"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 14 de outubro de 2012

OS COM-MORAL

 




Derrotado no primeiro turno por Paulo Maluf, por 32,2% contra 22,9%, e com apenas 70 mil votos de frente sobre a terceira colocada Marta Suplicy, em 1998, Mario Covas virou o jogo e se reelegeu a partir de um mote único: moral.

Conseguiu em pouco mais de 20 dias mostrar que os fins não justificam os meios, que o “rouba, mas faz” não é bordão para eleitor algum se orgulhar. Dividiu a eleição em os com e os sem-moral.

A vitória de Covas desmente com fatos – algo que petistas não gostam muito – a declaração do ministro Gilberto Carvalho de que nunca se deu bem quem aposta no uso de temas morais.

Há 14 anos os tempos eram outros. Ainda que a contragosto de José Dirceu – que convocara a militância para derrotar Covas “nas urnas e nas ruas” – o governador recebeu o apoio de Marta e do PT, em nome de manter São Paulo longe da roubalheira.

Hoje, o PT de Lula posa sorridente nos jardins da mansão de Maluf para receber o apoio de quem Marta taxou como nefasto. Alia-se ao que há de mais retrógado na política - sarneys, collors e renans -, e ainda tem o desplante de colocar o conservadorismo na conta dos adversários.

Chama a Suprema Corte do país de tribunal de exceção. Oito dos 10 ministros do STF foram indicados por Lula e Dilma. E, certamente, o PT considera ingratidão que seis deles tenham acatado a denúncia de Roberto Gurgel, procurador-geral também nomeado por Lula e reconduzido por Dilma.

Pior. O PT reedita, de um jeito moderninho e com ares de nobreza, o jargão eternizado para Adhemar de Barros e plagiado para Maluf.

“A população tem sabedoria para entender que o que vale é a prática de um projeto que está mudando o Brasil”, disse Carvalho ao explicar por que “não é inteligente” usar o mensalão na campanha eleitoral.

Expõe, sem constrangimento, o raciocínio que norteou a voracidade com que o partido abocanhou o Estado. Os crimes não têm a menor importância. Foram cometidos em nome de um projeto, em nome do que o PT considera ser melhor para o povo.
Imoral? E daí?

Safo, o ministro não quer é ver campanhas a mostrar os responsáveis por corrupção, peculato, uso de dinheiro público para comprar parlamentares, desrespeitando o eleitor.

Assim como já vem fazendo ao demonizar as transmissões ao vivo do julgamento, ao desacatar o STF e culpar a imprensa pelas condenações de seus ícones, o PT fará de tudo para o eleitor ignorar a gravidade dos atos de seu governo. Quer manter o tema distante do povo.

Apostam na ignorância. Um trunfo que deixaria qualquer um envergonhado. Mas nunca o PT, que já mostrou que faz qualquer coisa para vencer. Como diz Carvalho, vale tudo.

14 de outubro de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.

 

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