Nas Entrelinhas
O efeito mensalão é tão drástico para o PT que, qualquer que
seja a decisão da Justiça, as consequências já vieram. As prometidas doações
ainda não desaguaram com força nas campanhas do partido. Resta agora a presença
de Lula nos palanques como antídoto às notícias que vêm do STF
Com o julgamento da Ação Penal 470, vulgo mensalão, e o início
do horário eleitoral gratuito, duas crenças petistas estarão em teste ao longo
dos próximos 10 dias. No Supremo Tribunal Federal (STF), a primeira delas, a
tese de que tudo não passou de caixa dois de campanha, esfarela-se. Ninguém
acredita que essa justificativa se sustentará depois do voto do
ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, pedindo a condenação de parte do núcleo
financeiro do esquema, e com o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato
encabeçando a lista. Diante da decisão, os petistas aguardam o desenrolar dos
próximos capítulos do julgamento na Suprema Corte certos de que, nesses 10 dias
— hora de alavancar as campanhas —, o maior trunfo para fazer bonito nas urnas
será ver confirmada a segunda crença: o poder de Lula.
A tese de que o ex-presidente é o maior eleitor absoluto é a
outra em xeque nesse período. Afinal, nesses primeiro dias de campanha no rádio
e na tevê, o eleitor presta atenção na propaganda eleitoral para saber quem são
os candidatos. E, quem consegue alguns pontinhos, tende a se firmar. Daí, o uso
abusivo da imagem de Lula em todas as campanhas petistas como um antídoto às
notícias que vêm do Supremo.
Lula é o garoto-propaganda em São Paulo, Recife, Belo Horizonte
e outros centros importantes, como Salvador. O receio do PT, entretanto, é o de
que se repita nesta eleição o mesmo que ocorreu em pleitos municipais
anteriores, quando a imagem de Lula — seja no papel de ícone do PT, ou
presidente da República — ajudou, mas não serviu para garantir a vitória. Resta
saber como será o poder de sedução do ex-presidente e de seus candidatos diante
do julgamento do mensalão, que já apresenta alguns reflexos.
Por falar em julgamento...
O efeito mensalão é tão drástico para o PT que, qualquer que
seja a decisão da Justiça, algumas consequências já se fazem sentir por seus
integrantes. As prometidas doações ainda não desaguaram nos cofres das
campanhas pelo país afora e candidatos começam a passar o pires entre alguns
amigos em busca de recursos. Para completar a confusão, as trombadas eleitorais
prometem afastar mais ainda os aliados. Hoje está claro para muitos que, se a
presença de Lula não servir para debelar o carma do mensalão, os petistas
estarão enfraquecidos para os próximos lances rumo a 2014.
Por falar em fraquezas...
Hoje, não interessa a ninguém fortalecer o PT. Em todos os
aliados, sem exceção, há uma torcida velada contra os candidatos nos quais a
agremiação de Lula mais aposta. Na avaliação de todos os partidos, a derrota do
PT no STF e nas cidades mais estratégicas ajudarão a equilibrar os próximos
lances do jogo político — seja dentro ou fora do raio de influência do governo
de Dilma e de Lula. A oposição não vê a hora de quebrar a hegemonia do governo
no tabuleiro da política. E os aliados de Dilma e de Lula, por sua vez, não
veem a hora de quebrar a hegemonia do PT dentro do governo. Ou seja, uma
derrota generalizada do PT hoje agrada a todos os demais personagens em cena,
nem que seja para obrigar os petistas a pararem de jogar pensando apenas em
seus próprios interesses.
O maior exemplo de egoísmo do PT citado nos bastidores por todos
os partidos (sem exceção, vale registrar) é o tratamento dispensado ao PSB. O
presidente socialista, Eduardo Campos, tirou os filiados do governo de Geraldo
Alckmin em São Paulo, atendendo a um pedido de Lula. Em troca, não obteve o
apoio dos petistas em nenhum dos grandes centros. Até no caso de Recife — antes
do lançamento do nome de Geraldo Júlio (PSB) à prefeitura —, Eduardo foi
avisado por telefone, pelo segundo escalão petista, que o diretório nacional
havia decidido lançar a candidatura de Humberto Costa a prefeito. No primeiro
debate na capital pernambucana, Humberto bateu firme em Geraldo Júlio, e já foi
anunciado que Lula estará em Recife antes do feriado de 7 de setembro para
reforçar a campanha petista. Em Salvador, é o PMDB que se ressente em ver Lula
ao lado de Nelson Pelegrino. Ou seja, o caldo está engrossando e pode ficar
indigesto para o governo.
Por falar em PMDB...
O líder o partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, passou os
dois últimos dias em jantares para tentar consolidar aliados em sua campanha
para presidir a Casa. Esse é o próximo lance do jogo político. Vale registrar
que, em tempos de mensalão no STF, Renan Calheiros, no Senado, e Henrique
Alves, na Câmara, vestiram a fantasia de abajur apagado para coletar votos sem
barulho. Os dois sabem que qualquer movimento brusco pode atrapalhar seus
planos. Mas essa é outra história.
Denise Rothenburg
Correio Braziliense
23 de agosto de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário