Meu nome é Carlos Frederico em homenagem ao seu mentor. Sugestão infeliz do
meu avô, lacerdista empedernido. Se dependesse de mim, meu nome seria Leonel. Em
relação a sua coluna no Estadão de 14/4/2009 tenho algumas observações a fazer.
Tenho 40 anos, portanto não faço parte da atual geração a que a senhora se refere, certamente integrada por jovens impúberes que não conhecem a história pátria. Eu, ao contrário, a conheço em profundidade.
Sei muito bem que a quartelada de 1º de abril de 64 foi um sórdido golpe militar com a finalidade de depor um presidente constitucional que teve seus poderes esbulhados em agosto de 61, e que os recuperou legitimamente pelo voto do povo no plebiscito de 6/1/1963, derrotando fragorosamente o parlamentarismo ilegítimo imposto ao país depois da renúncia do presidente que o seu guru político, o “corvo” imortalizado pela caricatura de Lan, Carlos Frederico Werneck de Lacerda, ajudou a eleger em 1960 (“Jânio foi a UDN de porre”, dizia Afonso Arinos de Melo Franco). Engraçado, o político de Vassouras ajudou a eleger o candidato da “vassoura”.
Sei também que seu líder foi um golpista desavergonhado e descarado em 50, 55, 64 e a vida inteira. Elegeu-se governador da Guanabara em 60, derrotando Sérgio Magalhães por míseros 25.000 votos, só ganhando devido à existência da candidatura de Tenório Cavalcanti, que dividiu o eleitorado pobre. Por coerência, não deveria ter assumido o cargo, tendo em vista que não obteve a maioria absoluta que tanto propalava.
Depois, só acumulou derrotas na Guanabara, como a eleição de Elói Dutra, do PTB, para o cargo de vice-governador da Guanabara, a espetacular vitória de Brizola para deputado federal pela Guanabara em outubro de 62, e a mais saborosa das derrotas do lacerdismo, a de 65 para Negrão de Lima, seu odiado inimigo.
Amaral Peixoto recorda que o “corvo” mandou arrancar até os aparelhos telefônicos do Palácio Guanabara antes da posse de Negrão. Isto sem falar na censura à imprensa na Guanabara, quando da crise da legalidade em agosto de 61, os sempre renovados apelos para que a Aeronáutica destituísse pela força JK e Jango, presidentes eleitos legitimamente pelo eleitorado, o apoio dado aos levantes fascistas de Jacareacanga e Aragarças etc.
Era um adepto da ditadura, desde que ele fosse o Presidente, o chefe e estivesse sempre no comando e no poder. Não sabia conviver com a oposição. Entretanto, apelou aos antigos adversários para que compusessem a frente ampla, que nada mais era do que uma tentativa de Lacerda chegar ao poder manipulando politicamente setores que lhe eram hostis.
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UMA ARMADILHA
JK e Jango caíram na armadilha lacerdista, mas Brizola não. Se Brizola, como governador do RS, conseguiu evitar o golpe em 61, dividindo, pela primeira e única vez, o Exército Brasileiro, ficando no Palácio Piratini com sua família, mesmo depois de saber que o General Orlando Geisel, chefe de gabinete do então Ministro da Guerra Odílio Denys, havia ordenado o bombardeio da sede do Governo gaúcho pelos aviões da FAB, evidentemente teria evitado a quartelada caso ocupasse algum Ministério do governo Jango, o qual renunciou, apesar dos apelos de Brizola para que resistisse.
A coragem pessoal de Brizola, e sua disposição individual para o próprio sacrifício, eram insanas, como provam os acontecimentos do final de agosto de 61. Só mesmo uma coragem de louco para fazer o que ele fez na campanha da legalidade.
A maior prova de que Goulart não tinha intenções continuístas foi o fracasso do dispositivo militar do General Assis Brasil. O Presidente poderia ter reagido, mas não o fez por não dispor de um esquema militar que lhe proporcionasse o contragolpe. O impedimento legal para a candidatura de Brizola em 65 não implica que ele estivesse preparando um golpe.
