"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 4 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO PROIBIDA

 



Nem o último de Ricardo Darín, nem o novo Batman. Um dos filmes de maior recorde de público em Buenos Aires nas últimas semanas se chama A Educação Proibida, do diretor argentino Germán Doin.


Em pouco mais de duas semanas, foram 605 projeções independentes em cerca de 20 países, mais de 2,8 milhões de reproduções na web, 300 mil downloads e 55 mil fãs no Facebook (dados de domingo).

Tudo isso para um documentário de duas horas e meia sobre um tema que geralmente não dá grande bilheteria: a educação.

O diretor tem apenas 24 anos e o projeto foi todo financiado coletivamente por 704 pessoas que colocaram US$ 62.700 para viabilizar as mais de 90 entrevistas com educadores de oito países.

O filme mescla animação, dramatização com voz em off, entrevistas e uma história de ficção para questionar o atual sistema educativo no Ocidente. Criado há mais de 200 anos, mantém até hoje uma estrutura vertical, baseada na competição, divisão de idades, classes obrigatórias, currículos desvinculados da realidade e sistema de prêmios e castigos.

“Longe de responder às necessidades e desejos dos pequenos, a escola hoje é um estacionamento de crianças, onde elas ficam sendo adestradas até o momento de trabalhar. Se algum não se adapta ao sistema, fracassa. O que não se vê é que não é o estudante que fracassa, e sim o sistema que está mal pensado”, resume um dos entrevistados, o investigador chileno Carlos Muñoz.

O documentário também se propõe a discutir outros modelos de ensino – as experiências proibidas - como a logosofia, Montessori, Waldorf, Killpatrick e Paulo Freire, para citar alguns. Todos estão detalhados no site do filme, onde também se pode baixar o documentário ou vê-lo on line.

O diretor não defende nenhum método específico, somente pensar a educação retirando o professor e os conteúdos do centro da cena e colocando aí o aluno, com seus desejos e aptidões individuais. Esquecer a ideia de disciplina, autoridade e competência, e a substituir por respeito, liberdade e amor.

Em entrevistas ao jornal Página 12, Germán Doin afirma que tem duas teses para o sucesso do filme, uma pessimista e outra positiva. A primeira é que se trata de um fenômeno das redes sociais. A segunda, que há uma necessidade urgente de falar sobre educação.

No momento em que o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, instala um 0800 nas escolas públicas para denunciar atividades de cunho político entre os estudantes, não tenho a mínima dúvida sobre qual das duas opções está correta. O tema está na pauta. Por sorte.

Assista o trailer do documentário:




04 de setembro de 2012
Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília.

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