"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 4 de junho de 2013

MARACANÃ: AS MIL E UMA NOITES DE UMA OBRA INCOMPLETA

Estádio chega ao milésimo dia desde que foi fechado para reforma
  • Mesmo após reinauguração, ainda há o que fazer no local
Após reabertura, obras no entorno do Maracanã continuam Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo
Após reabertura, obras no entorno do Maracanã continuamMARCELO CARNAVAL / AGÊNCIA O GLOBO
 
Modernizado para a Copa das Confederações e o Mundial-2014 e oficialmente reinaugurado domingo, no empate em 2 a 2 entre Brasil e Inglaterra, o Maracanã já conta com uma nova marca de relevo para se juntar a tantos outros números monumentais que ostenta em sua história. Mas essa estatística não traz motivo algum de orgulho: ontem, o estádio completou mil dias desde que foi fechado para obras, há dois anos e nove meses.
 
E onde se lê dias, pode-se incluir também as noites, já que este ano os 6.500 operários — quatro vezes mais que o contingente inicial — têm se desdobrado em três turnos, muitas vezes varando madrugadas, sem parar nem nos fins de semana e feriados, para conseguir entregar o estádio a tempo. Uma correria que contribuiu — com horas extras, adicionais noturnos e gastos com energia elétrica — para a “reforma das mil e uma noites” ganhar um orçamento faraônico, superior a R$ 1 bilhão, quase 50% acima do custo inicial.
 
Ontem, dia seguinte à reabertura oficial, a presença de máquinas e trabalhadores logo de manhã no local mostrou que, embora já operável, o estádio ainda precisa de últimos ajustes, incluindo a retirada do entulho acumulado no estádio de atletismo Célio de Barros.
 
Andaimes ainda eram vistos em frente a algumas bilheterias para a pintura final. Por dentro, uma espécie de depósito com cabos, caixas e lâmpadas mostravam que o espaço dos bilheteiros não está totalmente concluído.
 
— As atividades em andamento no entorno do Maracanã incluem a finalização da área próxima ao Célio de Barros, o acabamento das melhorias realizadas no entorno e a limpeza da obra — resumiu o Comitê Organizador Local (COL) da Copa 2014, segundo a assessoria de comunicação do órgão. — É importante ressaltar que a conclusão dos estádios com seis meses de antecedência, conforme a Fifa e o COL pedem, evita que o período de uso exclusivo dos estádios coincida com ajustes finais de acabamento das obras e a montagem das estruturas temporárias — completou.
 
As mil e uma noites de obras, até agora, também foram de transtornos aos moradores. Desde o início da reforma — incluindo as de infraestrutura do entorno, de responsabilidade da Secretaria Municipal de Obras —, quem vive na região teve de aprender a conviver com a constante poeira e o barulho de máquinas.
 
Problema agravado nas últimas semanas, com a aceleração do trabalho. E, no fim de semana, os helicópteros foram companheiros nas conversas dentro de casa. Assim deve continuar nos três jogos da Copa das Confederações, além do esquema especial de trânsito, que fechou diversas ruas do bairro.
 
— As obras para melhorar a vida são válidas, mas não estou vendo nada de realmente concreto que melhore a vida de quem mora na região. Até o Célio de Barros e o Júlio Delamare, que serviam aos idosos e às crianças da vizinhança, foram fechados — reclamou a assistente administrativa Luciana Passos, de 40 anos.
 
Fechado desde o dia 8 de setembro de 2010, o Maracanã estourou todos os prazos na obra. A previsão inicial de entrega do estádio à Fifa, dezembro de 2012, foi adiada três vezes, para fevereiro de 2013, depois abril e, enfim, 24 de maio, exatos 990 dias após o fechamento.
 
Embora repassado oficialmente à Fifa, o estádio ainda não estava concluído. Os trabalhadores passaram a atuar sob a tutela da entidade máxima do futebol, e não mais do governo estadual. Mesmo em ritmo intenso, os últimos dez dias não foram suficientes para deixar a casa pronta. E a Copa das Confederações está logo ali: o primeiro jogo no Maracanã, México e Itália, será dia 16.
 
04 de junho de 2013
Allan Caldas - O Globo

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