"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O PRÉ-SAL PODERÁ DEMORAR!

O "BILHETE PREMIADO" DO CACHACEIRO PARLAPATÃO OU A "Pré-sal patrimônio da União, riqueza do povo e futuro do Brasil".
 
Fernand Braudel, célebre historiador, residiu no Brasil de 1935 a 1937, dando aulas na Universidade de São Paulo (USP). Ele desenvolveu a intuição daquilo que seria chamado Terceiro Mundo.
O instituto que recebeu o seu nome, em recentes estudos divulgados, adverte sobre os desafios do pré-sal. Conforme alerta a entidade, a exploração das riquezas da nova fronteira petrolífera brasileira pode atrasar muito, pelo menos de cinco a dez anos. Faltam, em consonância com as aludidas avaliações, mão de obra especializada, disponibilidade financeira e, acima de tudo, o pré-sal sofre a influência da visão estatizante do governo, que obstácula as demais iniciativas do setor de infraestrutura, entre elas as ferrovias, energia elétrica, produção de etanol, rodovias e aeroportos.
Para os estudiosos, o desafio de obter petróleo em águas profundas do mar é abissal. Há, inclusive, assertivas de que nenhuma nação produtora do petróleo conseguiu, até agora, triplicar a sua extração do óleo de 2 milhões de barris diários para 6 milhões, em tão curto espaço de tempo e em profundidades marítimas tão grandes, de 7 mil metros ou mais, bem como a 300km da costa.
Outros afirmam que não é inexequível, não obstante o parlamento nacional preocupar-se, até agora, mais com o resultado financeiro e a distribuição da receita (royalties) da extração do petróleo.

Não se tem notícia da existência de estudos acurados e imparciais dos obstáculos, que exigirão um esforço hercúleo de superação. Ademais, a nossa principal estatal será compelida à operação de 30% de todos os campos já identificados do pré-sal.
Daí, a observação do Instituto Fernand Braudel:
"Nenhuma petroleira no mundo, por mais ágil e competente que fosse, teria condições de operar tudo sozinha". É muita coisa para uma empresa só, acentua Leonardo Maugeri, pesquisador de Harvard. Para ele, a Petrobras não pode fazer tudo sozinha e num curto prazo.

A indústria nacional de equipamentos pouco tem participado do fornecimento sofisticado dos equipamentos básicos do pré-sal, como sondas, estaleiros e navios.
Outra avaliação pressupõe que o pré-sal tão só estará em plena produção nos anos de 2025-2030, diante da superficialidade do tratamento que vem recebendo, e sem um plano completo e consequente para alcançar as decantadas metas.

A Petrobras corre contra o tempo, a fim de multiplicar por 10 (dos atuais 200 mil barris/diários) a produção da área do pré-sal até 2020.

Diante dessa realidade, as importações do petróleo crescem exponencialmente e levam a balança comercial brasileira a registrar, no início de 2013, o maior deficit dos últimos 15 anos.

Outras acentuadas importações estão sucedendo nos derivados do petróleo, devido à crescente demanda interna. As nossas refinarias já não conseguem abastecer o mercado e a Petrobras traz do exterior tais combustíveis com preços internacionais, colocando-os internamente a valores administrados pelo governo.
Dessa forma, ademais, inviabiliza o maior uso do etanol, energético limpo e renovável, fabricado com tecnologia e equipamentos brasileiros, gerando milhares de empregos no campo e nas indústrias.

Consoante as estimativas, em 2017, o volume da gasolina trazido do exterior praticamente dobrará em relação a 2012, chegando a 7 bilhões de litros. Deixamos, dessa forma, de ser autossuficientes, como era proclamado desde 2006. Há quatro anos, foram suspensos os leilões dos novos campos do petróleo e, sem as licitações, a produção não avançará.
Inquestionavelmente, a nova riqueza do pré-sal reabre o velho debate sobre o papel apropriado do Estado no aproveitamento dos recursos energéticos brasileiros.

Políticos influentes continuam propondo a concessão do monopólio pleno da região do pré-sal à Petrobras. Certas áreas promissoras seriam totalmente vedadas aos capitais de fora.

Em 2009, foi intensamente veiculado o slogan governamental:
"Pré-sal patrimônio da União, riqueza do povo e futuro do Brasil".


LUIZ GONZAGA BERTELLI Vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), conselheiro e diretor da Fiesp-Ciesp
O pré-sal poderá demorar
06 de fevereiro de 2013

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