"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"A LUTA PELO CÉREBRO VERMELHO"

Quando o eloquente Adlai Stevenson disputava a presidência dos EUA com Dwight Eisenhower, uma mulher entusiasmada disse ao candidato Democrata, depois de um comício: “Todo ser pensante vai votar em você”, ao que Stevenson supostamente respondeu: “Senhora, isso nao é suficiente. Preciso da maioria”.

O filósofo David Hume reconheceu três séculos atrás que a razão é escrava da emoção, e não o contrário.

No livro “O Cérebro Político” (editora Unianchieta), que nao por acaso é prefaciado pelos agora ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo, o neurocientista norte-americano Drew Westen, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Emory, e que também trabalhou como conselheiro de marketing em campanhas presidenciais do Partido Democrata, mostra como funcionam os circuitos neurais que controlam as emoções e as decisões dos eleitores.

Drew fala em experiências científicas comprovadas, e não trata a emoção como qualquer espécie de sentimentalismo rasteiro. A emoção não é tango. É ciência.

Drew parte dos estudos do neurocientista português Antonio Damásio, que dissecou o papel da emoção e da razão no cérebro humano, e trabalhou para comprovar tudo em experiências laboratoriais conduzidas através de ressonância magnética, que mapeou as áreas do cérebro e o funcionamento dos respectivos circuitos neurais.

Para facilitar o entendimento, Drew simplificou dividindo o córtex pré-frontal do cérebro em duas áreas, o “cérebro vermelho”, no centro do córtex, onde se localizam os circuitos emocionais, e o “cérebro azul”, na periferia do córtex, onde se localizam os circuitos racionais.

Resumindo um pouco grosseiramente: numa campanha política, quem trabalha para ativar os circuitos do “cérebro vermelho” tem mais chance de sucesso de quem trabalha para ativar os circuitos do “cérebro azul”.

Afirma Drew: “O cérebro gravita em torno de soluções concebidas para corresponder não apenas a dados, mas a desejos, por disseminação da ativação de redes que levam a conclusões associadas a emoções positivas, inibindo redes que levariam a emoções negativas”.

Em outras palavras: o cérebro de quem tem um partido político definido descarta as chamadas “emoções negativas” e tende a ativar apenas as emoções positivas já previamente definidas.
Assim, os petistas descartariam o mensalão, como se não tivesse existido, como os tucanos descartariam seus supostos escândalos ou a quebra da promessa de Serra de permanecer na prefeitura durante os 4 anos de mandato,como se também nao tivessem existido.

Discussões racionais sobre os temas não influenciam decisões no “cérebro vermelho”.
Assim, quem é petista permanece petista, quem é tucano permanece tucano, e é no centro flutuante e indefinido que os marqueteiros vão buscar aprisionar o “cérebro vermelho” que define quem ganha a eleição.

26 de outubro de 2012
Sandro Vaia

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