Esta é a Universidade de Constantine, em Argel, na Argélia. A obra, independentemente do ambiente político que a cerca, que não é bom, é a prova do que pode o gênio humano. Foi projetada por Oscar Niemeyer e é, na minha opinião, um de seus mais belos trabalhos.
Mas…
Mas há os fatos. E não me importo em instruir os ignorantes. As reportagens das TVs e dos portais estão fazendo do “comunismo” de Niemeyer uma dimensão de sua generosidade. Como sabemos, ele achava Stálin um “líder fantástico”.
A partir de 1930, o dirigente soviético promove a coletivização forçada do campo. Isso implicava, como política de estado, a destruição dos “kulaks como classe”, a saber: dos camponeses que ainda eram proprietários de terras. Não, nem se tratava de latifundiários: era gente que produzia para a sua sobrevivência e que vivia da venda do excedente.
O principal alvo foram as terras férteis da Ucrânia. Stálin, o grande humanista de Niemeyer, decretou a expropriação de toda a produção rural e a coletivização da terra.
Os camponeses resistiram. Morreram assassinadas ou de fome, nesse período, entre cinco milhões e sete milhões de pessoas. Segundo Niemeyer, “a revolução era mais importante”.
Abaixo, reproduzo um trecho da página 70 do livro “Stálin – A Corte do Czar Vermelho”, do respeitado historiador Simon Sebag Montefiore (Companhia das Letras). Vão se instruir, vagabundos!!! Era este homem que Niemeyer cultuou até o fim da vida como exemplo do humanismo comunista. Depois do texto, algumas fotos.
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Em janeiro de 1930, Molotov planejou a destruição dos kulaks, que foram divididos em três categorias: “primeira categoria [...] a ser eliminada imediatamente”; a segunda deveria se aprisionada em campos de trabalho; a terceira, 150 mil famílias, deveria ser deportada. Molotov supervisionava os esquadrões da morte, os trens, os campos de concentração, como um comandante militar. Entre 5 e 7 milhões de pessoas caíram nas três categorias. Não havia maneira de selecionar um kulak (…).
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Em janeiro de 1930, Molotov planejou a destruição dos kulaks, que foram divididos em três categorias: “primeira categoria [...] a ser eliminada imediatamente”; a segunda deveria se aprisionada em campos de trabalho; a terceira, 150 mil famílias, deveria ser deportada. Molotov supervisionava os esquadrões da morte, os trens, os campos de concentração, como um comandante militar. Entre 5 e 7 milhões de pessoas caíram nas três categorias. Não havia maneira de selecionar um kulak (…).
Durante 1930-31, cerca de 1,68 milhão de pessoas foram deportadas para o Leste e o Norte.
Em poucos meses, o plano de Stálin e Molotov levara a 2.200 rebeliões envolvendo mais de 800 mil pessoas. Kaganóvicth e Mikoian comandaram expedições ao campo com brigadas de soldados da OGPU e trens blindados como se fossem senhores da guerra.
Suas cartas manuscritas a Stalin estão marcadas pela emoção fraternal de sua guerra, pelo aperfeiçoamento humano contra os camponeses desarmados: “Tomando todas as medidas quanto a alimentos e grãos”, relatou Mikoian a Stálin, citando a necessidade de acabar com os “sabotadores”: “Enfrentamos grande resistência [...]. Precisamos destruir a resistência”.
No álbum de fotografias de Kaganóvitch, o vemos indo para a Sibéria com o seu pelotão armado de facínoras de jaqueta de couro interrogando camponeses, investigando suas pilhas de feno, descobrindo os grãos, deportando os acusados e avançando novamente, exausto, caindo no sono entre paradas.
“O trabalho de Molotov é realmente duro e muito cansativo”, contou Mikoian a Stálin: “O volume de trabalho é tão vasto que precisa de cavalos-vapor”.
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Voltei
Stálin era tão obcecado pelos campos de concentração que andava com uma caderneta no bolso, que trazia a sua localização, quantidade pessoas etc. A inteligência não é incompatível com a canalhice intelectual. O escritor Máximo Gorki, comunista de carteirinha, visitou alguns em companhia do grande líder.
Abaixo, fotos dos corpos que os homens de Stálin foram deixando por onde passavam no processo de coletivização da agricultura. Retomo depois.
Na foto abaixo, os homens de Stálin em ação nas terras férteis da Ucrânia, com seus comboios que iam sequestrando a produção agrícola. A ordem, a depender da área, era não deixar com os camponeses nem mesmo o suficiente para a sua subsistência. Matá-los de fome era uma determinação. Como é mesmo, Niemeyer: “A revolução era mais importante”.
Aqui, mais uma obra de Niemeyer: a Catedral de Brasília. Por isso separei o gênio do idiota; por isso separei o homem que celebrava a vida do homem que celebrava a morte. Sou um humanista.
Perguntem a Ricardo Boechat o que ele pensa a respeito. Perguntem a outros de sua espécie o que há de grandioso e heroico em tudo isso.
Se Niemeyer admirasse Hitler, certamente não tentariam salvar do lixo nem mesmo a sua obra.
Stálin só viria a ser superado em cadáveres por outro dos heróis do arquiteto: Mao Tsé-tung. O bigodudo matou uns 40 milhões. O tirano chinês quase dobrou a aposta: 70 milhões.
Ninguém quer tocar no assunto? Eu toco. Vejam de novo a catedral e o que pode o gênio humano. Niemeyer fez uma bela catedral sem acreditar em Deus.
Não era preciso crer para ser bom. Niemeyer, no entanto, acreditava em Stálin e seus métodos.
E eu lembrei as duas coisas.
08 de dezembro de 2012
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