"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 22 de junho de 2013

MOVIMENTO SEM LIDERANÇA É CONTRA A CORRUPÇÃO

Quem a representa é quem comanda o país: o governo do PT, os partidos e os políticos.
Não é preciso grandes habilidades sociológicas para tirar o estrato das manifestações: a revolta é contra a corrupção. E a corrupção tem como representantes visíveis, não necessariamente nesta ordem, o governo petista, os partidos e os políticos em geral. Análise precipitada? Não. Pesquisa realizada pelo Datafolha em São Paulo indicou que 50% dos manifestantes estavam ali para protestar contra ela, a corrupção.
 
Na mesma pesquisa realizada entre os manifestantes, o escolhido como Presidente da República foi Joaquim Barbosa, que encarna a condenação dos mensaleiros corruptos do PT, o partido que corrompeu meio mundo para chegar e ficar no poder. Barbosa alcançou o triplo de intenções de votos de Dilma entre os entrevistados. 
 
Em segundo lugar na pesquisa, apareceu Marina Silva, que é quem melhor encarna os "sem partido", tendo em vista a sua pregação neste sentido, apesar de estar montando a própria legenda. Partidos, para o povo, são estruturas corruptas e aí entra de novo o grande motivo dos protestos: a corrupção. Não são os tais movimentos de borda que a sonhática do Xapuri tanto fala que alavancam a sua popularidade. O que a coloca nas preferências é a sua posição, mesmo que oportunista e marqueteira, contra os atuais partidos políticos, ao ponto de não ter apoiado  ninguém no segundo turno de 2010. 
 
Outro fato ocorrido ontem é revelador. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) sugeriu, no twitter, a extinção dos atuais partidos políticos, diante da sua expulsão das manifestações. Virou a vidraça, sendo xingado, humilhado e contestado com veemência não pela sua ideia estapafúrdia, mas por não ter, antes de fazer a proposta, renunciado ao seu mandato, à sua legenda ou ao seu salário, comprovando que efetivamente estava defendendo a tese. Novamente, os manifestantes, desta vez os virtuais, marcaram posição contra os políticos. Estão exigindo atitudes.
 
Saindo das pessoas e indo para as pautas, as manifestações tiveram como pano de fundo, sempre, a corrupção. 
 
A Copa de 2014 é sinônimo de corrupção, com obras superfaturadas, obras prometidas e não cumpridas e sucessivos aditivos contratuais.
Os estádios, em vez de orgulho, despertaram ódio e revolta. Antes a corrupção conhecida era lá naquela ponte no fim do mundo, lá naquela barragem na selva, lá naquela estrada longínqua. Agora não. Agora a corrupção estava ali nos estádios da Copa das Confederações. Por isso a explosão de fúria contra a FIFA e contra Dilma Rousseff, expressada na sonora vaia recebida pelos mesmos no jogo inaugural da competição.
 
A PEC 37, mesmo que timidamente, também apareceu nas pautas dos manifestantes. Em função da campanha feita pelo MPF, é conhecida como a PEC da Impunidade, pois reduziria o poder de investigação do órgão, que seria entregue para uma polícia corrupta, comandada por governantes corruptos. Novamente, de forma atravessada, a corrupção está no centro da demanda.
 
O fim do voto secreto dos parlamentares é outra reivindicação. Desnecessário interpretar que a leitura feita pelo eleitor é de que existe venda de votos quando, na verdade, o sufrágio secreto também tem a função de proteger o parlamentar de pressões internas e externas, bem como de perseguições futuras. No entanto, como a venda de votos é escancarada - vide o Mensalão -, novamente a corrupção está no centro da demanda. Neste tópico, podemos incluir outros motivos citados nos cartazes e palavras de ordem dos protestos: o fim do foro privilegiado para parlamentares, a prisão imediata dos condenados pelo Mensalão e a renúncia de Renan Calheiros da presidência do Senado. Mas a maior de todas as provas de que a corrupção é a palavra de ordem que move todos os protestos é o pleito para que seja transformada em crime hediondo.
 
O PT e Dilma
 
O PT, que tentou levar suas bandeiras às ruas, queira ou não a mídia simpatizante, queira ou não o governo e sua máquina, queira ou não a ampla coalizão que dele se beneficia, está identificado umbilicalmente com a corrupção. As suas bandeiras não foram queimadas por tucanos. Foram queimados por carteiros, talvez a mais antiga categoria de trabalhadores do país.
A tentativa da #OndaVermelha convocada nas redes sociais pelo seu presidente, Rui Falcão, ao amanhecer do último dia de protestos, convocando a militância a ir às ruas, soou como uma provocação. E era. O resultado foi o esperado. Pacíficos manifestantes sem partido escorraçaram os petistas das ruas, juntamente com cutistas, psolistas e qualquer um que trouxesse uma cor ou um logotipo para as manifestações. 
 
