Não é a crise internacional.
Se fosse, o "pibinho" não seria uma exclusividade nacional, mas compartilhado com vários outros países, em particular os mais parecidos conosco, seja geograficamente, seja pela composição das exportações (a predominância de commodities) ou ainda pela renda per capita.
Sob qualquer perspectiva, porém, o Brasil se destacou negativamente em termos de crescimento no ano passado, indicando que, ao contrário da alegação do ministro da Fazenda, nosso desempenho ruim tem origens domésticas.
Na verdade, a crise externa, mais que uma desculpa, foi também diagnóstico. As medidas de política econômica adotadas desde meados de 2011 seguiram um desenho semelhante àquelas utilizadas no período que se seguiu à grande crise financeira de 2008-2009.
Da mesma forma que se costuma dizer que os generais lutam sempre a última guerra, nossos gestores de política econômica parecem estar ainda enfrentando aquela crise.
Para quem não se lembra, o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário argumentando que a crise teria um impacto equivalente a um quarto do observado em 2009, o que faria a inflação convergir à meta no ano passado, um equívoco exposto por uma taxa inflacionária que teima em se desviar dela.
Da mesma forma, o Ministério da Fazenda retomou as medidas de desoneração tributária e colocou os bancos públicos na linha de frente de financiamento ao consumo.
Adicionalmente, elevou o gasto público, apesar das juras de que cumpriria fielmente a meta fiscal e, no final do ano, usou e abusou da contabilidade criativa para tentar esconder o que ficou à plena vista:
que não chegou perto do que havia prometido.
Em outras palavras, seguiu um roteiro muito parecido ao adotado em 2009: juros em queda, bancos públicos expandindo o crédito, gasto governamental em alta.
Essa combinação funcionou bem àquela época, mas, como se vê pelo "pibinho", fracassou espetacularmente no ano passado.
O fiasco é resultado do diagnóstico equivocado. O governo viu a desaceleração da economia como um fenômeno cíclico, induzido pela crise externa, quando as raízes são, na verdade, mais profundas e locais.
Ao contrário de 2009, não se observa no país uma situação de folga do ponto de vista de recursos produtivos. Nem o desemprego é alto (muito pelo contrário), nem os níveis de ocupação de capacidade instalada na indústria são anormalmente baixos.
Assim, enquanto uma política de incentivo ao consumo àquela época tinha grande chance de reativar (como reativou) a economia, a mesma política, sob condições distintas, falhou visivelmente.
Crescemos nos últimos anos com base na expansão do consumo e na ocupação da mão de obra desempregada, com pouca ênfase no investimento e na expansão da produtividade. Funcionou a contento enquanto havia mão de obra disponível, mas isso acabou à medida que a economia se aproximou do pleno emprego.
A desaceleração do crescimento não é, portanto, um fenômeno cíclico, mas o sintoma de esgotamento de um modelo que, a bem da verdade, não poderia ser sustentado indefinidamente, mas foi tratado como se pudesse.
Baseado nessa crença, o país não se preparou para o que viria depois do binômio "consumo e emprego".
Em particular, o abandono das reformas, assim como a relutância em transferir ao setor privado responsabilidades pela infraestrutura, estão por trás tanto do fraco investimento quanto do crescimento medíocre da produtividade.
Assim, para o crescimento continuar ao ritmo observado entre 2004 e 2010, será necessário mudar os incentivos do consumo para o investimento.
Isso, porém, fere interesses já enraizados no país, assim como o padrão de política econômica que se cristalizou no período, sublinhando as dificuldades para operar a mudança.
Cresceremos em 2013 mais do que no ano passado, mas nem perto daquilo que foi um dia o objetivo do governo.
Se fosse, o "pibinho" não seria uma exclusividade nacional, mas compartilhado com vários outros países, em particular os mais parecidos conosco, seja geograficamente, seja pela composição das exportações (a predominância de commodities) ou ainda pela renda per capita.
Sob qualquer perspectiva, porém, o Brasil se destacou negativamente em termos de crescimento no ano passado, indicando que, ao contrário da alegação do ministro da Fazenda, nosso desempenho ruim tem origens domésticas.
Na verdade, a crise externa, mais que uma desculpa, foi também diagnóstico. As medidas de política econômica adotadas desde meados de 2011 seguiram um desenho semelhante àquelas utilizadas no período que se seguiu à grande crise financeira de 2008-2009.
Da mesma forma que se costuma dizer que os generais lutam sempre a última guerra, nossos gestores de política econômica parecem estar ainda enfrentando aquela crise.
Para quem não se lembra, o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário argumentando que a crise teria um impacto equivalente a um quarto do observado em 2009, o que faria a inflação convergir à meta no ano passado, um equívoco exposto por uma taxa inflacionária que teima em se desviar dela.
Da mesma forma, o Ministério da Fazenda retomou as medidas de desoneração tributária e colocou os bancos públicos na linha de frente de financiamento ao consumo.
Adicionalmente, elevou o gasto público, apesar das juras de que cumpriria fielmente a meta fiscal e, no final do ano, usou e abusou da contabilidade criativa para tentar esconder o que ficou à plena vista:
que não chegou perto do que havia prometido.
Em outras palavras, seguiu um roteiro muito parecido ao adotado em 2009: juros em queda, bancos públicos expandindo o crédito, gasto governamental em alta.
Essa combinação funcionou bem àquela época, mas, como se vê pelo "pibinho", fracassou espetacularmente no ano passado.
O fiasco é resultado do diagnóstico equivocado. O governo viu a desaceleração da economia como um fenômeno cíclico, induzido pela crise externa, quando as raízes são, na verdade, mais profundas e locais.
Ao contrário de 2009, não se observa no país uma situação de folga do ponto de vista de recursos produtivos. Nem o desemprego é alto (muito pelo contrário), nem os níveis de ocupação de capacidade instalada na indústria são anormalmente baixos.
Assim, enquanto uma política de incentivo ao consumo àquela época tinha grande chance de reativar (como reativou) a economia, a mesma política, sob condições distintas, falhou visivelmente.
Crescemos nos últimos anos com base na expansão do consumo e na ocupação da mão de obra desempregada, com pouca ênfase no investimento e na expansão da produtividade. Funcionou a contento enquanto havia mão de obra disponível, mas isso acabou à medida que a economia se aproximou do pleno emprego.
A desaceleração do crescimento não é, portanto, um fenômeno cíclico, mas o sintoma de esgotamento de um modelo que, a bem da verdade, não poderia ser sustentado indefinidamente, mas foi tratado como se pudesse.
Baseado nessa crença, o país não se preparou para o que viria depois do binômio "consumo e emprego".
Em particular, o abandono das reformas, assim como a relutância em transferir ao setor privado responsabilidades pela infraestrutura, estão por trás tanto do fraco investimento quanto do crescimento medíocre da produtividade.
Assim, para o crescimento continuar ao ritmo observado entre 2004 e 2010, será necessário mudar os incentivos do consumo para o investimento.
Isso, porém, fere interesses já enraizados no país, assim como o padrão de política econômica que se cristalizou no período, sublinhando as dificuldades para operar a mudança.
Cresceremos em 2013 mais do que no ano passado, mas nem perto daquilo que foi um dia o objetivo do governo.
Alexandre Schwartsman, formado em administração pela FGV-SP e em economia pela USP, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley). Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, é também professor do Insper. Escreve às quartas, semanalmente, no caderno 'Mercado'.
camuflados
06 de março de 2013
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