"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO CHÁVEZ ESTÁ MORTO, MAS OS IDIOTAS CONTINUAM VIVENDO E PROLIFERANDO



Infelizmente alguns compromissos inadiáveis me afastaram do blog nesta tarde até o começo da noite, razão pela qual não noticiei em cima do lance a morte de Hugo Chávez.

Queridos e honrados leitores chegaram até a me telefonar, enviar torpedos e emails, enquanto seguidores do Twitter procuravam confirmar a morte do caudilho.
Pois bem. De volta ao blog tecerei um rápido comentário sobre o ocorrido e os possíveis desdobramentos com o desaparecimento do tiranete bolivariano.

É claro que o desaparecimento de um líder carismático é sempre problemático porque nunca haverá um sucessor à altura do prestígio que tinha para seus sequazes o finado líder.
Vejam que o carisma não tem qualquer viés de santidade e ou qualidades excepcionais do ponto de vista moral e ético. O carisma se caracteriza pelo fato de que o líder carismático normalmente é tido pelo séquito como dotado de poderes sobrenaturais e execepcionais. Uma série de fatores concorrem para criar essa situação no imaginário de seus seguidores.

Ninguém melhor do que o filósofo, sociólogo e jurista alemão Max Weber definiu o carisma. Tanto é que a teoria política weberiana articula as fontes de poder através de três tipos ideais (ideal no sentido de ser mentalizado e não em termos ético e moral).
Para Weber a dominação política pode ser de três tipos: dominação tradicional (sempre foi assim e por isso o séquito obedece o líder, como nas monarquias absolutistas); dominação carismática (a obediência se dá pelo fato de que o séquito acredita que o líder detém poderes sobrenaturais e que através dos quais podem obter a salvação em todos os sentidos) e, finalmente, a dominação racional legal, que é tipificada pelo Estado moderno, ou seja, os sequazes obedecem o líder porque a determinação da obediência está preconizada na lei (a Constituição do Estado). Grosso modo esses são os tipos de dominação política elencados por Weber.

O que nos interessa agora é aplicar o conceito à análise do que pode acontecer na Venezuela com a morte de Chávez. De cara pode-se afirmar que Chávez é insubstituível, já que era um líder carismático. A prova disso é que sua doença transformou-se num segredo de Estado.

O grupo mais próximo ao caudilho traçou uma estratégia de ação justamente pela dificuldade de lidar com o vácuo de poder que que se originaria de sua morte, como de fato está ocorrendo. Os chavistas procuraram esticar ao máximo a possibilidade de sua sobrevivência, coisa que se torna difícil em sociedades complexas e parcialmente abertas como é a Venezuela. A escolha do hospital cubano pelo tiranete explica muito desse aspecto.

O principal esquema que Hugo Chávez havia montado para seu próximo mandato seria a implantação dos "poderes comunais", um arremedo do modelo cubano de controle total do Estado sobre os indivíduos.
É muito provável que se tivesse vencido o câncer o caudilho iria mesmo conseguir comunizar a Venezuela, dentro de um modelo cubano flexibilizado por uma espécie de "pantomima democrática", com eleições periódicas. Aliás, é isso que ocorre em Cuba até hoje, embora o núcleo de poder continue nas mãos dos Castro.

No caso da Venezuela, o plano era que o poder ficasse nas mãos dos títeres de Chávez até mesmo após a sua morte, caso a implantação das "comunas" ocorresse. Ao que parece esse projeto não chegou a ser totalmente aplicado. Mesmo assim, dadas às circunstâncias decorrentes de 14 anos de chavismo, o projeto do "socialismo do século XXI", não desaparecerá e isto quer dizer que embora sem o carisma de Chávez, seu títere imediato Nicolás Maduro tem condições de vencer qualquer oponente.

É que além do chavismo ter fincado raízes em amplos segmentos da sociedade venezuelana, cuidou de aparelhar de alto a baixo todas as esferas do poder estatal. Chávez fechou o Senado e criou uma Assembléia Nacional sob controle chavista e, ao mesmo tempo, transformou a Suprema Corte de Justiça num apêndice do partido.
Da mesma forma montou um esquema similar nas Forças Armadas e nas polícias. Enfim, as instituições do Estado venezuelano já estão totalmente aparelhadas pelo PSUV, o partido chavista.

