Para quem gosta muito da Itália e dos italianos, preocupa ver como decisões econômicas tão relevantes foram tomadas com debate intelectual de baixa profundidade e alta densidade emocional.
É o que tem ocorrido em países do sul da Europa e da América Latina, num grande contraste em relação ao debate econômico na maior parte do norte europeu, particularmente nos países nórdicos.
Lá, ele tende a ser racional, frio e intelectualmente denso, com diversas correntes buscando conquistar, pela razão, formadores de opinião, tomadores de decisão e eleitores.
Talvez não seja coincidência que a situação econômica do norte europeu seja muito melhor que a do sul, o que traz um alerta importante para a qualidade do debate econômico no Brasil.
ALTA DOSE DE PAIXÃO
Devemos estar atentos ao debate, marcado por alta dose de paixão –com declarações extremadas, desqualificação de oponentes ou de quem pensa diferente– e pela busca de influência ou predominância baseada mais na força das palavras do que dos argumentos, sem muito cui-dado com a essência e a busca de evidências factuais. O resultado disso é, muitas vezes, desastroso.
Aprendi, na vida profissional, que a força dos argumentos está nos seus resultados. Temos que analisar o histórico da aplicação de teorias ou diagnósticos econômicos para concluir sobre sua aplicabilidade a cada situação.
Apesar do seu componente artístico, a ciência econômica tem semelhanças com diversas áreas da pesquisa, como a medicina, por exemplo. Quando se pesquisa doenças e disfunções, é muito perigoso basear-se na força das paixões e na elegância dos argumentos para definir o tratamento –que tem de ser buscado em evidências concretas coletadas em diagnósticos e práticas já aplicadas. Seria muito negativo se a medicina fosse guiada por debate apaixonado com desqualificação de oponentes e defesa emocional de tratamentos.
É natural que conflitos de interesse acirrem emoções. O importante é manter o foco no dado concreto, observar o resultado de cada proposta e, a partir daí, traçar o caminho não só na economia, mas em todas as áreas do conhecimento.
Hoje, os países com maior progresso econômico ou em melhor situação –no norte da Europa, a China e outros Estados asiáticos ou mesmo os EUA– mostram que o debate baseado na razão é superior ao que se apoia na paixão, por mais fascinante que possa ser o debate apaixonado.
(transcrito da Folha)
08 de março de 2013
Henrique Meirelles
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