O que ele pretendeu com a organização dos grupos de onze foi exatamente ter alguma estrutura para reagir ao golpe iminente que a direita estava preparando e que efetivamente concretizou. Seu mestre sempre pretendeu ocupar o poder ilegitimamente, seja forçando o suicídio de Vargas em 54, seja tentando impedir a posse de JK eleito, com o absurdo argumento da maioria absoluta, seja apoiando o golpe de 64 e proclamando aquelas ridículas ameaças ao Almirante Aragão.
O propósito dele sempre foi o de empalmar a Presidência da República fosse de que modo fosse, passando por cima de tudo que se colocasse no seu caminho. Com esse intuito, apoiou Castelo Branco no início. Depois, quando da prorrogação do mandato deste último, percebendo que seria evitada a sua chegada ao poder, passou a fazer oposição à política econômica de Roberto Campos.
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LACERDA CASSADO
Chegou a chamar Castelo Branco de “anjo da Rua Conde de Lage”. Pergunto: A senhora teve coragem de continuar na presidência do BNH depois dessa? Mas o feitiço virou contra o feiticeiro e Lacerda provou do próprio veneno ao ser cassado e preso após o AI-5. Depois encenou aquela hilariante greve de fome, que causou o seguinte comentário do seu meio irmão, Maurício Caminha de Lacerda: “Carlos, você está encenando Shakespeare na terra da Dercy Gonçalves”. Bem feito também para JK, que apoiou o golpe crente que ia disputar a eleição de 65, e acabou cassado já em 8/6/64.
A senhora se refere ao Governo Lula, legitimamente eleito em duas eleições presidenciais consecutivas pelo voto do povo, como se ele fosse um dos governos espúrios e totalitários como os que a senhora apoiou depois da quartelada.
“Eu até vou votar no Serra, mas reconheço que o Governo Lula está desenvolvendo uma administração satisfatória, do que são prova a obtenção de reservas cambiais de US$ 200 bilhões, a redução da relação dívida pública/PIB para menos de 40% da renda nacional, a melhora na distribuição de renda no país, basicamente devido aos programas federais de transferência de renda etc”. Não confunda governos democráticos com os dos generais que a senhora adulava.
E, para terminar, lhe digo que as escolas de tempo integral, os CIEPs, eram muito melhores do que as escolas de três turnos do empresário da educação Flecha “Andrews” Ribeiro.
11 de maio de 2012
Carlos Frederico Alverga
Tenho 40 anos, portanto não faço parte da atual geração a que a senhora se refere, certamente integrada por jovens impúberes que não conhecem a história pátria. Eu, ao contrário, a conheço em profundidade.
Sei muito bem que a quartelada de 1º de abril de 64 foi um sórdido golpe militar com a finalidade de depor um presidente constitucional que teve seus poderes esbulhados em agosto de 61, e que os recuperou legitimamente pelo voto do povo no plebiscito de 6/1/1963, derrotando fragorosamente o parlamentarismo ilegítimo imposto ao país depois da renúncia do presidente que o seu guru político, o “corvo” imortalizado pela caricatura de Lan, Carlos Frederico Werneck de Lacerda, ajudou a eleger em 1960 (“Jânio foi a UDN de porre”, dizia Afonso Arinos de Melo Franco). Engraçado, o político de Vassouras ajudou a eleger o candidato da “vassoura”.
Sei também que seu líder foi um golpista desavergonhado e descarado em 50, 55, 64 e a vida inteira. Elegeu-se governador da Guanabara em 60, derrotando Sérgio Magalhães por míseros 25.000 votos, só ganhando devido à existência da candidatura de Tenório Cavalcanti, que dividiu o eleitorado pobre. Por coerência, não deveria ter assumido o cargo, tendo em vista que não obteve a maioria absoluta que tanto propalava.
Depois, só acumulou derrotas na Guanabara, como a eleição de Elói Dutra, do PTB, para o cargo de vice-governador da Guanabara, a espetacular vitória de Brizola para deputado federal pela Guanabara em outubro de 62, e a mais saborosa das derrotas do lacerdismo, a de 65 para Negrão de Lima, seu odiado inimigo.
Amaral Peixoto recorda que o “corvo” mandou arrancar até os aparelhos telefônicos do Palácio Guanabara antes da posse de Negrão. Isto sem falar na censura à imprensa na Guanabara, quando da crise da legalidade em agosto de 61, os sempre renovados apelos para que a Aeronáutica destituísse pela força JK e Jango, presidentes eleitos legitimamente pelo eleitorado, o apoio dado aos levantes fascistas de Jacareacanga e Aragarças etc.
