Há parafusos soltos na máquina da Fundação Getulio Vargas. Em novembro de 2009, ela assinou com o Ministério das Comunicações um contrato para prestar serviços à Conferência Nacional de Imprensa, a Confecom, aquela que debateu a “criação de instrumentos de controle público e social” da imprensa. Coisa de R$ 2,7 milhões.
Os 1.600 delegados do conclave reuniram-se em Brasília em dezembro, foram saudados por Lula, aprovaram 633 sugestões e consumiram R$ 8 milhões da Viúva.
Mal a reunião terminou, o vice-presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores, Walter Ceneviva, disse que o desempenho da FGV comprometera a conferência com “uma quantidade de erros descomunal”.
Passaram-se quase três anos, e veio a encrenca. A repórter Andreza Matais informou que a Controladoria Geral da União quer saber o que a entidade fez com uma parte do dinheiro que recebeu. A saber:
• Cobrou R$ 438 mil para monitorar as conferências estaduais, mas 15 delas já haviam terminado quando o contrato foi assinado, duas estavam em curso, e nove aconteceram no dia seguinte.
• Recebeu R$ 390 mil para entregar um caderno com as propostas que seriam discutidas na reunião, e, segundo a CGU, ele só foi entregue quatro meses depois.
• Outros R$ 486 mil foram pagos para transmissões dos encontros em tempo real, o que não aconteceu.
Numa conferência inventada por Nosso Guia para discutir o comportamento da imprensa, nada melhor do que perguntar à FGV o que houve. Foi o que Matais fez. Recebeu a seguinte resposta, assinada pela assessoria de imprensa institucional da entidade, a Insight:
“A Fundação Getulio Vargas comunica que já prestou todos os esclarecimentos necessários ao Ministério das Comunicações em relação aos serviços prestados à Conferência Nacional de Comunicação, não cabendo, portanto, pronunciar-se sobre o assunto.”
Para uma notável instituição acadêmica que vive de fazer perguntas, fica mal o estilo “não é da sua conta”. Duas tentativas posteriores resultaram em parolagens insuficientes. Numa terceira, a FGV informou que monitorou todas as conferências estaduais, mesmo antes da assinatura do contrato, e sistematizou as propostas no devido tempo.
A transmissão nacional não teria ocorrido porque a Confecom mudou de ideia.
Portanto, a bola volta para a CGU. Tomara que ela continue no jogo, de forma pública.
A FGV meteu-se com a Confecom porque quis. Sua maior contribuição à busca da “criação de instrumentos de controle público e social” da imprensa foi a prática do mais primitivo dos mecanismos: a blindagem.
Há empresas que se blindam e há depoentes de CPIs que ficam em silêncio. É o jogo jogado, pois têm motivos para agir assim. A FGV vive do prestígio que acumulou em 68 anos de trabalho. Malbaratá-lo é maluquice.
14 de outubro de 2012
Elio Gaspari, O Globo
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