"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

REDE DE CORRUPÇÃO


Se, como conclui a polícia, eram três as quadrilhas de agiotas agindo no Maranhão; se são 120 as prefeituras envolvidas nesse crime, e se a maior parte do dinheiro vinha da merenda escolar, compra de medicamentos e obras de infraestrutura; se somente de uma dessas prefeituras foram encontrados 20 talões de cheques na casa de Gláucio Alencar, apontado como mandante do assassinato do jornalista Décio Sá, estamos diante do fato inusitado, incrível, de que praticamente toda a administração do Estado era refém da agiotagem.

É uma situação tão perturbadora, que chega a ser digna das rocambolescas histórias de roubo contadas por Ponson Du Terrail. Para começo de assunto, fica difícil acreditar que tudo isso aconteceu durante tanto tempo sem que as autoridades políticas, policiais e judiciais tivessem conhecimento. É possível mesmo que essa seja a maior rede de corrupção já formada em um estado em todo o mundo com mais da metade de todos os municípios do Maranhão tendo seus recursos garfados, engolidos num nível de permissividade administrativa jamais visto que só pode ser descrita como depravação institucional.

Não há o que explique isso. Não conseguimos lembrar que a História tenha registrado o envolvimento de tantos gestores, tantas prefeituras com quadrilhas de agiotas ou qualquer outro tipo de quadrilha, vendendo o dinheiro do povo a preço tão alto. Isso faz do Maranhão uma verdadeira Caverna de Ali Babá, um gueto de bandidos travestidos de autoridades a negociar a fome, a baixa qualidade de vida, a desgraça de uma população que de dois em dois anos marcha inocentemente até as urnas para escolher os responsáveis pelo progresso e desenvolvimento de um estado eternamente atolado em miséria, em pobreza absoluta e corrupção.

Não há como ter qualquer forma de contemplação com essa gente. A “Operação Detonando II” está a descobrir a lama dentro da lama, a podridão dentro do podre, uma vilania sem precedentes na história da administração pública mundial. Nem as mais geniais obras de ficção política do mundo conseguiram imaginar os recursos da metade de um estado inteiro sendo empenhados por antecipação, a metade das prefeituras sitiadas financeiramente e o povo pagando o preço da falta de alimentação, da falta de escolas, de hospitais e postos médicos, de estradas para escoamento da produção... É alguma coisa para ser contada a nossos descendentes pelo resto dos séculos no melhor estilo “o impossível acontece”.

É triste dizer, mas o Maranhão extrapolou todas as expectativas de degradação pública. A Ong Transparência Internacional costuma divulgar o ranking de países mais e menos corruptos do mundo, incluindo republiquetas tomadas por tiranias sanguinárias, outras consumidas por um fanatismo religioso que a tudo torna permissível. No levantamento de 2011 estão, por exemplo, Coreia do Norte, Miramar, Afeganistão, Urbequistão etc. Entre 183 países, o Brasil ocupa a 73ª posição, mas podem apostar que os pesquisadores da Transparência Internacional sequer podiam imaginar que é possível acontecer o que aconteceu aqui.

23 de agosto de 2012
Da Redação
Jornal Pequeno (MA) (22/08/2012)

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