Artigos - Movimento Revolucionário
A última fase da construção deste novo tipo totalitarismo é o da destruição da instituição que se interpõe entre o indivíduo e o Estado. Essa instituição é a família natural.
Ainda há pouco tempo havia o estigma social que unia e consolidava a comunidade. O estigma social não era necessariamente fundado na lei, mas sobretudo na cultura antropológica, no senso comum, na lei natural ou lei racional, e na tradição com mais ou menos defeitos. O estigma social colocava os comportamentos-padrão de uma esmagadora maioria da sociedade em oposição aos de minúsculas minorias culturais.
Hoje, o poder do estigma social já não pertence à cultura antropológica, mas antes foi transferido para o Direito Positivo, o que traduz uma real perda da liberdade da sociedade em geral. A lei é produto da “vontade geral” controlada pelas elites, o que significa que a tendência da política é a de uma progressiva restrição das liberdades, e a ponto de os cidadãos virem a ter tendencialmente menos liberdade, real e efetiva.
A ilusão política, com que as elites atuais enganam os povos, consiste em convencer os cidadãos que cada vez mais “direitos” individuais se traduzem em mais liberdade individual. De fato, cada vez mais “direitos” conduzem a uma liberdade da indiferença, e à anomia, e por isso, à atomização da sociedade.
A transferência da capacidade de estigmatização social para o Direito Positivo formal e processual, retirando-a da cultura antropológica e da tradição, transforma cada e todo o cidadão em um prevaricador em potência face ao Estado. E é nisto que consiste o totalitarismo “suave” construído pelas elites atuais.
Se todos são, perante o Estado e perante as elites que definem as leis, prevaricadores em potência, todos os cidadãos são passíveis de uma estigmatização onipresente através da lei — porque à partida ninguém é inocente; o ônus da prova é invertido pela própria lei.
A sensação de culpa, própria dos estigmatizados sociais, está agora distribuída pela sociedade em geral, de forma quase indiscriminada e segundo critérios tendencialmente nepotistas e arbitrários; já não cabe à esmagadora maioria — à cultura antropológica — definir os tipos de estigmas sociais: em vez disso, é a lei, produzida pelas elites, que derrama o estigma social por todos os cidadãos, tratando-os como bandidos em potência.
A última fase da construção deste novo tipo totalitarismo é o da destruição da instituição que se interpõe entre o indivíduo e o Estado. Essa instituição é a família natural. E essa destruição está em curso.
Com a destruição da família natural ou nuclear, o cidadão fica definitivamente isolado face ao Estado, e é neste contexto que se institui, por exemplo, o “casamento” gay como um direito negativo — quando até há pouco tempo o casamento era, na cultura antropológica e na tradição, um direito positivo (e sendo um direito positivo, implicava a existência de deveres e de obrigações, por um lado, e por outro lado implicava a estigmatização de quem não respeitasse esse direito positivo).
Transformar o casamento em direito negativo é um passo importante para a atomização da sociedade que, por sua vez, é uma peça fundamental da consolidação do novo totalitarismo.
16 de abril de 2013
Orlando Braga
Nenhum comentário:
Postar um comentário