Era um adepto da ditadura, desde que ele fosse o Presidente, o chefe e estivesse sempre no comando e no poder. Não sabia conviver com a oposição. Entretanto, apelou aos antigos adversários para que compusessem a frente ampla, que nada mais era do que uma tentativa de Lacerda chegar ao poder manipulando politicamente setores que lhe eram hostis.
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UMA ARMADILHA
JK e Jango caíram na armadilha lacerdista, mas Brizola não. Se Brizola, como governador do RS, conseguiu evitar o golpe em 61, dividindo, pela primeira e única vez, o Exército Brasileiro, ficando no Palácio Piratini com sua família, mesmo depois de saber que o General Orlando Geisel, chefe de gabinete do então Ministro da Guerra Odílio Denys, havia ordenado o bombardeio da sede do Governo gaúcho pelos aviões da FAB, evidentemente teria evitado a quartelada caso ocupasse algum Ministério do governo Jango, o qual renunciou, apesar dos apelos de Brizola para que resistisse.
A coragem pessoal de Brizola, e sua disposição individual para o próprio sacrifício, eram insanas, como provam os acontecimentos do final de agosto de 61. Só mesmo uma coragem de louco para fazer o que ele fez na campanha da legalidade.
A maior prova de que Goulart não tinha intenções continuístas foi o fracasso do dispositivo militar do General Assis Brasil. O Presidente poderia ter reagido, mas não o fez por não dispor de um esquema militar que lhe proporcionasse o contragolpe. O impedimento legal para a candidatura de Brizola em 65 não implica que ele estivesse preparando um golpe.
O que ele pretendeu com a organização dos grupos de onze foi exatamente ter alguma estrutura para reagir ao golpe iminente que a direita estava preparando e que efetivamente concretizou. Seu mestre sempre pretendeu ocupar o poder ilegitimamente, seja forçando o suicídio de Vargas em 54, seja tentando impedir a posse de JK eleito, com o absurdo argumento da maioria absoluta, seja apoiando o golpe de 64 e proclamando aquelas ridículas ameaças ao Almirante Aragão.
O propósito dele sempre foi o de empalmar a Presidência da República fosse de que modo fosse, passando por cima de tudo que se colocasse no seu caminho. Com esse intuito, apoiou Castelo Branco no início. Depois, quando da prorrogação do mandato deste último, percebendo que seria evitada a sua chegada ao poder, passou a fazer oposição à política econômica de Roberto Campos.
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LACERDA CASSADO
Chegou a chamar Castelo Branco de “anjo da Rua Conde de Lage”. Pergunto: A senhora teve coragem de continuar na presidência do BNH depois dessa? Mas o feitiço virou contra o feiticeiro e Lacerda provou do próprio veneno ao ser cassado e preso após o AI-5. Depois encenou aquela hilariante greve de fome, que causou o seguinte comentário do seu meio irmão, Maurício Caminha de Lacerda: “Carlos, você está encenando Shakespeare na terra da Dercy Gonçalves”. Bem feito também para JK, que apoiou o golpe crente que ia disputar a eleição de 65, e acabou cassado já em 8/6/64.
A senhora se refere ao Governo Lula, legitimamente eleito em duas eleições presidenciais consecutivas pelo voto do povo, como se ele fosse um dos governos espúrios e totalitários como os que a senhora apoiou depois da quartelada.
“Eu até vou votar no Serra, mas reconheço que o Governo Lula está desenvolvendo uma administração satisfatória, do que são prova a obtenção de reservas cambiais de US$ 200 bilhões, a redução da relação dívida pública/PIB para menos de 40% da renda nacional, a melhora na distribuição de renda no país, basicamente devido aos programas federais de transferência de renda etc”. Não confunda governos democráticos com os dos generais que a senhora adulava.
E, para terminar, lhe digo que as escolas de tempo integral, os CIEPs, eram muito melhores do que as escolas de três turnos do empresário da educação Flecha “Andrews” Ribeiro.
11 de maio de 2012
Carlos Frederico Alverga
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