Se, como conclui a polícia, eram três as quadrilhas de agiotas
agindo no Maranhão; se são 120 as prefeituras envolvidas nesse crime, e se a
maior parte do dinheiro vinha da merenda escolar, compra de medicamentos e
obras de infraestrutura; se somente de uma dessas prefeituras foram encontrados
20 talões de cheques na casa de Gláucio Alencar, apontado como mandante do
assassinato do jornalista Décio Sá, estamos diante do fato inusitado, incrível,
de que praticamente toda a administração do Estado era refém da agiotagem.
É uma situação tão perturbadora, que chega a ser digna das
rocambolescas histórias de roubo contadas por Ponson Du Terrail. Para começo de
assunto, fica difícil acreditar que tudo isso aconteceu durante tanto tempo sem
que as autoridades políticas, policiais e judiciais tivessem conhecimento. É
possível mesmo que essa seja a maior rede de corrupção já formada em um estado
em todo o mundo com mais da metade de todos os municípios do Maranhão tendo
seus recursos garfados, engolidos num nível de permissividade administrativa
jamais visto que só pode ser descrita como depravação institucional.
Não há o que explique isso. Não conseguimos lembrar que a
História tenha registrado o envolvimento de tantos gestores, tantas prefeituras
com quadrilhas de agiotas ou qualquer outro tipo de quadrilha, vendendo o
dinheiro do povo a preço tão alto. Isso faz do Maranhão uma verdadeira Caverna
de Ali Babá, um gueto de bandidos travestidos de autoridades a negociar a fome,
a baixa qualidade de vida, a desgraça de uma população que de dois em dois anos
marcha inocentemente até as urnas para escolher os responsáveis pelo progresso
e desenvolvimento de um estado eternamente atolado em miséria, em pobreza
absoluta e corrupção.
Não há como ter qualquer forma de contemplação com essa gente. A
“Operação Detonando II” está a descobrir a lama dentro da lama, a podridão
dentro do podre, uma vilania sem precedentes na história da administração
pública mundial. Nem as mais geniais obras de ficção política do mundo
conseguiram imaginar os recursos da metade de um estado inteiro sendo
empenhados por antecipação, a metade das prefeituras sitiadas financeiramente e
o povo pagando o preço da falta de alimentação, da falta de escolas, de
hospitais e postos médicos, de estradas para escoamento da produção... É alguma
coisa para ser contada a nossos descendentes pelo resto dos séculos no melhor
estilo “o impossível acontece”.
É triste dizer, mas o Maranhão extrapolou todas as expectativas
de degradação pública. A Ong Transparência Internacional costuma divulgar o
ranking de países mais e menos corruptos do mundo, incluindo republiquetas
tomadas por tiranias sanguinárias, outras consumidas por um fanatismo religioso
que a tudo torna permissível. No levantamento de 2011 estão, por exemplo,
Coreia do Norte, Miramar, Afeganistão, Urbequistão etc. Entre 183 países, o
Brasil ocupa a 73ª posição, mas podem apostar que os pesquisadores da
Transparência Internacional sequer podiam imaginar que é possível acontecer o
que aconteceu aqui.
23 de agosto de 2012
Da Redação
Jornal Pequeno (MA) (22/08/2012)
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