Somos uma democracia, isso é inegável. As instituições funcionam, a imprensa é livre, a sociedade sem amarras, não há resquício de ditadura entre nós.
Funciona perfeitamente? Não, claro que não. Há muito a ser feito ainda para que o Brasil possa se dizer uma Nação madura e equilibrada.
Para chegar ao ponto ideal, é preciso provar nosso amadurecimento como povo. A afirmação de amadurecimento só virá depois que conhecermos bem todos os detalhes de nossa vida política de 1º de abril de 1964 até agora.
Conhecer a verdade sobre nosso passado recente será nossa certidão de maioridade política. Os que não querem compreender isso têm medo de conhecer quem realmente fomos e preferem vedar os olhos para não ver que no primeiro tropeção, podemos voltar a experimentar o horror de outra ditadura.
É por pensar assim que me surpreende a pouca aceitação da Comissão da Verdade que o governo federal teve a boa ideia de instalar. Da mesma forma, choca saber que muitas pessoas são contra a exumação do corpo de João Goulart.
Além do direito absoluto de sua família à verdade, temos também nós esse direito e até esse dever, de procurar saber qual a causa da morte de nosso único presidente da República (eleito pelo povo, é bom que se diga!) que morreu no exílio.
Para que não haja nenhuma dúvida a respeito das conclusões às quais eventualmente se chegará, os procedimentos serão realizados por especialistas internacionais, conforme recomendação de nosso Ministério Público. Teremos peritos no assunto vindos dos EUA, da Argentina, do Uruguai, do Chile, eventualmente da Rússia, país que possui excelência nessa área.
A família de Goulart insiste em observadores internacionais e numa equipe universitária brasileira. Querem se cercar de todo cuidado para que a exumação tenha validade como prova na Justiça.
O que também é do nosso maior interesse. Se o presidente deposto foi envenenado, a prova será fundamental para se chegar aos culpados. E se for comprovado que não, que ele morreu de morte natural, esse capítulo será formalmente afastado de nossa história.
A Comissão Nacional da Verdade é composta por nomes sobre os quais não paira nenhuma sombra de má fé ou desamor ao Brasil. Se não dermos força à comissão, se consentirmos, por exemplo, que o Coronel Brilhante Ustra bata o pé e diga que não vai obedecer ao convite que é uma convocação, como poderemos, algum dia, saber a Verdade que se esconde em nosso passado?
Aliás, por que o coronel, embora reformado, não quer obedecer a um convite que vem com a força da Lei? Se a verdade está com ele, nada mais simples do que prová-la. Ou não?
Continuar a fugir da verdade é que não nos fará bem algum. Vai envenenar nossa alma, assim como a corrupção já envenena nossa algibeira, talvez o primeiro passo para o envenenamento da democracia tão arduamente conquistada.
10 de maio de 2013
Maria Helena RR de Sousa
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