2004, agia como um prepotente general de 64. Não dava bom dia ao porteiro nem boa noite ao motorista.
Mas isso era problema dele. Cada um é como quer. Ninguém tem nada com isso. O que todos temos é com a maneira como ele presidia a Petrobras, o segundo nome de Brasil, empresa símbolo da alma e da soberania nacional.
Em 2004, amigos e velhos companheiros da Petrobras, líderes sindicais na Bahia, Sergipe e Nordeste, inclusive do PT, me contaram em Salvador coisas que assustavam, porque de repente poderiam até ser usadas pelos eternos e inconformados inimigos da Petrobras, internos e externos.
O “general” Dutra só pensava numa coisa: eleger-se senador em 2006 (já que o candidato do PT a governador seria o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda). E para isso o Dutra de Sergipe faz da Petrobras um escritório eleitoral.
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TRIANGULAÇÃO
Já em plena campanha, o “general” Dutra inventou uma maneira de driblar a lei e os regulamentos da Petrobras para dar dinheiro às duas únicas prefeituras dirigidas por prefeitos do PT: Aracaju e Japaratuba.
Para fugir à exigência legal de fazer licitações em toda obra pública, arranjou uma triangulação com uma ONG baiana, a “Colméia”, que recebe o dinheiro, fica responsável pelas obras e repassa para duas empreiteiras também baianas, a Atenco e a Ceman, sem nenhum controle.
O deputado Gilmar Carvalho, do PV, e o vereador Marcelo Bomfim, do PDT, reagiram, denunciaram, mas o “general” Dutra não voltou atrás e continuou com a ilegalidade, como se a Petrobras fosse dele e não da Nação.
Não adiantou nada. Sua candidatura a senador naufragou e ele hoje é diretor corporativo da Petrobras, onde exerce sua principal especialidade – não fazer nada.
09 de agosto de 2012
Sebastião Nery
O nome dele era general Dutra. Reformado, simpático, inteligente, irônico, morava em Fortaleza. Cunhado do saudoso deputado cassado Clidenor de Freitas, foi a Teresina visitar a irmã.
Psiquiatra revolucionário, Clidenor era o fundador, proprietário e guia espiritual do Sanatório Meduna, o primeiro hospício livre do Brasil, em cujos domínios ele vivia, numa ampla casa toda branca, rica biblioteca e uma sala de jantar com uma longa mesa de jacarandá desenhada por Oscar Niemeyer.
Cercado de garbosas mangueiras, flaboyants majestosos, uma grande onça de verdade e na entrada uma estátua de Dom Quixote, seu herói, Clidenor nos hospedava ali, a seus amigos, entre filhos, livros, Mozart e vinhos.
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COM DE GAULLE
O general Dutra estava no centro da cidade, em mangas de camisa, um calor marroquino, resolveu passar no Palácio Karnack e visitar o governador Alberto Silva. Na entrada, um guarda, só um guarda.
- Boa tarde. Sou amigo do governador Alberto Silva, quero falar com ele.
- Quem é o senhor?
- General Dutra.
O guarda olhou-o de cima a baixo, desconfiado:
- De onde o senhor é?
- De Fortaleza. Estou aqui a passeio.
- Onde o senhor está hospedado?
- No Sanatório Meduna.
O guarda não teve dúvida:
- Muito bem. No Meduna, não é? Mas o governador pode não estar. Se ele não estiver, o senhor poderia falar com o general De Gaulle?
O general Dutra ficou uma fera, empurrou o guarda, entrou no peito.
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EDUARDO DUTRA
Sergipe também tem seu general Dutra. Dutra no nome, general na pose. José Eduardo Dutra era presidente da Petrobras em 2003/2004, agia como um prepotente general de 64. Não dava bom dia ao porteiro nem boa noite ao motorista.
Mas isso era problema dele. Cada um é como quer. Ninguém tem nada com isso. O que todos temos é com a maneira como ele presidia a Petrobras, o segundo nome de Brasil, empresa símbolo da alma e da soberania nacional.
Em 2004, amigos e velhos companheiros da Petrobras, líderes sindicais na Bahia, Sergipe e Nordeste, inclusive do PT, me contaram em Salvador coisas que assustavam, porque de repente poderiam até ser usadas pelos eternos e inconformados inimigos da Petrobras, internos e externos.
O “general” Dutra só pensava numa coisa: eleger-se senador em 2006 (já que o candidato do PT a governador seria o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda). E para isso o Dutra de Sergipe faz da Petrobras um escritório eleitoral.
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TRIANGULAÇÃO
Já em plena campanha, o “general” Dutra inventou uma maneira de driblar a lei e os regulamentos da Petrobras para dar dinheiro às duas únicas prefeituras dirigidas por prefeitos do PT: Aracaju e Japaratuba.
Para fugir à exigência legal de fazer licitações em toda obra pública, arranjou uma triangulação com uma ONG baiana, a “Colméia”, que recebe o dinheiro, fica responsável pelas obras e repassa para duas empreiteiras também baianas, a Atenco e a Ceman, sem nenhum controle.
O deputado Gilmar Carvalho, do PV, e o vereador Marcelo Bomfim, do PDT, reagiram, denunciaram, mas o “general” Dutra não voltou atrás e continuou com a ilegalidade, como se a Petrobras fosse dele e não da Nação.
Não adiantou nada. Sua candidatura a senador naufragou e ele hoje é diretor corporativo da Petrobras, onde exerce sua principal especialidade – não fazer nada.
09 de agosto de 2012
Sebastião Nery
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