"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 21 de agosto de 2012

REMEMBER INGERSOLL


Dos States, recebo mensagem de Jeffrey Schmidt:
Splendid view. Your suggestions for one to read is narrow-minded. Where is your liberal recommendations for someone who reasons the , "freedom of religion is completely contingent on freedom from religion"?

I know I know, your intellectual interest is so much higher then so call Christians. You spend hours and hours reading the Bible, to clone German Baron d'Holbach: "It is only by dispelling the clouds and phantoms of Religion, that we shall discover Truth, Reason, and Morality".

A cada oportunidade q Vc tem, you’re demanding that others, adhere to your sense of esthetics, forcing your ideologies. Compreendo your lack of belief in gods, not having a sacred scripture, atheist Priest or Pope.

That's your belief, I respect that. The guy that embraces the Bible no sovaco, nao vai tentar fazer Vc trocar de camiseta. You should respect that. Mencionando o sovaco, sua intencao foi clara, derogatory statement.

Please, I know you're smarter then that. Humility is the paradox.

See ya, Jeff
Bom, meu caro Jeff, não vou recomendar obras que dizem ser a Bíblia um livro eivado de amor, escrita por um deus amoroso. Não vou recomendá-los por serem mentirosos. Esses livros existem aos montes, apesar das evidências de que a Bíblia é um livro cheio de ódio, discriminação, sangue, massacres, genocídios. Fico pasmo quando vejo leitores do Livro que nele não vêem as matanças ordenadas por Jeová. Ora, direis, Cristo veio para suavizar o texto brutal do Antigo Testamento. Suavizar umas ovas. Que promete Cristo para quem com ele não está? A danação eterna. Hitler pelo menos condenava os judeus apenas aos fornos crematórios e deixava a vida post-mortem ao critério de cada um.

Os livros que recomendo são todos calcados nos textos bíblicos. Nada a ver com o catecismo católico, que deturpa até mesmo os Mandamentos – e inclusive omite alguns – para adaptar a Bíblia à doutrina da Igreja. Se a Bíblia é um amontoado de textos incongruentes, isto não é problema dos autores que recomendo, mas dos escribas e editores bíblicos.

Sim, sou leitor da Bíblia, mas não despendo horas para lê-la. É o livro que mais consulto, é verdade, já que costumo escrever sobre temas religiosos. A partir de um certo momento de minha vida, apaixonei-me pelo estudo da história das religiões. É muito melhor que essa literatura que anda por aí. Pois a literatura não chega a propor uma ética, não impõe crenças nem padrões de comportamento. Enquanto que os costumes todos do Ocidente, bem ou mal, estão eivados de cristianismo. Lendo história das religiões, entendo melhor minha época. Obviamente, vou privilegiar a história do cristianismo, que é a religião predominante na geografia em que habito. Vivesse no Oriente Médio, estaria estudando o Corão.

Em minha biblioteca, tenho mais de dez bíblias, sendo duas no computador. E cerca de uns quinhentos livros sobre cristianismo, judaísmo e islamismo. Mais alguns poucos sobre budismo e hinduísmo. Não é muito. Representam apenas uns dez por cento de minha biblioteca. O setor de literatura marxista e história do comunismo é bem maior. Mas esta religião teve vida curta e já morreu. Continuo estudando a que permanece viva.

Os barões d’Holbach foram muitos na História. Entre eles, Voltaire, Jean Meslier, Nietzsche, Bertrand Russel. Nos Estados Unidos tivemos Robert Green Ingersoll (1833-1899), livre-pensador norte-americano, hoje pouco conhecido, mas grande orador e líder político norte-americano em sua época, notável por sua cultura e defesa do agnosticismo.

- Alguém tinha de dizer a verdade sobre a Bíblia – diz Ingersoll -. Os padres não ousariam, porque seriam expulsos de seus púlpitos. Professores nas escolas não ousariam porque assim, perderiam seus salários. Políticos não ousariam. Eles seriam derrotados. Editores não ousariam. Perderiam seus leitores. Comerciantes não ousariam. Perderiam seus clientes. Homens da alta sociedade não ousariam. Perderiam prestígio. Nem balconistas ousariam. Eles seriam dispensados. Então, decidi eu mesmo fazer isto.

- Há milhões de pessoas que acreditam que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus - milhões que crêem que este livro é um cajado e uma guia, conselheiro e consolador, que ele preenche o presente com paz e o futuro com esperança - milhões crêem que ele é a fonte da lei, da justiça e piedade, e que através de seus sábios e benignos ensinamentos o mundo conquistou sua liberdade, riqueza e civilidade - milhões que imaginam que este livro é uma revelação da sabedoria e amor de Deus na mente e coração do homem - milhões que têm neste livro como uma tocha que conquista a escuridão da morte e que derrama seu brilho numa outra vida - uma vida sem lágrimas.

- Eles esquecem sua ignorância e selvageria, seu ódio à liberdade, sua perseguição religiosa; eles lembram do céu mas esquecem as masmorras do sofrimento eterno. Eles esquecem que este livro aprisiona a mente e corrompe o coração. Esquecem que ele é inimigo da liberdade de pensamento.

Remember Ingersoll, um dos esquecidos precursores de Bart Ehrman e da recente safra de neoateus como Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris, Daniel Dennet. Estes autores, na verdade, estão apenas ampliando a trilha aberta pelo orador americano e o mais das vezes o repetem. O que hoje é quase unanimidade entre os estudiosos contemporâneos da Bíblia, foi aventado há mais de século por Ingersoll.

Você afirma: “The guy that embraces the Bible no sovaco, nao vai tentar fazer Vc trocar de camiseta”. Pelo jeito você nunca os viu. Nada conhecem do livro que portam sob o sovaco, mas pretendem-se os donos da verdade. Olham para ateus e demais crentes com comiseração. E fazem proselitismo 24 horas por dia. Até criancinhas se pretendem apóstolos. Certa vez, ao sair de um bar que ficava ao lado de uma igreja evangélica, fui cercado por um bando de criancinhas de Bíblia em punho. Queriam catequizar-me, os pivetes. Para eles, quem não trocar de camiseta está condenado ao fogo dos infernos.

Não sou proselitista, meu caro Jeff. Não peço a ninguém que adira às minhas convicções. Não forço a ideologia de ninguém. Ser ateu não é para qualquer um. Enfrentar o que chamo de a intempérie metafísica exige uma fortaleza de espírito que nem todo mortal possui. Ateísmo é postura de fortes, de homens que não choramingam como carpideiras diante da morte. Espíritos frágeis, melhor se abster.

Nunca pretendi roubar a fé de quem dela precisa para viver. Mas me reservo o direito de dizer o que penso sobre a cultura que me cerca.


21 de agosto de 2012
janer cristaldo

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