Alguém que entra armado numa escola, metido em um casaco à prova de balas, de posse de quatro armas de fogo, dispara mais de 100 vezes, mata cerca de 30 pessoas, entre elas de 18 a 20 crianças, e depois se mata, só pode ser doente.
Com toda a certeza é doente. Um doente tão grave que antes de sair de casa matou o pai, e que na escola foi direto à sala onde a mãe dava aula e a matou. Em seguida atirou nos 18 alunos dela.
Gente doente assim existe por toda parte, infelizmente. Embora apenas nos Estados Unidos esse tipo de tragédia costume se repetir com uma regularidade espantosa.
Desde a chacina de Columbine, em 1999, onde 12 crianças e um professor foram mortos, ocorreram 18 episódios semelhantes nos Estados Unidos, quatro a mais que em todo o resto do mundo, segundo o jornal espanhol El País.
O que explica tantas mortes absurdas é a combinação perversa de uma série de razões - algumas delas históricas. Os americanos são individualistas por excelência. Ocuparam espaços ermos quando colonizaram o atual território onde vivem.
Como não contavam com proteção, nem acreditavam que governos incipientes fossem capazes de protegê-los, se armaram. E nunca mais se desarmaram.
O direito a ter uma arma virou até artigo da Constituição. Alastrou-se a cultura da violência, presente em todas as formas de manifestação. Nenhum país do mundo foi mais à guerra nos últimos 200 anos do que os Estados Unidos.
Arma e voto ali são parentes próximos. A indústria das armas é uma das maiores doadoras de dinheiro para campanhas eleitorais. Financia igualmente os partidos Republicano e Democrata.
Candidatos a a cargos eletivos não ousam enfrentá-la. Ou se beneficiam dela ou se calam. Somente este ano, 16.800.000 armas form vendidas, segundo o organismo que controla tal tipo de comércio. Não há controle sobre cerca de 40% das armas comercializadas.
Entre 2006 e 2011, a venda de escopetas cresceu cerca de 30%. No ano passado, de 14 mil assassinatos cometidos nos Estados Unidos, 10.000 o foram por armas de fogo. Em 2009, armas de fogo mataram por acidente 600 pessoas. Delas se valeram naquele ano 19 mil suicidas.
A ocorrência de tragédias como a de hoje em Connecticut não tem contribuído minimamente para endurecer as regras que orientam a venda de armas nos Estados Unidos. Pelo contrario. As regras têm amolecido. Há Estados onde ja é permitida a exibição de armas em locais públicos. E dentro de carros.
Um Obama com a voz embargada falou há pouco na tv solidário com os pais que perderam seus filhos. É só o que ele parece disposto a fazer.
14 de dezembro de 2012
in ricardo noblat
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