Porto inseguro
O pior da tormenta parecia superado pelo PT. O julgamento do mensalão se encaminhava para um anticlímax, após as pesadas penas de prisão para alguns líderes seus já em marcha para o ostracismo.
Mesmo no auge, o processo no Supremo Tribunal Federal sobre desvio de dinheiro público para insuflar a base parlamentar do primeiro governo Lula afetou pouco o desempenho eleitoral do partido.
O PT colheu bom resultado nos pleitos municipais, dadas as circunstâncias, com a vitória em São Paulo. A popularidade da presidente Dilma Rousseff não se abalou.
A Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, no entanto, veio varrer as expectativas de calmaria. Revelou uma rede de venda de pareceres sob encomenda que operava a partir do escritório da Presidência da República em São Paulo.
Mais que o surgimento na investigação de assíduos frequentadores desse gênero de noticiário, como o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), ontem condenado pelo STF a mais de sete anos de prisão) e o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), a operação pôs na berlinda dois nomes bem menos conhecidos -e bem mais prejudiciais para a bonança petista: Rosemary Novoa de Noronha e José Weber Holanda Alves.
A primeira tem estreita ligação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a instalou na representação paulistana da Presidência, e com o protagonista do mensalão, José Dirceu, para o qual trabalhou por vários anos.
Dos serviços de secretaria ela saltou para a condição de czarina do escritório, de onde articulou até a nomeação de diretores de agências reguladoras como a ANA (águas) e a Anac (aviação civil).
Tal proximidade não contribui para tornar aceitável a versão fantasiosa de que o condenado Dirceu foi vítima de perseguição política e de que o mensalão foi uma farsa, os motes da delirante proposta de levar as massas às ruas contra a decisão do STF.
Tampouco ajuda Lula. O ex-presidente nunca aposentou o apetite pelo poder nem a disposição de candidato (se depender do marqueteiro João Santana, a governador de São Paulo em 2014).
Dilma Rousseff mais uma vez se livrou sem hesitação de companheiros locupletados, ainda que no terceiro escalão. A nova espadana derrubou José Weber Holanda Alves, braço direito do advogado-geral da União herdado de Lula, Luís Inácio Adams, o qual vê fazerem água suas chances de chegar à Casa Civil ou ao STF.
O mensalão e mais este escândalo emborrascam o velho PT de Lula e Dirceu, mas para Dilma podem trazer mais vento na popa. Basta-lhe exibir firmeza no timão.
27 de novembro de 2012
Editorial da Folha de S. Paulo
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