A TRISTEZA DE COSTA REGO
MARECHAL DEODORO (ALAGOAS) – Caminhando sobre as pedras multicentenárias desta cidade fundada em 1611 com o nome de Vila Madalena de Sumauna, onde acaba de realizar-se uma bela festa literária, a IIIª FLIMAR (contarei minuciosamente na próxima sexta-feira), vou lembrando historias de velhos personagens, como Costa Rego e Graciliano.
Em 1930, Júlio Prestes e Costa Rego foram exilados por Vargas para a França.
Numa tarde de neve à beira do Sena, Costa Rego inconsolável:
- Olhe, Júlio, eu entendo que você esteja aqui. Afinal de contas, você foi o candidato à presidência da República. Eles não iam querer deixá-lo lá. Mas eu, político de Alagoas, não era ameaça nenhuma. Não me conformo.
- Não se conforma, por quê? Todo mundo dizia que você ia ser meu ministro da Justiça. É verdade que eu nunca tinha pensado nisso.
- Ora, Júlio, por que você está dizendo isto, nesta tarde tão fria, tão triste? Não custava nada ser amável agora.
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EDUARDO GOMES
O brigadeiro Eduardo Gomes ia chegar naquele dia a Maceió, candidato à presidência da República pela UDN. O governador Silvestre Pericles, do PSD, foi para a varanda do palácio e ficou olhando para cima.
Quando o avião apareceu no canto do céu, Silvestre deu dois passos para trás, pôs-se em posição de sentido, estirou o braço direito, segurou ao meio com a mão esquerda e começou a dar imensas bananas para o infinito.
O avião vinha vindo, voando e roncando, cada vez mais baixo, e Silvestre já de braço cansado. Sua mãe, dona Constância, que morava com ele, o chamou lá dentro. Foi logo. Mas antes ordenou ao oficial de gabinete:
- Continua dando banana para aquele avião, até ele descer, que eu vou lá dentro ver o que é que minha mãe quer.
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GETULIO VARGAS
Seu Calazans, dono do hotel Calazans, era o homem mais rico de Penedo. Getúlio ficou lá na campanha eleitoral de 1950. Depois do comício, o povo queria falar com Vargas, pedir dinheiro. O senador Hidelbrando Falcão, chefe político de Penedo, resolveu afastar o povo dali:
- Minha gente, o doutor Getúlio está cansado, foi repousar. E não é direito vocês pedirem dinheiro a ele. Amanhã, logo que ele viajar, Seu Calazans distribuirá um dinheiro que ele vai deixar para vocês.
Seu Calazans teve que ir passar uma temporada em Maceió. Ninguém convenceu o povo de que ele não tinha ficado com o dinheiro.
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GRACILIANO RAMOS
Solto na ditadura de Vargas, Graciliano foi para a casa de Jose Lins do Rego. No dia seguinte, Zé Lins levou-o ao Ministério da Educação para agradecer a Gustavo Capanema o pedido que havia feito a Getúlio para libertá-lo. Foram, estiveram com Capanema. Na saída, Zé Lins estava feliz:
- O que é bom neste país é isto. Há algumas horas você estava num cárcere da Ilha Grande e agora acaba de ser recebido sem marcar audiência
- O que você esta dizendo é verdade. Mas não esqueça que também pode acontecer o contrário. Pode alguém estar aqui, na cadeira de Ministro, e horas depois estar trancafiado lá na Ilha Grande. Isto sim é que é Brasil.
E foi escrever as clássicas “Memórias do Cárcere”.
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JOEL SILVEIRA
Graciliano conversava com o sergipano Joel Silveira:
- Olhe, Joel, descobri o mal do Brasil. É não ter um golfo. O golfo é o nosso problema, Todo país do mundo que se respeita tem golfo. Os Estados Unidos têm o golfo do Alaska, a União Soviética os golfos do Polo Norte. Até o Vietnã tem o golfo de Tonkim. No mundo antigo, a Pérsia só foi importante porque tinha o Golfo Pérsico. Nós não temos golfo nenhum.
- E não podemos fazer nada, Graciliano.
- Podemos, sim, Joel. Podemos arranjar um golfo. É só cavar Alagoas e Sergipe e jogar no mar e teremos um golfo espetacular. Um dos maiores do mundo. Daí em diante estarão solucionadas todas as nossas angústias.
