"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de setembro de 2012

O CAMINHO DA SERVIDÃO NA VENEZUELA

    
          Notícias Faltantes - Comunismo        
“O não-tão-sutil aspecto desse sistema é que o sistema biométrico está visivelmente conectado por um cabo à urna eletrônica, de modo à levantar suspeitas de que o voto não será secreto”.

Nos últimos treze anos a Venezuela tem se afastado da economia de mercado e tem tomado o caminho da economia socialista sob o comando de Hugo Chávez. E agora o futuro do socialismo venezuelano está na balança. Ou não? Alguns dias atrás conversei com Eric Ekvall, um consultor político americano que viveu e trabalhou na Venezuela desde as eleições de 1982 daquele país. Ekvall ajudou as campanhas eleitorais de alguns notáveis, tal como Jaime Ramón Lusinchi da Venezuela em 1983, Oscar Arias da Costa Rica em 1985 e Lula da Silva do Brasil em 1993. Eu perguntei para Ekvall sobre a tentativa de reeleição de um doente Hugo Chávez, principalmente por conta de ele estar como presidente daquele país nos últimos treze anos sem jamais ter deixado de dar andamento à construção do socialismo por lá. Dada a diminuição dos índices econômicos da Venezuela, como Chávez espera ser possível ganhar mais uma eleição?

A resposta, segundo Ekvall, é que Chávez trapaceia. “A primeira eleição que houve manipulação, segundo sabemos, foi a de 2004”, explicou Ekvall. “Um quinto da população basicamente assinou uma petição para instaurar um referendo de reavaliação política na cédula. Essa demanda foi adiada várias vezes e o governo usou todos os tipos de mecanismos para afastá-la tempo o bastante para que eles pudessem gastar milhões de dólares em urnas eletrônicas que nunca foram usadas na Venezuela até então; nós [venezuelanos] sempre fizemos votação por meio de cédulas como a maioria dos países do mundo...”
 
A importância das urnas eletrônicas tornar-se-á evidente para qualquer um que lembrar das palavras de Stálin em 1923: “Considero algo totalmente sem importância quem no partido vai votar, ou como; mas é de extraordinária importância quem vai contar os votos e como”. Essa citação vem do livro The Memoirs of the Former Secretary of Stalin, escrito por Boris Bazhanov após sua deserção em 1928.
 É um dos primeiros relatos dos métodos políticos soviéticos, que mostra como um ditador pode consolidar o poder. De acordo com Ekvall, o governo de Chávez também “foi aconselhado por seus conselheiros cubanos para apressar a implantação de uma série de grandes programas sociais: programas de educação de graça, programas de comida de graça e apelos às pessoas de baixa renda para inflar as murchas taxas de popularidade”. E qual a eficácia disso?
 
Diz Ekvall para que “voltemos para o referendo de 2004 [...] e cerca de 75% dos eleitores acabaram de votar e houve euforia nas ruas [...] pois o mandato [do Presidente Chávez] seria revogado [...] Institutos veteranos de pesquisa política dos EUA mostravam que o referendo havia passado por 59 a 41, mas para a surpresa de todos, o resultado oficial foi 59 a 41 – mas para o outro lado. Isso causou um clamor entre os políticos da oposição que basicamente chamara de ‘fraude’ o processo eleitoral”. Ao longo dos anos, os cientistas sociais estudaram o referendo de 2004 da Venezuela e mostraram que 22.5% dos votos foram modificados.
No último ano, seis estudos apareceram no periódico Statistical Science, confirmando os estudos anteriores. Na verdade, há evidências que Chávez tenha falsificado todos os resultados eleitorais da Venezuela desde 2004.
E agora, oito anos depois, a popularidade de Chávez continua a cair. Para combater isso, um crescente número de venezuelanos foi adicionado aos programas assistencialistas – sem sucesso.
 
Como Stálin também disse, “Gratidão é uma doença sofrida por cães”. Infelizmente para Chávez, o povo venezuelano não é cachorro. “Segundo pesquisas confiáveis” ressalta Ekvall, “o candidato opositor Henrique Capriles está a frente; então nós temos atualmente uma situação muito tensa na Venezuela”.
Capriles é um candidato atrativo e amável – um “rock star” político, diz Ekvall. “Chávez está literalmente na corda bamba” – Então como Chávez fraudará as eleições desta vez? O truque das urnas eletrônicas funcionará?
 
“Desta vez, o atual governo veio com um tipo de [...] proposta fraudulenta ‘visível a olho nu’” comentou Ekvall. “A fraude eleitoral [...] está já na cabine de votação. Quando se entrar para votar desta vez, o sujeito será confrontado com uma larga amostra de tecnologia como jamais foi vista por qualquer votante no mundo.
 
Primeiramente, será necessário se submeter a um aparato biométrico, depois será necessário o número da carteira de identidade nacional e, por fim, será necessário colocar o dedão em um scanner [...] assim o nome do votante aparecerá nome aparecerá e então será requisitado que se mova dois passos para a direita, onde há uma urna eletrônica, e só assim será possível votar em uma urna com tela sensível a toque.”
 
E como isso pode ser tido como fraude? Evkall responde: “O não-tão-sutil aspecto desse sistema é que o sistema biométrico está visivelmente conectado por um cabo à urna eletrônica, de modo à levantar suspeitas de que o voto não será secreto”.
 
O significado do voto secreto em um estado assistencialista pode ser esclarecido por meio da história recente da Venezuela. Evkall assinala que “durante a petição conduzida em 2004, o governo pegou os nomes de todos os cinco milhões de signatários. Eles foram colocados em uma lista negra.
Esses cinco milhões viram-se [...] em desvantagem quando se tratava dos créditos de assistência, empregos distribuídos pelo governo, empréstimos, empréstimos estudantis, qualquer coisa. Se você assinou a petição para revogar o mandato do presidente, você se tornou automaticamente um cidadão de segunda classe. Alguns chamaram isso de ‘O apartheid político da Venezuela”.
 
Eis um modo ardiloso de intimidar os eleitores. Segundo Ekvall, “As pessoas têm todos motivos para temer...” Eis um país onde o estado de bem-estar social é usado como cenoura, mas apenas para aqueles que consistentemente apoiam o governo. Se os leitores querem entender o que significa o socialismo e se ele é compatível com a liberdade, eles devem estudar o processo eleitoral venezuelano.
Os socialistas não apenas arruinaram a economia venezuelana, eles corromperam o sistema eleitoral e os próprios eleitores.
 
Será que a Venezuela se livrará do socialismo nas eleições do próximo mês? Ninguém sabe ao certo, mas Ekvall está preocupado. E para os demais, a Venezuela não é o único país a caminho da servidão.

Escrito por Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Júnior

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