Célia Costa
As mazelas da saúde pública em solo fluminense são reveladas pelos próprios médicos em uma pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj). Além da superlotação das grandes emergências - problema crônico enfrentado pela população do estado -, os profissionais sofrem com a falta de equipamentos básicos nas unidades. A pesquisa mostra que 67% das emergências não estão suficientemente equipadas com monitores de sinais vitais e 27% não possuem desfibriladores em quantidade adequada. Foram ouvidos 90% dos profissionais de 15 unidades de saúde das três esferas de governo - federal, estadual e municipal.
O Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, enfrenta a maior insuficiência de equipamentos no estado. O problema é citado por 88,9% dos médicos que atuam no hospital. A direção da unidade e a Secretaria estadual de Saúde negam. O hospital foi quase todo remodelado e hoje conta com modernas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), tanto para adultos como para crianças. A superlotação, no entanto, ainda é um problema. A sala amarela da emergência, onde não deveria haver pacientes internados, está superlotada e, para atender à demanda, foram instalados leitos nos corredores. Diretor do hospital, Dilson Pereira frisou que não há recusa de pacientes e que, mesmo em macas nos corredores, eles recebem o atendimento necessário. Os doentes que estão nessa situação aguardam vagas na UTI ou na enfermaria, ambas lotadas.
Equipes enfrentam déficit de pessoal
Pesquisa
revela diagnóstico preocupante na rede pública de saúde do Rio: 67% das unidades
não têm monitores de sinais vitais suficientes.
Diagnóstico
que inspira cuidados
Pesquisa
revela que 67% das emergências do estado sofrem com falta de
equipamentos
De
acordo com os médicos ouvidos na pesquisa, 83% consideram que suas equipes não
estão completas e que esse déficit de pessoal seria causado, principalmente,
pelos baixos salários (34%), seguido por sobrecarga de trabalho (23%),
superlotação (22%) e falta de condições materiais (13%). Os resultados do
levantamento foram apresentados anteontem no 11 Congresso de Emergência do
Cremerj, no Centro de Convenções SulAmérica, na Cidade Nova.
O secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, reconhece a existência de alguns dos problemas citados na pesquisa do Cremerj. Segundo ele, no entanto, todos estão sendo combatidos com a remodelação das grandes emergências. O único percentual que o surpreendeu foi o da falta de condições materiais. Dohmann disse que não tem recebido queixas dos chefes das emergências e que todos os pedidos são atendidos. Mesmo assim, pedirá a seu subsecretário que cheque se há falta de algum material nas unidades. Segundo ele, as salas vermelhas (que recebem os pacientes em estado mais grave) têm os equipamentos necessários.
Para combater a superlotação das emergências, o município criou um novo modelo: a Coordenação de Emergência Regional (CER), que já está funcionando no Hospital Souza Aguiar. O sistema será implantado em outras quatro unidades e será responsável pelas emergências de baixa e média complexidade. Com isso, prevê a Secretaria municipal de Saúde, a capacidade de atendimento de casos mais graves será dobrada. O próximo hospital a ter uma CER será o Miguel Couto, na Gávea.
A falta de leitos é outro problema. De acordo com a pesquisa, dos pacientes que chegam em regime de urgência às unidades, 33% permanecem no setor após a fase emergencial. Outro dado preocupante é a quantidade de pacientes crônicos que seguem sendo atendidos no pronto-socorro, por falta de leitos de retaguarda. O estudo aponta que 80% dos doentes crônicos que dão entrada em emergências permanecem no setor por pelo menos mais 15 dias. Em comparação com o último levantamento, realizado em 2008, as condições pioraram: 40% dos pacientes crônicos ficavam mais de 15 dias nas emergências e 32% permaneciam por até 15 dias. Atualmente, 46% dos pacientes ficam duas semanas na emergência, enquanto 34% continuam internados por período ainda maior.
- Os números traduzem o que percebemos no nosso dia a dia: faltam investimentos em leitos de retaguarda, em estrutura e em recursos humanos para oferecer um atendimento de qualidade à população - afirma a médica Erika Monteiro Reis, coordenadora da pesquisa e diretora do Cremerj.
