Helio Bicudo
afirma que só existe o poder e o não-poder. Esquerda e direita não existem mais.
Isso é logicamente uma tese absurda mas que na cabeça de um intelectual ganha um
fôlego: nos faz pensar.
Existem várias coisas assim que nos fazem pensar. Mais
tarde descobrimos que o que nos faz pensar nos faz distrair também. É quando
caímos na conversa dos intelectuais de esquerda. Helio Bicudo reclama dos
caminhos tomados por Lula e sua quadrilha. Mas Bicudo participou da caminhada
comunista anterior ao poder.
Nessa caminhada havia uma finalidade que
no estágio de poder ou governamental deveria desaparecer para dar livre curso à
sociedade, a verdadeira dona do seu destino, sem tutelas, como ele disse,
especialmente dos pobres, e sem o sentido finalístico dos governos ditatoriais.
No texto abaixo ficamos sabendo como é deletério e perigoso um governo que
constrange a sociedade para que ela obedeça a finalidades que não são suas e que
condiciona destinos aprioristicamente escolhidos, direcionados e finalísticos.
Isso é ditadura e totalitarismo.
Reproduzo abaixo
duas páginas do livro organizado por José Antônio Giusti Tavares e outros onde
se lê uma síntese do pensamento político de Michael Oakeshott. Lendo essas
páginas podemos avaliar bem o que Bicudo poderia ter dito. Ele, como
esquerdista, trotskista, crente na "ditadura do proletariado", talvez não
conheça bem o pensamento desse brilhante filósofo político inglês.
Leiam.
“Governar é uma atividade específica e limitada, a saber, a provisão e a guarda de regras gerais de conduta (...) A função do governo não consiste em impor outras crenças e atividades aos seus súditos, nem em tutorá-los, ou educá-los, torná-los melhores e mais felizes de modo diferente, dirigi-los, galvanizá-los para a ação, liderá-los ou coordenar sua atividades de modo que o conflito não possa ocorrer (...) A função do governo é resolver algumas colisões geradas pela variedade de crenças e de atividades e preservar a paz, não interditando a escolha e a diversidade que decorrem do exercício da preferência, nem impondo uma uniformidade substantiva, mas apenas sancionando regras gerais de procedimento iguais para todos o súditos (...) Em suma, a evidência de governo deve ser encontrada no ritual, não na religião ou na filosofia; no gozo do comportamento ordenado e pacífico, não na busca da verdade ou da perfeição.” (OAKESHOTT, p. 424-428)
“Governar (...) não concerne a pessoas
concretas, mas a atividades, e apenas à sua propensão de colidirem umas com as
outras. Não se preocupa com o bem ou o mal morais; não é concebido para fazer os
homens bons ou mesmo melhores.”
Diz TAVARES (in O TOTALITARISMO TARDIO: O CASO
DO PT, Ed. Mercado Aberto, Porto Alegre, 2000):
“Neste caso, a pedra de toque da sociedade
e da política é a diversidade de interesses, que se converte em pluralismo de
fins. Os indivíduos, os grupos e os partidos movem-se não apenas por interesses
particulares, mas por concepções particulares, alternativas, acerca do interesse
público. E o tema da política é a regulação e a negociação do conflito entre
interesses parciais e entre diferentes versões do interesse público, que
competem entre si pela direção do Estado, bem como a produção do consenso acerca
das regras, dos procedimentos, dos mecanismo e das instituições que viabilizam a
ordem pública”.
“Não é possível e, se possível, não seria
legítimo exigir que os homens concordem sobre fins; mas é possível, necessário,
e legítimo que indivíduos comuns acordem entre si acerca das regras do convívio
político".
"O domínio da política não é a revelação e
a realização de uma verdade teleocrática (finalística) única e unívoca, mas
simplesmente o estabelecimento de regras processuais que, consensualmente
acordadas, permitem a convivência ordenada entre os súditos, individuais e
coletivos, que se movem na direção de interesses e de finalidades particulares
diferentes, ou mesmo conflitivas, mas igualmente legítimas. Nos termos de
Oakeshott, a tarefa da política consiste em instituir “uma regra que assegure a
ordem sem dirigir o empreendimento”.
Digo eu, assim a nomocracia (o governo das
leis) é o governo ideal, muito diferente da teleocracia (o governo que dita e
exige fins últimos).
TAVARES adverte: “Ao contrário, a concepção
teleocrática reinvidica, para uma elite ou para uma organização política, o
monopólio do acesso à consciência antecipada de uma ordem social
latente, única e unívoca – que deverá ser trazida do reino da
virtualidade ao reino da atualidade como resultado final e inevitável da
história humana – do processo também único e unívoco, que conduzirá a sociedade
à realização dessa ordem. E aos portadores desse saber privilegiado, convertidos
em elite governante, reserva a tarefa de dirigir a humanidade comum, mergulhada
na falsa consciência, à consecução de fins últimos que, embora não se encontrem
quer na vontade quer mesmo na sua percepção, realizam estranhamente os seus
interesses reais. (...) Nesta perspectiva não há lugar quer para a pluralidade
de fins, quer para a diversidade de meios. Não há mesmo indiferença ou
neutralidade admissível. Versões alternativas, quer quanto a fins, quer quanto a
meios, constituem equívoco ou delito. O líder, o partido ou o Estado converte-se
no critério último de verdade e de ética, bem como no educador último das
consciências e das vontades (...)”.
Finalizo eu: Na normalidade democrática e
nomocrática o governo deveria se comportar como um guarda de trânsito que
controla o tráfego social sem impor uma direção ou outra aos diversos indivíduos
em movimento. Socialistas ou comunistas não conseguem fazer isso; sua obscessão
é do controle, do domínio, da vontade vertical. Para satisfazer essa ambição
egoística e perversa não temem as leis, mergulhando na corrupção gerando
criminalidade social. Helio Bicudo percebeu isso e caiu fora. Espero a hora em
que o povo brasileiro caia fora do lulo-petismo corruptor da alma e das
consciências.
14 de outubro de 2012
charles london
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