A ampliação das cadeias produtivas globais e o crescente intercâmbio de partes e componentes está mudando a maneira de tratar as trocas tradicionais de bens e serviços
O processo de globalização vem sofrendo modificações aceleradas com a tendência de concentração da produção de manufaturas em poucos países, e a fragmentação da produção de bens industriais. Nos últimos 20 anos, o comércio das cadeias produtivas (supply chain trade) vem crescendo gradualmente. Trata-se do intercâmbio de bens, investimentos, serviços e tecnologia associado às redes internacionais de produção, que combinam a inovação dos países desenvolvidos com salários baixos dos países em desenvolvimento.
A ampliação das cadeias produtivas globais e o crescente intercâmbio de partes e componentes está mudando a maneira de tratar as trocas tradicionais de bens e serviços. Ao ficar de fora do circuito das cadeias produtivas globais, a maioria dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, passa a concentrar suas exportações em commodities e suas exportações de manufaturados tornam-se cada vez mais reduzidas.
A incorporação das cadeias de produção global nos mega-acordos de livre comércio, como o eventual acordo EUA-União Europeia, representa um desafio adicional, pois traz de volta preocupações geopolíticas para o comércio internacional. Considerações de política externa levam as duas regiões a tentar superar diferenças comerciais em função de interesses comuns para a prevalência de suas normas internacionais e valores e para a contenção da China.
A OMC procura regular e facilitar o intercâmbio tradicional — que diz respeito a bens produzidos em um determinado país e vendidos em outro — com regras que dificultem ou eliminem as barreiras na fronteira (tarifas) e visem a penalizar a competição desleal (subsídios e dumping) com medidas compensatórias. As novas regras do comércio das cadeias produtivas começam a ser definidas fora da OMC de forma "ad hoc" nos acordo de comércio regional (como o dos EUA com países da Ásia e com a Europa), tratados bilaterais de comércio e de investimento.
O Brasil, sem estratégia de negociação comercial e com dificuldades para criar um mercado regional para seus produtos, integrados em uma cadeia produtiva regional com os demais países, a exemplo do que ocorre na Ásia e na Europa, está cada vez mais isolado e dificilmente poderá beneficiar-se dessas novas tendências do comércio internacional.
Se a política do governo Dilma visando ao fortalecimento da indústria nacional der certo, sem o Brasil estar integrado ao dinâmico intercâmbio da cadeia produtiva global, o máximo que o país pode almejar no longo prazo é manter a produção industrial para o mercado interno.
O governo declara ter uma “politica comercial cautelosa” por não querer abrir mão de seu projeto nacional de desenvolvimento e por julgar que, tendo uma indústriroia diversificada, não deve se engajar nos acordos de cadeias produtivas, que levariam a alguma especialização no contexto produtivo.
O mundo não vai esperar o Brasil. Ou o Brasil recupera o tempo perdido e reformula sua estratégia de negociação comercial externa, ou vai se tornar cada vez mais isolado no mundo real do comércio global e de investimentos.
26 de fevereiro de 2013
Rubens Barbosa, O Globo
A ampliação das cadeias produtivas globais e o crescente intercâmbio de partes e componentes está mudando a maneira de tratar as trocas tradicionais de bens e serviços. Ao ficar de fora do circuito das cadeias produtivas globais, a maioria dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, passa a concentrar suas exportações em commodities e suas exportações de manufaturados tornam-se cada vez mais reduzidas.
A incorporação das cadeias de produção global nos mega-acordos de livre comércio, como o eventual acordo EUA-União Europeia, representa um desafio adicional, pois traz de volta preocupações geopolíticas para o comércio internacional. Considerações de política externa levam as duas regiões a tentar superar diferenças comerciais em função de interesses comuns para a prevalência de suas normas internacionais e valores e para a contenção da China.
A OMC procura regular e facilitar o intercâmbio tradicional — que diz respeito a bens produzidos em um determinado país e vendidos em outro — com regras que dificultem ou eliminem as barreiras na fronteira (tarifas) e visem a penalizar a competição desleal (subsídios e dumping) com medidas compensatórias. As novas regras do comércio das cadeias produtivas começam a ser definidas fora da OMC de forma "ad hoc" nos acordo de comércio regional (como o dos EUA com países da Ásia e com a Europa), tratados bilaterais de comércio e de investimento.
O Brasil, sem estratégia de negociação comercial e com dificuldades para criar um mercado regional para seus produtos, integrados em uma cadeia produtiva regional com os demais países, a exemplo do que ocorre na Ásia e na Europa, está cada vez mais isolado e dificilmente poderá beneficiar-se dessas novas tendências do comércio internacional.
Se a política do governo Dilma visando ao fortalecimento da indústria nacional der certo, sem o Brasil estar integrado ao dinâmico intercâmbio da cadeia produtiva global, o máximo que o país pode almejar no longo prazo é manter a produção industrial para o mercado interno.
O governo declara ter uma “politica comercial cautelosa” por não querer abrir mão de seu projeto nacional de desenvolvimento e por julgar que, tendo uma indústriroia diversificada, não deve se engajar nos acordos de cadeias produtivas, que levariam a alguma especialização no contexto produtivo.
O mundo não vai esperar o Brasil. Ou o Brasil recupera o tempo perdido e reformula sua estratégia de negociação comercial externa, ou vai se tornar cada vez mais isolado no mundo real do comércio global e de investimentos.
26 de fevereiro de 2013
Rubens Barbosa, O Globo
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