Hans Dohmann reconhece que o prolongamento da internação de doentes crônicos na emergência ainda é um problema grave da rede municipal, que, segundo ele, só pode ser combatido com a abertura de novos leitos. De acordo com o secretário, serão abertos mais 650 leitos de enfermarias e 250 de Unidade de Terapia Intensiva.
Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que está investindo na ampliação e na qualificação do atendimento dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro - Andaraí, Lagoa, Cardoso Fontes, Bonsucesso, Ipanema e Servidores do Estado -, por meio de medidas como reformas e ampliações das unidades e contratação de mais profissionais. Em abril, foram convocados 400 novos médicos, aprovados em concurso público.
O impacto da implantação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e da ampliação do Programa Saúde da Família (PSF) foi detectado na pesquisa. De acordo com os médicos, apesar da sobrecarga das emergências, houve uma redução na demanda. Sessenta por cento dos médicos afirmaram que o surgimento das UPAs diminuiu a demanda nos hospitais. Em comparação com a última edição da pesquisa, percebe-se a influência das UPAs no atendimento à população. Há quatro anos, 98% dos chefes de emergência disseram que as unidades estavam sobrecarregadas. Houve uma queda de 13%.
Dohmann considerou positiva a avaliação dos médicos de que a implantação das UPAs provocou uma melhora na demanda das emergências:
- Sem as UPAs e reforço na atenção básica, não poderíamos mexer nos hospitais. O projeto tira as emergências clínicas para deixar o atendimento concentrado nos casos de alta complexidade. Durante a visita que fiz semana passada ao Souza Aguiar, havia leitos vagos nas sala vermelha (casos mais graves) e também na amarela, uma realidade bem diferente da que existia antes da criação da CER.
Enquanto os médicos se queixam de falta de condições de trabalho e baixos salários, alguns profissionais deixam a desejar no quesito dedicação. Na pesquisa, não são citados problemas graves enfrentados pelas emergências como médicos que faltam plantões deixando as equipes - que eles mesmos dizem ser reduzidas - desfalcadas. Muitas vezes, eles deixam a população sem assistência nos feriados ou deixam os plantões para atender nos consultórios particulares.
Os problemas de desfalque nos plantões chegou a ser tão grave que a Secretaria estadual de Saúde, por exemplo, foi obrigada a criar uma série de mecanismos de controle. As escalas dos médicos das unidades de saúde passaram a ser publicadas no site da Secretaria e, em algumas unidades, foram afixadas na porta de entrada para que pacientes pudessem checar. Segundo a Secretaria, desde 2009, foi instituído o ponto biométrico para monitorar a falta de funcionários nos plantões de hospitais e UPAs da rede estadual. A aferição, de acordo com a Secretaria, vem reduzindo o número de faltas e melhorando a transparência para a população, que pode cobrar da Secretaria e também do profissional a sua presença nas unidades de saúde. Quando o sistema começou a ser implantado, havia registro de até 45% de faltosos. Hoje, a média é de 12% nas UPAs e 0,5% nos hospitais da rede estadual.
O secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, reconhece a existência de alguns dos problemas citados na pesquisa do Cremerj. Segundo ele, no entanto, todos estão sendo combatidos com a remodelação das grandes emergências. O único percentual que o surpreendeu foi o da falta de condições materiais. Dohmann disse que não tem recebido queixas dos chefes das emergências e que todos os pedidos são atendidos. Mesmo assim, pedirá a seu subsecretário que cheque se há falta de algum material nas unidades. Segundo ele, as salas vermelhas (que recebem os pacientes em estado mais grave) têm os equipamentos necessários.
Para combater a superlotação das emergências, o município criou um novo modelo: a Coordenação de Emergência Regional (CER), que já está funcionando no Hospital Souza Aguiar. O sistema será implantado em outras quatro unidades e será responsável pelas emergências de baixa e média complexidade. Com isso, prevê a Secretaria municipal de Saúde, a capacidade de atendimento de casos mais graves será dobrada. O próximo hospital a ter uma CER será o Miguel Couto, na Gávea.
