Os bancos tiveram de ultrapassar uma série de obstáculos ao longo de 2012 até alcançar dezembro. Nenhum, porém, pareceu tão intransponível quanto os calotes dados por empresas e pessoas físicas. Perto disso, a rápida queda da taxa básica de juros, a Selic, e a pressão do governo pela redução do custo dos empréstimos bancários são vistos agora pelos banqueiros como os menores desafios encontrados pelo caminho.
Em 2012, os três maiores bancos privados do país - Itaú Unibanco, Bradesco e Santander - registraram juntos um lucro líquido de R$ 27,7 bilhões, valor 5,3% menor do que o ganho de 2011. Do grupo, só o Bradesco conseguiu registrar uma expansão do resultado em relação ao ano anterior. Lucrou R$ 11,4 bilhões, cifra 3,1% maior do que em 2011, amparada pela atividade de seguro.
A inadimplência dos tomadores de crédito gerou R$ 52,6 bilhões em despesas com provisões para devedores duvidosos, fator que mais consumiu o lucro dos três bancos. O volume foi 20,8% superior àquele registrado em 2011.
O peso dos calotes sobre o resultado, porém, não parou por aí. "A inadimplência atrapalhou o lucro do bancos de duas formas. Além da despesa com provisão, mexeu no apetite por crédito. Isso também afetou o resultado", diz Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs.
Com receio da inadimplência, os bancos foram mais seletivos na hora de conceder um empréstimo. Tamanha cautela se refletiu na expansão da carteira de crédito. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander alcançaram um estoque de empréstimos de R$ 869,1 bilhões em dezembro, volume apenas 7,12% maior do que um ano antes. Puxada pelos bancos públicos, a média do sistema financeiro ficou em 16,2%.
Enquanto lidavam com os calotes, os bancos ainda tiveram de enfrentar a forte redução da Selic, que começou o ano em 11% e fechou dezembro em 7,25%. "Em cerca de cinco trimestres, a queda da Selic foi de 40%. É um impacto que jamais vi na minha vida profissional. Poderia ter tido um impacto muito negativo na indústria financeira, mas foi bem absorvido", afirmou Marcial Portela, presidente do Santander Brasil, durante entrevista a jornalistas na semana passada.
Não bastasse isso, pouco antes do meio do ano, o governo começou a pressionar as instituições a reduzir os spreads, com impacto direto nas margens financeiras. "O problema é que todos os desafios apareceram ao mesmo tempo [em 2012]", diz Carlos Daltozo, analista do BB Investimentos.
Para vencer o ano, os bancos foram buscar soluções fora do crédito. Tesouras em mãos, por exemplo, permitiram aos banqueiros amenizar parte dos problemas trazidos pelos calotes. Os gastos administrativos e com pessoal dos três bancos somaram R$ 78 bilhões em 2012, com um crescimento de 6,37% em 12 meses. O valor foi um pouco maior do que a inflação medida pelo IPCA, que alcançou 5,84%.
O controle dos gastos ficou evidente no Itaú, onde as despesas avançaram apenas 1,81% ao longo do ano passado. Parte dessa contenção se deu pelo lado da mão de obra. Em um ano, o número de funcionários do banco foi reduzido em 7.565 pessoas, para 96.977 empregados.
No Santander, ajustes de pessoal também tiveram lugar no último trimestre do ano. O banco reduziu a quantidade de empregados em 1.128 pessoas, para um total de 53.992. O Bradesco, apesar de também estar em busca de melhorias na eficiência, nega que venha a fazer cortes de funcionários.
A busca por ganhos com tarifas também se intensificou. Em 2012, a receita com prestação de serviço dos três bancos subiu 11,42%, chegando a R$ 48,1 bilhões. O maior salto veio do Bradesco, cujo faturamento avançou 11,3%.
Carolina Mandl e Karin Sato | De São Paulo
Valor Econômico
06 de fevereiro de 2013
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