"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 25 de agosto de 2012

MENSALÃO III: AGENDA DE PELUSO... "VOCÊS VERÃO NA HORA OPORTUNA"

 

Depois das especulações de que o ministro Cezar Peluso poderia adiantar o voto integralmente ou expor pelo menos parte da análise sobre o processo do mensalão, ganha força no Supremo Tribunal Federal (STF) a possibilidade de ele nem sequer votar na Ação Penal 470.

Sua ausência no julgamento pode acontecer não apenas por falta de tempo, mas por opção do próprio magistrado, que vai se aposentar até 3 de setembro. Apesar de existir a possibilidade de Peluso se pronunciar sobre o primeiro capítulo das denúncias na semana que vem, interlocutores do ministro avaliam que ele pode optar por não participar nem da etapa em andamento.

Conforme as regras do Supremo, o ministro tem que pedir aposentadoria antes de completar 70 anos para que tenha o direito de continuar com o salário integral. Dessa forma, Peluso terá de protocolar o pedido até a próxima quinta, o que não impede que ele participe de mais três sessões antes de deixar o tribunal.

Diante do ritmo lento no qual o julgamento se arrasta, Peluso terá a palavra para se manifestar em relação ao item na sessão de quarta ou quinta-feira, as duas últimas que participará. Ele é o sétimo a votar. De acordo com o artigo 135 do Regimento Interno do STF, o primeiro a se pronunciar é o relator. Na sequência, falam o revisor e os outros ministros, na ordem inversa de antiguidade.

O relator, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, já concluíram os votos relativos ao item 3 do processo, que trata de contratos das agências do empresário Marcos Valério com o Banco do Brasil e a Câmara dos Deputados. No entanto, ao fim da última sessão, o relator avisou que fará uma réplica para contrapor o voto do revisor.

Insatisfeito, Lewandowski disse que precisará de uma tréplica. Nesse ritmo, a ministra Rosa Weber, próxima a votar, deverá ter a palavra, na melhor das hipóteses, somente na segunda metade da próxima sessão.

Depois dela, votam Luiz Fux, Dias Toffoli e Cármen Lúcia para somente depois Peluso se pronunciar. O mesmo artigo do regimento que trata da ordem de votação estabelece que os ministros poderão antecipar o voto se o presidente autorizar. Na avaliação de Lewandowski e de Marco Aurélio Mello, essa possibilidade existe somente após relator e revisor votarem e, ainda assim, entendem que o magistrado que eventualmente antecipar deve se ater aos fatos já debatidos.

Uma pessoa próxima a Peluso disse ao Correio que ele não deve pedir para antecipar voto e sequer para votar estritamente em relação ao item debatido. "Juiz não corre atrás de processo", afirmou o interlocutor. Ele avalia que a melhor solução para Peluso seria a de esperar a sua vez de votar e, nesse momento, anunciar que está se aposentando e que, por isso, optará por não votar no processo.
Essa pode ser a última marca que o experiente magistrado e ex-presidente do STF deixará de sua passagem de quase uma década pela Suprema Corte.
Essa saída evitaria, por exemplo, que o ministro se pronunciasse apenas em relação a parte dos réus, e não em relação a outros. Ele escaparia também do impasse acerca da dosimetria, uma vez que não haveria tempo para participar dessa discussão, pois os ministros vão calcular a pena daqueles que forem condenados somente após concluírem os sete itens do julgamento que envolve 37 réus.

Questionado sobre a posição que adotará, Peluso manteve o suspense. "Vocês verão na horaoportuna", afirmou a jornalistas, ontem de manhã, durante cerimônia no Quartel-Gerenal do Exército, em Brasília, onde recebeu a Medalha do Pacificador, concedida a personalidades merecedoras de homenagem especial do Exército.
Na última quarta, ele já havia dito que não falou para ninguém, "nem para própria mulher", se pretende antecipar ou não o voto.
"Vocês verão na hora oportuna"Cezar Peluso, ministro do STF, sobre como procederá em relação ao próprio voto

DIEGO ABREU e HELENA MADER Correio Braziliense
25 de agosto de 2012

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