Zuenir Ventura diz em seu artigo de anteontem publicado aqui no Blog: “Confesso que diante de alguns crimes hediondos ocorridos ultimamente — e vou me referir a apenas dois, o estupro da turista americana em uma van no Rio e o assassinato em SP da dentista queimada viva — senti aflorar meus instintos primitivos.
Não sei se fui o único a experimentar esse lamentável surto de regressão civilizatória, mas o fato é que desejei para os criminosos a Lei de Talião, do “olho por olho, dente por dente”.Respondo ao jornalista: você não foi nem de longe o único. Assim como não foi o único a se dar conta que isso seria “um lamentável surto de regressão civilizatória”.
Mas vamos ficar inermes diante da brutalidade crescente?
Talvez tenhamos esquecido do menino de seis anos que em fevereiro de 2007 foi arrastado por ruas e ruas, até a morte, preso na porta de um carro por bandidos sem alma.
Será que se os assassinos do João Hélio tivessem sido enforcados em praça pública nós não veríamos o que vemos agora? Os objetivos da pena de morte não são tirar de nosso convívio quem poderia fazer mais mal ainda? Impedir que cometa outros crimes? Vingar a vítima? Evitar novos crimes?
Clarence Darrow foi um grande criminalista americano. Foi dele a defesa de dois universitários que mataram um menino apenas para saber qual a sensação.
Crime famoso, ocorrido nos anos 20 do século passado, eles escaparam da pena de morte graças à brilhante defesa de Darrow.
Pegaram pena de 99 anos: um morreu na cadeia, assassinado por um companheiro; o outro foi solto sob condicional e morreu um homem de vida correta.
Ilustração de Alex Falco.
A mim até hoje me intriga o célebre Corredor da Morte americano, onde os condenados só podem ser executados se estiverem em perfeitas condições de saúde.
Os dois assassinos que Truman Capote descreveu em “A Sangue Frio” ficaram cinco anos à espera da execução.
A pena de morte nunca diminuiu os crimes nos países onde acontece de forma civilizada, após julgamentos baseados em leis sólidas. Será que aqui seria diferente?
Quando penso nos pais das vítimas desses crimes que hoje ensanguentam nossos jornais, meu primeiro pensamento é que seria muito bom vê-los morrer da mesma forma que mataram.
Passam-se os dias e me vejo pedindo perdão a Deus pelo meu pensamento.
Quando é que estou certa?
Ao ser interrogado pela imprensa sobre os motivos que levavam um advogado a defender assassinos tão medonhos, Darrow disse:
“Nunca hesitei em defender um homem acusado de assassinato, apenas para impedir um novo assassinato, desta vez pelo Estado. Se é verdade que o medo do castigo faz as pessoas deixarem de cometer crimes de morte, então por que o Estado procura formas de matá-los sem dor alguma? Não seria então mais educativo voltarmos às torturas medievais?”
Onde estará a resposta que nos livrará desse horror?
03 de maio de 2013
Maria Helena RR de Sousa
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