O mundo parou para conserto. Em meio à desaceleração econômica global, prossegue a guerra mundial por empregos. Tempos difíceis a exigir reflexões sobre o futuro da economia brasileira. De olho em americanos e europeus, há uma ilusão a ser evitada. E, de olho nos chineses, há que fugir de uma armadilha.
A ilusão é a de que basta dar crédito e transferir renda para garantir a prosperidade. Deflagramos à base do crédito popular e de programas sociais de transferência de renda o surgimento de um formidável mercado de consumo de massas.
A democratização do acesso ao crédito e as políticas públicas de redistribuição de renda são importantes ferramentas das modernas democracias liberais. Mas é fundamental evitar excessos, como os praticados tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, a ponto de ameaçar sua própria sustentabilidade.
A ilusão é a de que basta dar crédito e transferir renda para garantir a prosperidade
Do ponto de vista econômico, a prosperidade de um país é apenas outro nome para a produtividade de sua população. São duas faces de um mesmo fenômeno. A expansão do consumo de uma classe média emergente deve estar lastreada por aumentos de produtividade dos trabalhadores, sob pena de ter fôlego curto. Da mesma forma, a ampliação das transferências de renda e dos subsídios aos pobres é também financeiramente insustentável quando se descola desses aumentos de produtividade.
Vem daí a importância de investimentos maciços em educação e treinamento, ampliando capacitações e habilitações do trabalhador brasileiro, para sustentar o aumento contínuo de nossa produtividade. Estão em jogo a empregabilidade de nossa mão de obra e a vantagem competitiva de nossas empresas nos mercados globais.
E temos aqui a armadilha a ser evitada. Experimentamos flagrante processo de desindustrialização, enquanto disparam nossas importações. O capitalismo eurasiano, sem encargos trabalhistas e previdenciários, pode nos reduzir a um simples produtor especializado de commodities e também a um mercado de importações em massa.
Transformar nosso mercado de consumo de massa em um verdadeiro mercado de produção em massa é o grande desafio. E aqui, de novo, a importância crucial dos maciços investimentos em educação. Garantindo maior produtividade, mais empregos, melhores salários, competitividade industrial e prosperidade
Paulo Guedes
Fonte: O Globo, 03/09/2012
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