"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 3 de abril de 2013

ACREDITE QUEM QUISER... DEZ ANOS DE PALANCAGEM, ENQUANTO O PAÍS DESCE A LADEIRA. HÁ MUITO QUE O NORDESTE SECA, E AS PROMESSAS FLORESCEM...

Seguindo a cartilha do chefe cascateiro, Dilma anuncia R$ 9 bi contra a seca
 
Dilma anuncia medidas contra seca em ritmo de campanha. Pela 6ª vez em 2 meses, ela vai ao Nordeste e agradece pela votação de 2010
 
Dilma Rousseff durante 17ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da Sudene. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma Rousseff durante 17ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da Sudene.Roberto Stuckert Filho/PR


Cada vez mais presente na Região Nordeste, reduto do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, seu eventual adversário em 2014, a presidente Dilma Rousseff passou esta terça-feira no Ceará em ritmo intenso de campanha.

Mais uma vez, em duas semanas, Dilma gastou muita saliva e prometeu abrir os cofres. Começou sua agenda de compromissos oficiais na reunião da Sudene: cercada de governadores, prefeitos e ministros, prometeu destinar R$ 9 bilhões para medidas emergenciais de enfrentamento da seca no Nordeste, tida como a mais grave em 50 anos.
Ciceroneada e muito festejada pelo governador Cid Gomes (PSB-CE), que governo e PT veem como aliado numa possível disputa com Campos, Dilma entregou pessoalmente chaves de máquinas a 59 prefeitos cearenses, com direito a fotos, abraços e comemorações efusivas dos beneficiados. No começo da noite, inaugurou uma escola profissionalizante e agradeceu pela votação recebida dos cearenses nas eleições de 2010.

Enquanto Cid se esmerou nos elogios a Dilma, coube a Campos e demais governadores fazer duras cobranças para que o anúncio da dinheirama realmente chegue para combater a pior:

— Meu muito obrigada. Aqui neste estado, tive uma das maiores votações para me eleger presidente da República. Sou presidente de todos os brasileiros, mas eu me sinto muito, muito mesmo, presidente de todos os cearenses — disse ela, com a voz rouca, no terceiro discurso do dia.

Dilma elogia Ciro, irmão de Cid

Nos últimos dois meses, foi a sexta visita de Dilma ao Nordeste. Nos três eventos desta terça-feira, ela deixou clara a sua preferência pela família Gomes: frisou a parceria com o governador e disse que os projetos hídricos do governo federal foram idealizados por Ciro Gomes (irmão de Cid), quando ele foi ministro da Integração Nacional, no governo do ex-presidente Lula, também lembrado por Dilma nos três eventos.

Cid comemorou as medidas e elogiou efusivamente a ação de Dilma, dizendo que nenhum outro presidente fez tanto pelo Nordeste quanto ela.

— Praticamente todas as nossas demandas foram atendidas, e algumas num grau até maior do que o esperado — disse Cid, sem provocar qualquer reação dos outros governadores.

Embora do mesmo partido, Campos destoou:

— A nossa disposição é fazer isso de maneira solidária, antes que comece o jogo de empurrar o problema um para cima do outro. Daqui a pouco, o prefeito vai para a praça pública, já que para o ano tem eleição, e vai dizer:
“Estamos aqui abandonados por conta disso, ninguém faz nada, só fazem se reunir”.
Aí o governador diz: “Eu tenho o dinheiro, mas não consigo tirar porque não tem isso, não tenho tal papel”. Ou seja, esse passo aqui, dessa reunião em Fortaleza, de ir vencendo as burocracias, de ir buscar o fundo a fundo, de ir fazer.

Após a reunião da Sudene, a Petrobras confirmou a implantação da refinaria Premium II no Ceará, um investimento de US$ 11 bilhões, o maior do século, segundo Cid. E Dilma anunciou mais um pacote de R$ 600 milhões de obras contra a seca no Ceará, além de dois empreendimentos em Fortaleza: a construção da ponte do Rio Cocó e a implantação de um centro de preparação e treinamento de atletas.

Medidas contra a seca


Na reunião da Sudene, Dilma disse que o combate à miséria nas regiões onde há seca amenizam a situação da população.

