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O que aconteceu no dia 31 de março de 1964 foi a resposta aos anseios da própria população brasileira diante da escalada de violência política e de instabilidade institucional pela qual passávamos.
A nova modinha política do momento é a malhação pública do deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). “Artistas” e “intelectuais” têm aderido em número cada vez maior aos protestos contra o parlamentar, e um zilhão de pessoas acharam conveniente desabafar toda a sua revolta nas redes sociais sob o lema “não me representa”. Não quero aqui entrar nos detalhes dessa demonstração coletiva de imbecilidade, mas analisar uma de suas muitas utilizações – demagógicas em sua maioria – para outros fins.
Vejam a foto abaixo. Ela tem sido compartilhada pelo grupo libertário Estudantes Pela Liberdade (EPL) para lembrar o movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart e interrompeu os sonhos totalitários de muita gente dentro e fora do Brasil.
Podemos analisar a imagem por duas perspectivas: o que ela quis dizer e o que ela efetivamente disse.
A mensagem que o EPL quis compartilhar, acredito eu, é a de que todo o Regime Militar não os representou. E, nisso, estou com eles. O Regime Militar também não me representa. Muitas políticas adotadas pelos governos dos generais foram autoritárias e deram ensejo à perseguição de pessoas inocentes.
Além disso, os governos militares tiveram um caráter essencialmente estatólatra do ponto de vista econômico, algo com o qual não posso concordar – o livre mercado é a forma mais eficiente e justa de promoção da inclusão social e do desenvolvimento econômico.
Mas, ao fim e ao cabo, suspeito que o último governo que possa ter minimamente me representado tenha sido o de D. Pedro II. No entanto, a pergunta realmente pertinente é: qual foi a mensagem que o EPL conseguiu, de fato, passar?
Ao contrário do que a historiografia oficial e oficiosa conseguiu sedimentar no imaginário do povo brasileiro, o movimento cívico-militar de 1964 não foi fruto das aspirações sinistras de poder e glória de um punhado de generais rancorosos com o conluio e o apoio entusiasmado de potências estrangeiras (diga-se, Estados Unidos).
O que aconteceu no dia 31 de março de 1964 foi a resposta aos anseios da própria população brasileira diante da escalada de violência política e de instabilidade institucional pela qual passávamos. Doze dias antes, quase 1 milhão de pessoas havia saído às ruas de São Paulo protestando contra o discurso que o presidente João Goulart proferira no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964 – em que garantia que “com ou sem o congresso, na lei ou na marra”, iria promover as reformas coletivistas que tanto queria. Já havia grupos de guerrilha devidamente montados, com apoio militar e financeiro de regimes comunistas (notadamente Cuba e União Soviética), e em atuação no interior do País.
Pessoas do alto escalão do governo e aliados próximos de João Goulart, como Leonel Brizola e Miguel Arraes, trabalhavam dentro do governo brasileiro a soldo desses mesmos países que financiavam a guerrilha rural brasileira. No dia 2 de abril de 1964, quase dois milhões de pessoas saíram às ruas do Estado da Guanabara (Rio de Janeiro) para mostrar seu apoio aos militares e agradecê-los por terem demovido um presidente que diuturnamente rasgava a Constituição e pavimentava o caminho para a implantação de um regime totalitário em solo pátrio. Tudo isso está devidamente documentado.
Se hoje gozamos de alguma liberdade – curiosamente tornada cada vez mais exígua por aqueles que pegaram em armas para derrubar o governo militar e implantar regimes totalitários –, isso se deve em muito ao movimento cívico-militar de 31 de março de 1964.
Esses homens atenderam ao chamado da população naqueles dias cumpriram seu dever constitucional e institucional de salvaguardar a nação contra um perigo iminente, homens esses que, em sua quase totalidade, não se locupletaram no poder nem o utilizaram para garantir um futuro dourado para si próprios.
E a mensagem que o EPL quer passar é que esse movimento das Forças Armadas em atender o legítimo clamor popular, cumprindo seu dever de proteger a nação, e ao menos atrasar a instauração de um regime totalitário comunista no Brasil não os representa. Isso tudo pode não representar o EPL, mas representa aqueles que conseguem enxergar a realidade dos fatos por trás da densa cortina de fumaça alimentada zelosamente pela esquerda brasileira há décadas.
Por isso eu digo: o movimento cívico-militar de 31 de março de 1964 me representa, sim! O que não me representa é a utilização demagógica e pouco refletida de armas retóricas da guerra cultural, forjadas pelos verdadeiros inimigos da liberdade para confundir e cooptar, na construção de um bom-mocismo daninho e perverso.
03 de abril de 2013
Felipe Melo
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