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JAMES AMADO
Graciliano Ramos ao genro James Amado:
- A Revolução Socialista não foi feita no Brasil por causa do português. Pichavam nos muros o slogan de Marx: – “Trabalhadores do mundo, uni-vos”! Mas quem pichava e quem lia não sabia o que era “uni-vos”.
04 de dezembro de 2012
Sebastião Nery
- Olhe, Júlio, eu entendo que você esteja aqui. Afinal de contas, você foi o candidato à presidência da República. Eles não iam querer deixá-lo lá. Mas eu, político de Alagoas, não era ameaça nenhuma. Não me conformo.
- Não se conforma, por quê? Todo mundo dizia que você ia ser meu ministro da Justiça. É verdade que eu nunca tinha pensado nisso.
- Ora, Júlio, por que você está dizendo isto, nesta tarde tão fria, tão triste? Não custava nada ser amável agora.
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EDUARDO GOMES
O brigadeiro Eduardo Gomes ia chegar naquele dia a Maceió, candidato à presidência da República pela UDN. O governador Silvestre Pericles, do PSD, foi para a varanda do palácio e ficou olhando para cima.
Quando o avião apareceu no canto do céu, Silvestre deu dois passos para trás, pôs-se em posição de sentido, estirou o braço direito, segurou ao meio com a mão esquerda e começou a dar imensas bananas para o infinito.
O avião vinha vindo, voando e roncando, cada vez mais baixo, e Silvestre já de braço cansado. Sua mãe, dona Constância, que morava com ele, o chamou lá dentro. Foi logo. Mas antes ordenou ao oficial de gabinete:
- Continua dando banana para aquele avião, até ele descer, que eu vou lá dentro ver o que é que minha mãe quer.
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GETULIO VARGAS
Seu Calazans, dono do hotel Calazans, era o homem mais rico de Penedo. Getúlio ficou lá na campanha eleitoral de 1950. Depois do comício, o povo queria falar com Vargas, pedir dinheiro. O senador Hidelbrando Falcão, chefe político de Penedo, resolveu afastar o povo dali:
- Minha gente, o doutor Getúlio está cansado, foi repousar. E não é direito vocês pedirem dinheiro a ele. Amanhã, logo que ele viajar, Seu Calazans distribuirá um dinheiro que ele vai deixar para vocês.
Seu Calazans teve que ir passar uma temporada em Maceió. Ninguém convenceu o povo de que ele não tinha ficado com o dinheiro.
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GRACILIANO RAMOS
Solto na ditadura de Vargas, Graciliano foi para a casa de Jose Lins do Rego. No dia seguinte, Zé Lins levou-o ao Ministério da Educação para agradecer a Gustavo Capanema o pedido que havia feito a Getúlio para libertá-lo. Foram, estiveram com Capanema. Na saída, Zé Lins estava feliz:
- O que é bom neste país é isto. Há algumas horas você estava num cárcere da Ilha Grande e agora acaba de ser recebido sem marcar audiência
- O que você esta dizendo é verdade. Mas não esqueça que também pode acontecer o contrário. Pode alguém estar aqui, na cadeira de Ministro, e horas depois estar trancafiado lá na Ilha Grande. Isto sim é que é Brasil.
E foi escrever as clássicas “Memórias do Cárcere”.
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JOEL SILVEIRA
Graciliano conversava com o sergipano Joel Silveira:
- Olhe, Joel, descobri o mal do Brasil. É não ter um golfo. O golfo é o nosso problema, Todo país do mundo que se respeita tem golfo. Os Estados Unidos têm o golfo do Alaska, a União Soviética os golfos do Polo Norte. Até o Vietnã tem o golfo de Tonkim. No mundo antigo, a Pérsia só foi importante porque tinha o Golfo Pérsico. Nós não temos golfo nenhum.
- E não podemos fazer nada, Graciliano.
- Podemos, sim, Joel. Podemos arranjar um golfo. É só cavar Alagoas e Sergipe e jogar no mar e teremos um golfo espetacular. Um dos maiores do mundo. Daí em diante estarão solucionadas todas as nossas angústias.
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JAMES AMADO
Graciliano Ramos ao genro James Amado:
- A Revolução Socialista não foi feita no Brasil por causa do português. Pichavam nos muros o slogan de Marx: – “Trabalhadores do mundo, uni-vos”! Mas quem pichava e quem lia não sabia o que era “uni-vos”.
04 de dezembro de 2012
Sebastião Nery
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