"Chegou a hora da verdade para Lula e o PT! É preciso ter a grandeza de vir a público para tratar francamente tanto do caso do mensalão como do esquema de corrupção denunciado pela Operação Porto Seguro, a partir do escritório da Presidência da República em São Paulo, pois não podemos eternamente apenas culpar os adversários pelos males que nos afligem. Isso não resolve."
(Ricardo Kotscho, ex-secretário de Imprensa do primeiro governo Lula)
A cobrança bem-intencionada, mas um tanto ingênua de Kotscho terá o mesmo destino daquela formulada por Tarso Genro, ministro do governo Lula em meados de 2005. Na época, o mensalão denunciado por Roberto Jefferson arrastava reputações morro abaixo, como a chuva costuma fazer no Rio de Janeiro entre dezembro e janeiro. Ou de repente.
Por duas vezes, pelo menos, cercado de poucos amigos e sob o efeito de algumas doses de álcool a mais, Lula ameaçara renunciar à presidência da República.
Marcos Valério, um dos operadores do mensalão, mandara dizer que estava disposto a contar tudo - salvo se fosse socorrido com uma quantidade razoável de dinheiro.
- É preciso refundar o PT - conclamou Tarso, hoje governador do Rio Grande do Sul.
José Dirceu havia perdido a chefia da Casa Civil, mas ainda conservava o mandato de deputado federal e o prestígio dentro do partido que ajudara a montar.
O que Tarso sugeriu pintava como uma nota de pé de página na história futura do PT.
Por decisão de Lula, Tarso largou o ministério da Educação para substituir interinamente José Genoino na presidência do PT. Instalou-se ali no início de julho de 2005.
Seu trato com Lula: transferir de setembro para o primeiro trimestre de 2006 a eleição do novo comando do PT. E livrar-se de Dirceu, que seria cassado pela Câmara.
Cinquenta dias depois, Tarso abdicou da missão que Lula lhe confiara. Poucas boas almas haviam comprado a ideia de refundar o PT.
Dirceu, por exemplo, não comprara. E mais: garantira que jamais deixaria o Diretório Nacional do PT como era desejo de Tarso. Mais do que desejo: condição para que Tarso entrasse 2006 à frente do PT.
O gato comeu a refundação do PT e nunca mais se falou dela.
Como refundar o PT se o partido nada fizera de mais?
Mensalão? Mentira de Jefferson! Caixa 2, isso sim, como antecipara Lula, orientado por Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça e sujeito esperto.
Que partido não se valia de Caixa 2 para financiar despesas de campanha?
"Como na Inquisição, nós fomos para a condenação. Não era para ter julgamento", provocou Dirceu esta semana, entre uma e outra manifestação de desagravo a ele animada por militantes do partido.
Antes de Dirceu dizer o que disse, Lula dissera: "Não serão juízes que escreverão o último capítulo da minha biografia. Mas o povo".
Algum sinal de que Dirceu e Lula possam escutar o conselho de Kotscho? Sim, sei... É claro... Compreendo...
O estatuto do PT determina a expulsão de filiados que tenham sido julgados e condenados em última instância. Os mensaleiros foram. A direção do partido adiantou que mesmo assim não serão expulsos. Ora, por que não?
Simples: porque o PT não dará a ninguém, nem mesmo à mais alta Corte de Justiça do país, o gostinho de admitir que os seus mais notáveis membros são criminosos.
Não tem como impedi-los de ir para a cadeia, é verdade. Mas tem como impedi-los de ser expulsos. Basta rasgar uma das páginas do seu estatuto. Sem dramas.
Lula não obrigou o Senado a rasgar uma das páginas do seu regimento interno?
Estava lá na página: se o Senado rejeita para qualquer cargo a indicação de um nome feita pelo presidente da República, o nome não pode mais ser apreciado.
O Senado rejeitou em dezembro de 2010 o nome de Paulo Vieira para a Agência Nacional de Águas (ANA).
Em abril do ano seguinte, contra um parecer da Comissão de Constituição e Justiça, o Senado aprovou o nome de Paulo Vieira. Por insistência de Lula. Que por sua vez se rendera à insistência de Rosemary Noronha, chefe do gabinete da presidência da República em São Paulo, acostumada a se apresentar como se fosse namorada dele.
Anote aí: favorecida por Lula, Rose empregou Paulo, Ruben, irmão de Paulo, o ex-marido dela, o atual marido, a filha, e sabe-se mais quem...
Juntou empresários interessados em negócios com governadores interessados em empresários. Fez lobby em favor do presidente do Banco do Brasil. Em troca ganhou presentes, respeito e medo.
Se todo mundo achava que ela namorava Lula, se ela só viajava com ele ao exterior quando dona Marisa não ia, se muitas vezes seu nome era omitido da lista normal de passageiros, se visitava Lula na cabine do avião presidencial e depois avisava aos convidados para deixá-lo descansar - quem se arriscaria a ignorá-la? Ou a enfrentá-la?
O PT foi capaz de levar sete anos negando por todos os santos a existência do mensalão. Admitirá que o mensalão existiu e que Rosemary pintou e bordou com Lula?
A Nau dos Insensatos - xilogravura, Sebastian Brant, 1549
Bola pra frente.
06 de dezembro de 2012
Ricardo Noblat
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