A falta de leitos é outro problema. De acordo com a pesquisa, dos pacientes que chegam em regime de urgência às unidades, 33% permanecem no setor após a fase emergencial. Outro dado preocupante é a quantidade de pacientes crônicos que seguem sendo atendidos no pronto-socorro, por falta de leitos de retaguarda. O estudo aponta que 80% dos doentes crônicos que dão entrada em emergências permanecem no setor por pelo menos mais 15 dias. Em comparação com o último levantamento, realizado em 2008, as condições pioraram: 40% dos pacientes crônicos ficavam mais de 15 dias nas emergências e 32% permaneciam por até 15 dias. Atualmente, 46% dos pacientes ficam duas semanas na emergência, enquanto 34% continuam internados por período ainda maior.
- Os números traduzem o que percebemos no nosso dia a dia: faltam investimentos em leitos de retaguarda, em estrutura e em recursos humanos para oferecer um atendimento de qualidade à população - afirma a médica Erika Monteiro Reis, coordenadora da pesquisa e diretora do Cremerj.
Hans Dohmann reconhece que o prolongamento da internação de doentes crônicos na emergência ainda é um problema grave da rede municipal, que, segundo ele, só pode ser combatido com a abertura de novos leitos. De acordo com o secretário, serão abertos mais 650 leitos de enfermarias e 250 de Unidade de Terapia Intensiva.
Por sua vez, o Ministério da Saúde informou que está investindo na ampliação e na qualificação do atendimento dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro - Andaraí, Lagoa, Cardoso Fontes, Bonsucesso, Ipanema e Servidores do Estado -, por meio de medidas como reformas e ampliações das unidades e contratação de mais profissionais. Em abril, foram convocados 400 novos médicos, aprovados em concurso público.
O impacto da implantação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e da ampliação do Programa Saúde da Família (PSF) foi detectado na pesquisa. De acordo com os médicos, apesar da sobrecarga das emergências, houve uma redução na demanda. Sessenta por cento dos médicos afirmaram que o surgimento das UPAs diminuiu a demanda nos hospitais. Em comparação com a última edição da pesquisa, percebe-se a influência das UPAs no atendimento à população. Há quatro anos, 98% dos chefes de emergência disseram que as unidades estavam sobrecarregadas. Houve uma queda de 13%.
Dohmann considerou positiva a avaliação dos médicos de que a implantação das UPAs provocou uma melhora na demanda das emergências:
- Sem as UPAs e reforço na atenção básica, não poderíamos mexer nos hospitais. O projeto tira as emergências clínicas para deixar o atendimento concentrado nos casos de alta complexidade. Durante a visita que fiz semana passada ao Souza Aguiar, havia leitos vagos nas sala vermelha (casos mais graves) e também na amarela, uma realidade bem diferente da que existia antes da criação da CER.
Enquanto os médicos se queixam de falta de condições de trabalho e baixos salários, alguns profissionais deixam a desejar no quesito dedicação. Na pesquisa, não são citados problemas graves enfrentados pelas emergências como médicos que faltam plantões deixando as equipes - que eles mesmos dizem ser reduzidas - desfalcadas. Muitas vezes, eles deixam a população sem assistência nos feriados ou deixam os plantões para atender nos consultórios particulares.
Os problemas de desfalque nos plantões chegou a ser tão grave que a Secretaria estadual de Saúde, por exemplo, foi obrigada a criar uma série de mecanismos de controle. As escalas dos médicos das unidades de saúde passaram a ser publicadas no site da Secretaria e, em algumas unidades, foram afixadas na porta de entrada para que pacientes pudessem checar. Segundo a Secretaria, desde 2009, foi instituído o ponto biométrico para monitorar a falta de funcionários nos plantões de hospitais e UPAs da rede estadual. A aferição, de acordo com a Secretaria, vem reduzindo o número de faltas e melhorando a transparência para a população, que pode cobrar da Secretaria e também do profissional a sua presença nas unidades de saúde. Quando o sistema começou a ser implantado, havia registro de até 45% de faltosos. Hoje, a média é de 12% nas UPAs e 0,5% nos hospitais da rede estadual.
O GLOBO - 14/05/2012
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