À colunista do Estadão, o presidenciável tucano diz que a presidente foi eleita com fama de boa gestora, mas que ele mostrará "que não é nada disso", e que "as questões reais não foram resolvidas"; senador mineiro ganha também o apoio de Merval Pereira, do Globo, que aponta Dilma "no limite da ineficiência"; guerra está declarada e tucano tem aliados fortes
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) deu o grito de guerra e organizou seu exército.
Para o presidenciável tucano, a tática de ataque do partido em 2014, na eleição contra a presidente Dilma Rousseff, terá duas vertentes: uma, resgatar passado, não como bandeira, mas como "vacina"; outra, "explicar que se governos do PSDB já fizeram bastante podemos fazer mais e melhor".
Em entrevista à colunista do Estadão Dora Kramer, o parlamentar mineiro garante que irá mostrar que Dilma não é uma boa gestora, apesar de ter sido eleita com essa fama, diz ele.
"Vou mostrar que não é nada disso, que as questões reais não foram resolvidas, que não tem compromisso firme com a inflação e tem uma base política imensa que aprisiona e paralisa o governo", promete, às vezes se esquecendo de colocar, no início de suas frases: "Se eu for mesmo escolhido candidato do PSDB".
O presidenciável ganhou um aliado, o colunista do Globo Merval Pereira, para quem a presidente chegou "no limite da ineficiência". Merval critica o atual número de ministérios no governo, "um recorde na História desse país".
Leia abaixo as duas colunas, publicadas nesta quarta-feira 3:
Remoção de obstáculos - Dora Kramer
Fácil não vai ser, o senador Aécio Neves tem perfeita consciência disso, mas acha que também não é uma missão tão impossível assim enfrentar o governo na eleição presidencial de 2014.
Fácil não vai ser, o senador Aécio Neves tem perfeita consciência disso, mas acha que também não é uma missão tão impossível assim enfrentar o governo na eleição presidencial de 2014.
"Estamos nos preparando, sabendo que o segredo é entender o eleitorado e despertar a emoção das pessoas", diz ele, com o cuidado de incluir um "se eu for mesmo escolhido candidato do PSDB" ao início de cada frase.
Como nessa altura a ressalva é um recurso de linguagem meramente formal, às vezes esquece o protocolo e discorre livremente sobre o roteiro que já começou a cumprir para construir uma candidatura competitiva,
O trabalho por ora é de remoção de obstáculos. Primeiro trata da consolidação do apoio da seção paulista do partido a fim de superar a "agenda da divisão". Sem isso, é tempo perdido, conforme ensinaram as últimas três derrotas presidenciais.
O passo seguinte, a eleição (de preferência por unanimidade) para a presidência do PSDB. Em maio, numa convenção que produza fotografia simbólica: Fernando Henrique Cardoso representando o legado da estabilidade econômica, José Serra traduzindo unidade política, os jovens eleitos ou com bom desempenho na eleição de 2012 retratando o "time novo" e o comandante do partido subentendido como candidato a presidente da República.
E por que a necessidade de ter a presidência do PSDB como suporte para a candidatura se esta não é uma etapa indispensável nem uma prática comum nos partidos?
Em primeiro lugar, porque o PSDB não é um partido comum. Tem a marca de divisão, da ausência de comando e de referência de ação e pensamento.
Basta lembrar que o ex-presidente Fernando Henrique até bem pouco atrás falava sozinho em seus alertas em defesa de uma urgente reorganização geral do partido. Suas declarações tinham mais repercussão entre petistas que no meio dos tucanos.
Quando o candidato está no comando, ainda que delegue as funções administrativas fica no controle político da máquina. Um exemplo: tem poder de influir nas alianças regionais para que elas acompanhem os interesses da candidatura presidencial.
Outra razão, esta apontada pelo próprio Aécio: "Se estiver na presidência, não ficarei o tempo todo sendo questionado sobre a divisão do partido nem preciso falar oficialmente como candidato".
Resolvida a questão da tomada das rédeas, o senador se impõe um prazo de "seis a oito meses" para convencer as pessoas de que pode representar uma boa alternativa ao governo do PT.
Avisa logo que o estilo vai continuar ameno. Na forma, pelo menos. "Com ajuda de um esquema bem profissional", ele ainda ajusta os detalhes de linguagem, busca entender as demandas do eleitorado, incorporar os maneirismos da sedução, em suma: "Encontrar o melhor caminho para chegar lá".
