Artigos - Globalismo
A base desse antiamericanismo é a ideologia eurasiana, inventada pela NKVD nos anos 1920. Agora ela tornou-se a ideologia oficial da Rússia.
Semana passada escrevi sobre Boris Berezovsky, o bilionário russo cuja morte está sob investigação das autoridades britânicas. Para entender a carreira de Berezovsky como padrinho do capitalismo russo, pedi ao ex-oficial da KGB, Konstantin Preobrazhenskiy, para que nos mostrasse o panorama da vida pregressa de Berezovsky. Sem hesitar, ele disse que Berezovsky era um agente da KGB que obteve sua riqueza do Partido Comunista da União Soviética, e que assim foi com todos os outros oligarcas russos. Para compreender na totalidade o significado dessa revelação, os leitores precisam imaginar como seria se todo bilionário americano tivesse sido colocado no mercado pelo FBI com dinheiro do Partido Democrata. Que tipo de capitalismo se estabeleceria com esses alicerces? E outra questão: que tipo de sistema de mercado se estabeleceria?
No decorrer da entrevista que fiz na última semana coloquei essas e outras questões para Konstantin Preobrazhenskiy, que já trabalhou como conselheiro de alto escalão no Diretório "T" da KGB. Segundo Preobrazhenskiy, "a Rússia não é um país comercial. A Rússia Imperial antes de 1917 era um país comercial. Já a URSS e a atual Rússia – herdeira do regime anterior – é um país de espiões."
Perguntei a Preobrazhenskiy se alguma vez ele compartilhou esses conhecimentos com os dirigentes políticos dos Estados Unidos. "Oh não", disse ele rindo. "Eles correm das minhas opiniões". E por que um ex-oficial da KGB – que sabe a verdadeira natureza dessas coisas em primeira mão – é colocado de lado por aqueles mesmos a quem ele está tentando alertar? O Ocidente, disse Preobrazhenskiy, é prisioneiro do seu próprio wishful thinking [NT: literalmente "pensamento anelante", porém a expressão em inglês tem a abrangência e o contexto que a tradução literal para o português não tem]. "O mito de que a Guerra Fria acabou é a grande ilusão ocidental", explicou. "Façamos uma pergunta simples: Quando a Guerra Fria acabou? Qual a data? Quando foi assinado o armistício? E quem admitiu a derrota?" perguntou o ex-agente com uma ponta de sarcasmo.
"Muitos acreditam que a União Soviética foi derrotada", continuou o ex-oficial da KGB. "Mas talvez ela apenas ficou menor. Na verdade, não vejo muita diferença entre a atual Rússia e a União Soviética. Especialmente por conta de alguma de suas ex-repúblicas – independentes no papel – ainda serem governadas pelo Kremlin; E se você se aproximar de qualquer transeunte nas ruas russas e perguntar a ele se a Guerra Fria acabou, ele lhe dirá que não só não acabou, como os EUA ainda mantém viva a Guerra Fria contra a Rússia. Ele soube disso por meio da propaganda estatal."
Considerando a teoria do pesquisador Kevin D. Freeman de que a economia americana foi intencionalmente sabotada por "elementos viciosos da China comunista e da Rússia", perguntei sobre os esforços comerciais chineses e russos para minar a economia americana. "É impossível minar um país da grandeza dos EUA por meio do comércio", disse Preobrazhenskiy. "Mas é possível se fazer isso por meio de espionagem, sabotagem e outros tipos de atividades secretas. Tanto a Rússia como a China conhecem as vulnerabilidades americanas e eles estão explorando elas o máximo que podem."
Mas por que a Rússia e a China fariam isso?
“A mesma pergunta é feita pelos chefes da contra inteligência alemã e britânica”, respondeu o ex-oficial. “Na troca de informação entre eles eu sinto um sincero desentendimento: ‘Por que os espiões russos estão nos distraindo de trabalhos muito mais importantes como aqueles contra espiões chineses e terroristas muçulmanos? Eles não sabem que a Guerra Fria acabou?’ Quando ouço isso, abro um risinho irônico, pois a Rússia tem ótimas relações com chineses e muçulmanos. Não é de estranhar que o novo presidente da China, Xi Jinping, fez sua primeira visita não aos Estados Unidos, mas à Rússia; além disso, Putin rejeitou o convite para ir aos Estados Unidos e fez sua primeira visita à Bielorrússia, demonstrando então sua ideia de reconstruir a URSS. Você também deve estar especulando sobre qual a base ideológica a Rússia espiona os EUA atualmente. Essa base é o antiamericanismo. O objetivo atual deles é destituir os Estados Unidos do poder e da posição global ao qual eles têm hoje. A base desse antiamericanismo é a ideologia eurasiana, inventada pela NKVD nos anos 1920. Agora ela tornou-se a ideologia oficial da Rússia. Ela proclama oposição à América na base da amizade com Irã e China”.
