Maduro celebra vitória em palanque em frente ao Palácio Miraflores TOMAS BRAVO / REUTERS
A diferença de apenas 200 mil votos, inédita e absolutamente surpreendente para os chavistas, não só garante um mandato presidencial de seis anos para Nicolás Maduro como sinaliza o fim de um ciclo na política da Venezuela.
Por década e meia, o falecido Hugo Chávez cultivou o confronto e uso intensivo da máquina governamental como armas eleitorais. O "filho de Chávez", como Maduro se apresenta, tentou repetir a fórmula.
Maduro foi à luta. Fez denúncias diárias de conspirações patrocinadas pelo "Império do capitalismo" - e promete mais uma para hoje. Dispôs em média de 40 minutos diários da televisão estatal contra os quatro minutos por dia que o juízo eleitoral hegemonicamente chavista permitiu ao adversário Henrique Caprilles (na véspera da votação, Maduro chegou a fazer um comício de quatro horas, a pretexto de inaugurar mais um canal de televisão estatal).
E até subordinou a máquina governista às milícias criadas por Chávez, que fizeram o transporte de eleitores em todas as regiões.
O governo esperava uma vitória com uma diferença mínima de oito pontos de vantagem. Assustou-se e, por isso, o anúncio do resultado baseado em "tendência irreversível", como é regra do órgão eleitoral, acabou adiado em mais de duas horas.
Restou-lhe a submissão ao inevitável: a vitória sem brilho, com uma margem tão estreita (200 mil votos no eleitorado de 11,5 milhões que foi às urnas), o levou a anunciar em público um "acordo" com o adversário para uma autoria sobre cada voto registrado (a oposição insiste na ilegitimidade da vitória de Maduro até a recontagem de cada um dos votos)
O mapa de votação de Maduro e Caprilles só deve ser divulgado hoje. Mas a totalização já indica um encolhimento expressivo do chavismo na Venezuela, aparentemente por fadiga de material.
Isso começara a ser perceptível ainda com Chávez vivo e na sua perene luta pelo poder.
O chavismo começou a oscilar na boca de urna em 2006, quando Chávez obteve 7,3 milhões de votos. Enfrentou seu pior momento no ano seguinte, durante referendo para mudanças
constitucionais, quando viu seu apoio encolher para 4,3 milhões de eleitores. O líder recuperou-se em 2008, com 5,6 milhões de votos. Avançou para 6,3 milhões em 2009. Mas no ano seguinte recuou, com 5,4 milhões.
Chávez chegou ao ápice em outubro passado, em meio à doença que o matou, com 8,1 milhões de votos. Ontem, Maduro cravou 7,5 milhões - 600 mil votos a menos.
Seria ótima marca para um coadjuvante em início de carreira, se a oposição não confirmasse a tendência de crescimento gradual e sustentado.
Ela saiu de 4,5 milhões de votos, em 2006. Passou a 5,3 milhões no ano seguinte, subiu a 5,7 milhões, depois foi a 5,8 milhões e chegou à inédita marca de 6,5 milhões em outubro passado. Ontem, foi a 7,3 milhões, depois de 10 dias de campanha.
Detalhe relevante: o oposicionista Henrique Caprilles já havia superado Chávez em algumas das regiões mais pobres de Caracas em outubro do ano passado. É exemplar o caso de Sucre, município de grande concentração de pobreza. Ali, Caprilles avançou de 46,5% (em 2010) para 52,8% dos votos (2012).
A nação chavista pode ter motivos para festejar a vitória do sucessor de Chávez. É certo, porém, que a margem tão estreita quanto inesperada indica o fim de uma etapa do jogo político. A divisão extremada do eleitorado, consolidada ontem, indica o fracasso da ideia de hegemonia do modelo vigente há década e meia.
Nada será como antes na Venezuela. A nova etapa começa com elevado grau de incerteza com a recontagem de 100% dos votos reivindicada pela oposição a partir de hoje.
16 de abril de 2013
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Por década e meia, o falecido Hugo Chávez cultivou o confronto e uso intensivo da máquina governamental como armas eleitorais. O "filho de Chávez", como Maduro se apresenta, tentou repetir a fórmula.
Maduro foi à luta. Fez denúncias diárias de conspirações patrocinadas pelo "Império do capitalismo" - e promete mais uma para hoje. Dispôs em média de 40 minutos diários da televisão estatal contra os quatro minutos por dia que o juízo eleitoral hegemonicamente chavista permitiu ao adversário Henrique Caprilles (na véspera da votação, Maduro chegou a fazer um comício de quatro horas, a pretexto de inaugurar mais um canal de televisão estatal).
E até subordinou a máquina governista às milícias criadas por Chávez, que fizeram o transporte de eleitores em todas as regiões.
O governo esperava uma vitória com uma diferença mínima de oito pontos de vantagem. Assustou-se e, por isso, o anúncio do resultado baseado em "tendência irreversível", como é regra do órgão eleitoral, acabou adiado em mais de duas horas.
Restou-lhe a submissão ao inevitável: a vitória sem brilho, com uma margem tão estreita (200 mil votos no eleitorado de 11,5 milhões que foi às urnas), o levou a anunciar em público um "acordo" com o adversário para uma autoria sobre cada voto registrado (a oposição insiste na ilegitimidade da vitória de Maduro até a recontagem de cada um dos votos)
O mapa de votação de Maduro e Caprilles só deve ser divulgado hoje. Mas a totalização já indica um encolhimento expressivo do chavismo na Venezuela, aparentemente por fadiga de material.
Isso começara a ser perceptível ainda com Chávez vivo e na sua perene luta pelo poder.
O chavismo começou a oscilar na boca de urna em 2006, quando Chávez obteve 7,3 milhões de votos. Enfrentou seu pior momento no ano seguinte, durante referendo para mudanças
constitucionais, quando viu seu apoio encolher para 4,3 milhões de eleitores. O líder recuperou-se em 2008, com 5,6 milhões de votos. Avançou para 6,3 milhões em 2009. Mas no ano seguinte recuou, com 5,4 milhões.
Chávez chegou ao ápice em outubro passado, em meio à doença que o matou, com 8,1 milhões de votos. Ontem, Maduro cravou 7,5 milhões - 600 mil votos a menos.
Seria ótima marca para um coadjuvante em início de carreira, se a oposição não confirmasse a tendência de crescimento gradual e sustentado.
Ela saiu de 4,5 milhões de votos, em 2006. Passou a 5,3 milhões no ano seguinte, subiu a 5,7 milhões, depois foi a 5,8 milhões e chegou à inédita marca de 6,5 milhões em outubro passado. Ontem, foi a 7,3 milhões, depois de 10 dias de campanha.
Detalhe relevante: o oposicionista Henrique Caprilles já havia superado Chávez em algumas das regiões mais pobres de Caracas em outubro do ano passado. É exemplar o caso de Sucre, município de grande concentração de pobreza. Ali, Caprilles avançou de 46,5% (em 2010) para 52,8% dos votos (2012).
A nação chavista pode ter motivos para festejar a vitória do sucessor de Chávez. É certo, porém, que a margem tão estreita quanto inesperada indica o fim de uma etapa do jogo político. A divisão extremada do eleitorado, consolidada ontem, indica o fracasso da ideia de hegemonia do modelo vigente há década e meia.
Nada será como antes na Venezuela. A nova etapa começa com elevado grau de incerteza com a recontagem de 100% dos votos reivindicada pela oposição a partir de hoje.
16 de abril de 2013
José Casado - O Globo
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