Além disso, os remanescentes de Chávez precisariam ser muito incompetentes para naufragar nas eleições presidenciais que devem ocorrer. Digo devem, porque não se sabe se já há alguma solução "institucional" forjada pelos juristas do chavismo que anule a possibilidade do pleito conforme determina a Constituição. Em regimes do tipo chavista tudo pode acontecer, até mesmo um estado de beligerância fictício que justificaria um regime de exceção, beneficiando, obviamente, os herdeiros políticos do caudilho.

Além disso tudo, o chavismo conta com o beneplácito da grande mídia internacional. Basta ver o tratamento que deram sobre o período de sua doença. A grande mídia, incluindo aí as agências internacionais, sem falar nos famosos think tanks americanos ligados ao Partido Democrata de Hussein Obama, constituem uma poderosa máquina de formação da opinião pública internacional. Tanto é que em nenhum momento aquele conhecido ente denominado "comunidade internacional" foi invocado para condenar a usurpação do poder na Venezuela desde que Hugo Chávez foi à lona corroído por um câncer incurável.

Pode-se contar nos dedos os veículos da grande mídia que tentaram furar o bloqueio montado pelos chavistas com o aporte de Fidel Castro e seu irmão Raúl. Ainda nas edições desta terça-feira dos grandes jornais impressos e televisivos os jornalistas "companheiros" veiculavam à farta o último press-release do Palácio Miraflores, dizendo que Chávez tinha piorado mas que também tinha períodos de melhora. Algo inconcebível.

E isso foi o que ocorreu nos últimos dois meses. A maioria dos jornalistas desprezou, por exemplo, com detido zelo as preciosas informações do médico venezuelano José Rafael Marquina, que vive e trabalha nos Estados Unidos, a respeito da doença de Chávez.

Resultado: o famoso Dr. Marquina acertou todos os prognósticos. Em uma de suas últimas análises afirmou que Hugo Chávez não emplacaria o mês de abril.

Devo assinalar que entre a grande mídia escapou com garbo e objetividade o jornal espanhol ABC, com reportagens especiais de Emili J. Blasco, correspondente em Washington e de Ludmila Vinogradoff, correspondente do diário espanhol em Caracas. Destaque também para o incansável Nelson Bocaranda, que mesmo perto do covil dos lobos comunistas nunca deixou de escrever a verdade. Foi esse jornalista venezuelano quem revelou ao mundo há um ano e meio que Chávez estava com câncer.

Quem acompanhou este meu modesto blog teve sempre as melhores informações e até mesmo alguns pequenos furos noticiosos, pelo menos no que concerne à grande mídia brasileira. Devo isso, principalmente, a esses notáveis jornalistas, dentre outros poucos que operam na grande imprensa internacional.
Devo também render um agradecimento todo especial às centenas de leitores venezuelanos e também de outros países que através do Twitter gentilmente me enviavam e continuam enviando informações e links preciosos sobre política e, principalmente, sobre a ação corrosiva do chavismo.

Seja como for, o fato é que o desaparecimento de um líder carismático sempre gera um clima de incerteza, porquanto determina a desarticulação do poder político do regime. Todavia, conforme alinhei ligeiramente neste artigo, não existe de forma objetiva qualquer indicador que ofereça elementos para ver no futuro imediato mudanças no panorama político da Venezuela e dos demais países latino-americanos.

Um dado importante e que não pode ser desprezado está na própria lição da história da formação da civilização ocidental que tem sua vertente moderna na Europa anglo-saxônica. Fora desse eixo não existe nenhuma região do mundo moderno que tenha oferecido contributos concretos para a geração de um conjunto de valores tão expressivos como os que deram vida aos regimes democráticos e ao respeito à liberdade individual.

Assim, o tiranete Hugo Chávez desaparece, mas milhares de idiotas continuam vivos e se reproduzindo em escala geométrica. A América Latina, ao lado das sociedades afro-asiáticas, do mundo árabe, do ascendente islamismo e demais idiotias acolhidas pelos arautos do pensamento politicamente correto concorrem para dar, lamentavelmente, uma sobrevida ao nefasto modelo comunista cultivado pelo chavismo.

Criei uma frase que condensa essas linhas que acabo de escrever: "a humanidade é pródiga na produção da estupidez e extremamente parcimoniosa na geração da genialidade".
 
06 de março de 2013
in aluizio amorim

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