- As medidas estruturantes, junto com toda a estrutura de proteção social, montada pelo governo do presidente Lula e pelo meu governo, elas explicam porque a cara da miséria nessa região não foi tão acentuada perversamente pela estiagem - disse a presidente, citando a construção de barragens, adutoras e estações elevatórias.

Entre as medidas anunciadas por Dilma está a renegociação da dívida dos agricultores afetados pela seca nos municípios da Sudene com situação de emergência reconhecida pelo governo federal. As parcelas com vencimento entre 2012 e 2014 serão prorrogadas em dez anos, com primeiro pagamento 2015 (agricultura empresarial) e 2016 (agricultura familiar). Os agricultores familiares terão ainda um desconto de 80% pelo pagamento em dia. O governo ampliou a linha de crédito em R$ 350 milhões, o que totaliza R$ 2,75 bilhões.

Na distribuição de água, Dilma disse que serão colocados 6.170 carros-pipa para atendimento dos municípios em situação de emergência, com um custo mensal de R$ 71,5 milhões. O programa está a cargo do Exército, segundo a presidente, para evitar o uso eleitoral da medida. Hoje são 4.746 carros-pipa abastecendo 777 municípios.

A presidente anunciou a ampliação do programa de construção de cisternas. A meta é construir 130 mil unidades até julho e 240 mil até dezembro. No total, serão 750 mil cisternas para consumo até o fim de 2014. Além de 64 mil cisternas de produção até 2014. Entre janeiro de 2011 e março de 2013, o governo entregou 270.611 cisternas para consumo e 12.369 cisternas para produção.

- Assumimos o compromisso de construir 27 mil cisternas de produção e agora acrescentamos mais 40 mil, porque consideramos que as cisternas de produção são estratégicas no momento de iniciar dois processos, que é salvar os rebanhos existentes e nos preparar para ter de fato uma estrutura mais robusta para não ter uma perda de rebanhos a cada seca - disse a presidente.

Governo anuncia força nacional de emergência

O governo também se comprometeu em perfurar e recuperar poços. Serão 20 novos poços profundos de grande vazão, totalizando R$ 40 milhões. Mais 1.100 poços novos e 1.400 poços recuperados pela Codevasf e pelo Dnocs, totalizando R$ 93,3 milhões.

Dilma afirmou que o garantia-safra e o bolsa estiagem serão mantidos enquanto perdurar a seca. Atualmente, 769 mil agricultores recebem o garantia-safra, em 1.015 municípios. Cada família receberá entre R$ 140 e R$ 155, o que representa R$ 85 milhões ao mês. O bolsa estiagem atinge 800 mil agricultores, em 1.311 municípios. Eles recebem R$ 80 por família. A meta do governo é incorporar ao programa 361.586 beneficiários.

A presidente defendeu uma parceria com os governos estaduais para manter o programa de venda subsidiada de milho para alimentação dos rebanhos. Entre abril e maio serão destinadas 340 mil toneladas de milho ao Nordeste. Os estados serão responsáveis pelo transporte e distribuição do milho. De junho de 2012 a março de 2013, o governo federal disponibilizou 370 mil toneladas de milho, beneficiando 113 mil agricultores.

O governo federal vai entregar um conjunto de equipamentos (retroescavadeira, motoniveladora, caminhão-caçamba, caminhão pipa e pá-carregadeira) para 1.415 municípios, um investimento de R$ 2,1 bilhões. A presidente prometeu ainda simplificar o sistema de repasse dos recursos para as áreas atingidas pela seca. Antes da reunião da Sudene, os governadores do Nordeste se reuniram e a principal reclamação foi a burocracia na liberação dos recursos e na implantação das medidas.

- As medidas são necessárias e, em alguns casos, precisam ser ampliadas. Não temos mais pastagens, e os rebanhos estão morrendo. É preciso desburocratizar as ações. Por exemplo, a perfuração de poços está atrasada por causa da burocracia - disse o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB).

O governo federal também anunciou que vai criar uma força nacional de emergência contra a seca, além de um observatório. Ela será coordenada pelo Ministério da Integração Nacional e terá como primeira missão fazer um diagnóstico do abastecimento de água na região afetada. Já o observatório manterá um portal eletrônico com dados dos municípios e das ações do governo federal.

03 de abril de 2013
Luiza Damé - Enviada especial - O Globo

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