Eu perguntei ao ex-oficial da KGB sobre o comprometimento da Rússia com o comunismo. O comunismo realmente está morto? E o capitalismo? Ele realmente triunfou?
“A Rússia jamais renunciou ao comunismo!” exclamou Preobrazhenskiy. “Não há documento oficial onde as autoridades russas disseram ‘Nós o renunciamos e condenamos’. Houve, é claro, uma tentativa de forçar a renúncia ao comunismo em 1992, quando caso judicial contra o Partido Comunista Soviético teve início. Mas logo um poderoso lobby comunista destruiu esse movimento. E isso não é tudo, como aprendi com Vladimir Bukovsky. O julgamento do comunismo foi encerrado a pedido do ocidente, pois os ocidentais estavam tão profundamente envolvidos no flerte com o comunismo soviético que se isso ficasse publicamente conhecido teria causado um escândalo”.
Eu perguntei se a continuidade do poder comunista na Rússia explica a disposição de Moscou em enterrar o último czar e ao mesmo tempo se recusar a enterrar Lênin.
“O aparente afastamento russo do comunismo não passa de uma operação cosmética,” afirmou Preobrazhenskiy. “Os comunistas agora se maquiaram de democratas; além disso, agora muitos turistas da China comunista estão chegando a Moscou, e o primeiro lugar que correm para ver é o lugar onde está exposto o corpo de Lênin. Alguns deles dizem ser esse o motivo principal da viagem a Moscou. Eu vi grandes multidões na tumba de Lênin. Como seria possível enterrar Lênin depois de tudo isso? Oh, quão ingênuo é o ocidente!”
Como Preobrazhenskiy trabalhou para a KGB no extremo oriente recrutando agentes chineses e japoneses, eu não pude deixar de perguntar sobre uma possível aliança militar entre Rússia e China. A isso ele respondeu imediatamente: “Essa aliança já existe”. Eu perguntei sobre qual alicerce essa aliança foi formada, já que a Rússia e a China eram rivais naturais.
“A China é um inimigo ideológico da América”, disse ele. “Ela não pode ser senão um adversário. Por outro lado, tanto a Rússia quanto a China desfrutam de uma compatibilidade ideológica: devoção ao comunismo e ódio à América. Os comunistas chineses já entenderam que os russos colocaram uma máscara de democracia ante o ingênuo Ocidente; mas perante a China eles não precisam dessa máscara, e sendo assim, eles se desmascaram. Ambos os países não declaram publicamente sua aliança antiamericana. É parte da cooperação para enganar a América. Veja, a compatibilidade ideológica já constitui uma estrutura suficiente para tal aliança. E como ela não é pública, ela diz respeito majoritariamente à cooperação em algumas esferas secretas. É na inteligência, acima de tudo, onde se dá a cooperação entre eles. Estou certo de que há algum acordo entre os serviços de inteligência russo e chinês para minar a América, mas ele é mantido em segredo.”
Alguns leitores ficarão irritados ao ler o testemunho de Preobrazhenskiy. Mas Konstantin Preobrazhenskiy não é o único a fazer essas afirmações. Outros desse mundo já desertaram e arriscaram suas vidas para avisar os americanos. Ainda assim a história é sempre a mesma. Os americanos não querem ouvir esses alertas. Estamos resolutos, enquanto povo, em acreditar no que é conveniente e aceitar propaganda inimiga sobre nós mesmos. Mas o capitalismo está morrendo aqui e agora, em solo americano. Como podemos explicar isso? Nós levamos apropriadamente em consideração o que está acontecendo? Nossa longa prosperidade nos mimou. Nosso bem-estar nos imunizou contra a verdade. Tornamo-nos um povo que prefere mentiras prazerosas a verdades doloridas. É melhor acordarmos, pois não resta muito tempo.
03 de abril de 2013
Jeffrey Nyquist
Publicado no Financial Sense.
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