O conteúdo está escolhido. O alvo, claro, a presidente Dilma Rousseff. "Ela foi eleita com fama de boa gestora. Vou mostrar que não é nada disso, que as questões reais não foram resolvidas, que não tem compromisso firme com a inflação e tem uma base política imensa que aprisiona e paralisa o governo."
Na visão de Aécio Neves, o aumento do endividamento das famílias, o efeito da inflação sentido no preço dos alimentos e a queda no consumo darão sustentação factual ao discurso.
A tática do ataque está entendida. E a defesa, o que propõe? Duas vertentes: uma, resgatar passado, não como bandeira, mas como "vacina" para não deixar que o PT pose de dono da estabilidade econômica, inventor dos programas sociais e defensor de patrimônios como a Petrobrás.
Outra, "explicar que se governos do PSDB já fizeram bastante podemos fazer mais e melhor, mostrando que o PT de repente precisa de um novo estágio na oposição. Até para rever e recuperar seus antigos valores".
O limite da ineficiência - Merval Pereira
Já que a principal qualificação da presidente Dilma Rousseff é a excelência gerencial, pelo menos na propaganda oficial, analisemos seu governo à luz da organização de sua estrutura administrativa, agora que mais uma secretaria com status de ministério, a da Micro e Pequena Empresa, foi criada.
São 24 ministérios, mais dez secretarias ligadas à Presidência e cinco órgãos com status de ministério, ao todo 39 ministérios, um recorde na História do país, além de uma dimensão que está dentro do que se conhece como "coeficiente de ineficiência", definido em estudo, já relatado aqui na coluna, de três físicos da Universidade Cornell, Peter Klimek, Rudolf Hanel e Stefan Thurner, depois de analisarem a composição ministerial de 197 países.
O estudo chegou à conclusão de que os governos mais eficientes têm entre 19 e 22 membros. O Brasil estaria no mesmo nível de ineficiência ministerial do Congo (40); do Paquistão (38); de Camarões, Gabão, Índia e Senegal (36), entre outros.
O empresário Jorge Gerdau, que atua como consultor do governo para melhorar sua gestão, perdeu a paciência com a situação e disse, em recente entrevista, que "tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período".
Para Gerdau, o país poderia ter apenas uma meia dúzia de ministérios, que são os que realmente a presidente Dilma controla diretamente. Os demais "ministros" raramente estão com a presidente, e alguns nunca foram recebidos por ela em audiência nestes mais de dois anos de governo. Napoleão Bonaparte concordava com Gerdau e dizia que nos altos níveis não se comanda com eficiência mais de sete subordinados.
O número de ministérios no Brasil tem aumentado a partir da eleição de Tancredo Neves, em 1985, segundo o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas do Rio, um estudioso da formação de governos, e seu levantamento vale a pena ser republicado por refletir a necessidade crescente de composições políticas, acrescida da busca desenfreada de minutos de propaganda eleitoral.
Antes de Tancredo, o governo Figueiredo tinha 16 membros, além dos cinco ministérios militares: Marinha, Exército e Aeronáutica, SNI e Emfa. Eleito, uma das primeiras coisas que Tancredo Neves fez foi aumentar o número de ministérios, para acomodar na sua coalizão uma série de facções do PMDB e do antigo PDS, transformado em Frente Liberal.
O primeiro Ministério de José Sarney, herdado de Tancredo, tinha 21 ministros, com três ministérios novos: da Cultura, da Reforma e Desenvolvimento Agrário, e o de Ciência e Tecnologia. O governo de Fernando Collor reduziu radicalmente o Ministério para dez, chegando a 12 no final, antes do impeachment, o que alimenta a tese de que ele caiu por não ter mantido bom relacionamento com o Congresso, e não pelas falcatruas de que era acusado.
Quando Itamar Franco assumiu, na crise da deposição de Collor, uma das primeiras coisas que fez foi ampliar o número de ministérios para 22, tendo sido criado o Ministério do Meio Ambiente.
O tamanho dos ministérios ficou em torno desse número no governo Fernando Henrique Cardoso, embora também ele tenha criado mais três pastas: a do Planejamento, a da Defesa e a do Esporte, e uma série de secretarias para acomodar facções políticas.
A partir dos governos petistas, especialmente depois da crise de 2005, a criação de ministérios disparou: saltou das 21 pastas do último ano do governo Fernando Henrique Cardoso para 34 no primeiro mandato de Lula, 37 no segundo e, agora, 39 com Dilma.
03 de abril de 2013
Minas247
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