De cada 100 brasileiros aptos a comparecer às urnas em outubro do ano que vem, 40 tinham menos de 16 anos ou nem haviam nascido quando o Plano Real liquidou a superinflação. Para essa fatia do eleitorado, é fraca a memória de preços galopantes, corridas aos supermercados no dia do pagamento e estresse cotidiano com o valor do dinheiro no banco.
Em meados dos anos 1990, o Brasil aproveitou-se tardiamente de uma onda mundial que, desde o início da década anterior, vinha reprimindo a inflação. O feito propiciou ao consórcio liderado por Fernando Henrique Cardoso oito anos de domínio da Presidência da República.
Os pressupostos da política econômica sob FHC foram mantidos pelo PT nos seis anos seguintes. Até que apareceu a crise financeira no final de 2008. Três décadas depois, os parâmetros que haviam baixado a inflação no mundo e inaugurado uma era de frenética finança global estavam de pernas para o ar.
Para quem gosta de fixar-se a padrões algo misteriosos, talvez haja ciclos longos, de 25 a 30 anos, alternando-se no capitalismo mundial. Estaríamos agora de novo entrando num período de maior tolerância com a inflação?
Na vizinhança, Argentina e Venezuela já reabriram a caixa de Pandora inflacionária. O efeito indesejável, para seus governantes, é o potencial político desestabilizador dessas variações abruptas no poder de compra das famílias.
Logo após o chamado milagre econômico da ditadura militar brasileira, a "carestia" animou a primeira vitória eleitoral da oposição, o MDB, em 1974. A inflação costuma oferecer aos adversários de quem está no governo uma plataforma imediata e poderosa de contestação.
A oposição ao PT no Brasil já entendeu esse jogo. Por isso, elevar os juros e evitar a escalada dos preços passou a ser crucial para a reeleição de Dilma Rousseff.
16 de abril de 2013
Vinícius Mota, FOLHA DE SÃO PAULO
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