"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de setembro de 2012

TEM RABO DE GATO. FOCINHO DE GATO. OLHOS DE GATO. PELO DE GATO. MIA COMO UM GATO. II: A PRESSA É INIMIGA DA OPINIÃO PÚBLICA

 

A indicação de Teori Zavascki para o Supremo Tribunal Federal tem quebrado recordes.

A presidente Dilma fez a indicação em sete dias.

O senador Renan Calheiros apresentou seu parecer - favorável, mas superficial - em 24 horas. Na democracia, porém, velocidade não é um fim em si.

É um instrumento para se atingirem valores caros à sociedade.

A Constituição aceita a velocidade em alguns casos. Pense-se, por exemplo, no poder que o presidente tem para editar medidas provisórias em casos de urgência. No mundo de hoje, há cenários - sobretudo na direção da economia - que exigem ações rápidas por parte do governo.

Nesses casos, a Constituição permite que o presidente se antecipe ao Congresso e legisle. Muitas vezes, resta aos parlamentares o papel de se manifestarem sobre fatos consumados.

Indicação de ministro do Supremo não é medida provisória.

Não há, a princípio, qualquer urgência. Em casos excepcionais, é possível que o próprio processo decisório do STF recomende que presidente e Senado trabalhem em conjunto para preencher, com rapidez, uma vaga no tribunal.

Pode ter sido o caso quanto à Lei de Ficha Limpa, quando a saída do ministro Eros Grau havia deixado o tribunal empatado em 5 x 5 e, logo, incapaz de dar uma resposta definitiva à sociedade.

No caso de Zavascki, porém, não parece haver qualquer demanda institucional que recomende uma aprovação acelerada.

O Senado tem todo o tempo necessário para cumprir, com seriedade, sua função de debater e decidir, de forma pública e transparente, se o indicado deve integrar a mais alta Corte do país. Aqui, a pressa é desmobilizadora.

Tira da sociedade a oportunidade de acompanhar o processo e conhecer a fundo o indicado e suas ideias. Com isso, restringe a legitimidade do processo.

A rapidez na indicação está dentro das prerrogativas da presidente da República. Mas, em contrapartida, aumenta a exigência em cima dos senadores.

Quanto mais rápida a decisão presidencial, mais cuidadosa e transparente deve ser a deliberação do Senado.

Diego Werneck Arguelhes O Globo

25 de setembro de 2012

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