É de registrar que, antes do pronunciamento de Dilma Rousseff, no dia de ontem, Rui Falcão voltou às redes sociais e postou a #hashtag TamoJuntoDilma, para ser usada pela militância virtual após o discurso. Resultado? Os manifestantes virtuais impuseram um #CalaBocaDilma que ocupou por horas e horas os trend topics mundiais. No mundo inteiro, esta foi a expressão mais tuitada.
 
Segundo o Datafolha, em pesquisa realizada entre os manifestantes da Avenida Paulista, Dilma saiu das manifestações com mais de 60% de ruim e péssimo por sua pífia reação diante das manifestações. Apenas 15% efetivamente aprovaram a sua ausência diante não somente da violência, mas também das reivindicações.
Para quem ostentava números exatamente inversos em todas as pesquisas de popularidade, a queda é brutal e tende a se espraiar pelo país, já que em todas as capitais houve manifestações com o mesmo tom e as mesmas palavras de ordem.
Novamente, frise-se, a corrupção foi a cola que uniu todos os cacos dos protestos.
 
Redes Sociais: Mobilização x Informação
É apropriado que os analistas não olhem apenas a força de mobilização das redes sociais, esquecendo que o principal instrumento usado para orientar e organizar os protestos, para o bem ou para o mal, foram os celulares e suas maravilhosas APPs. As redes sociais foram importantes muito mais pela informação do que pela mobilização porque trabalham um conteúdo cada vez mais rico.
Hoje, todas as provas da corrupção estão na rede. Grampos telefônicos. Fotos. Reproduções de processos.
Há uma intensa viralização de conteúdos sobre o tema e, em questão de horas, um vídeo no youtube atinge mais de um milhão de views. E atenção: se não há provas, as milícias virtuais de ONGS, de partidos e mesmo de governos as produzem para destruir reputações. Recortam uma notícia velha aqui, uma foto montada ali, um processo arquivado acolá, reúnem, em horas, um verdadeiro dossiê contra políticos, sejam eles honestos ou corruptos, dependendo da intenção. Depois, basta jogar no facebook com alguma ativação pelo twitter e o estrago está feito. Foi o que ocorreu. A mobilização contra a tarifa de ônibus em São Paulo, ao ser coibida com rigor pela PM paulista, foi o sinal para que os mais diversos grupos, agindo em rede, levassem as pautas contra a corrupção para as ruas. Havia uma motivação central, havia informação, havia canais de mobilização. Havia, também, a inspiração em movimentos mundiais realizados com sucesso e o mundo estava olhando para o Brasil. Nada mais clichê do que a menina enrolada na bandeira do Brasil oferecendo uma flor ao policial. Como disse FHC, a coisa está mais para Maio de 68 do que para Diretas Já.
 
O Fator Copa
 
Brasília, em especial, São Paulo e Rio com maior intensidade, recebem manifestações regularmente, diuturnamente. Brasília tem até cinco protestos por dia. Nas demais capitais, ocorrem marchas quase que diárias. Recentemente, índios invadiram o Congresso e tentaram invadir o Palácio do Planalto. Desta feita, no entanto, houve o fator Copa das Confederações. Para os manifestantes, a oportunidade de mostrar a sua poesia ou a sua violência para o mundo, já que todos os olhos estavam voltados para o Brasil. O sinal de que daria certo foi a vaia em Dilma, no jogo de abertura. Aqueles torcedores, pagando caro ingresso, bebida e pipoca, além de ter caminhado quilômetros em função da  desorganização do trânsito, ainda ouviriam discursos de políticos? De forma alguma. E a vaia cruzou o mundo e virou capa nos principais portais internacionais. Um a zero para os manifestantes, sem que houvesse uma só reação do governo. 
 
A partir da interpretação da vaia, via artigos e mais artigos, os jogos da Copa das Confederações e os estádios também passaram a ser alvos dos protestos. Tendo em vista que a segurança em eventos internacionais não é flexibilizada, a violência policial imperou, colocando mais combustível nos enfrentamentos entre manifestantes e polícia. Sim, a mídia tem a sua parcela de culpa ao demonizar a polícia, fazendo-a recuar e cruzar os braços, ao exibir repórteres feridos com balas de borracha. Não teve a mesma isenção para mostrar os manifestantes batendo em repórteres e em informar porque os seus jornalistas estavam na rua sem identificação.
 
A rua continua
 
Os protestos devem continuar enquanto houver a competição, pois ela virou símbolo da corrupção. Ontem, Dilma Rousseff foi extremamente infeliz ao tentar justificar o custo dos estádios. E ao tentar convencer a população sobre a transparência das contas públicas, quando esconde as suas despesas de viagem e os empréstimos que faz a alguns países socialistas, como Cuba e Nigéria.
 
O incensado João Santana, diante da gravidade dos fatos, teve que pedir ajuda a Franklin Martins para redigir a fala presidencial. O pronunciamento poderia ser qualificado de impecável, em outras oportunidades.
Com a sujeira da corrupção vertendo para as ruas soou falso, burocrático e vazio. Os tempos são outros. Não será nada fácil enganar o eleitor.Encantá-lo? Quase impossível.
 
22 de junho de 2013
in coroneLeaks

Nenhum comentário:

Postar um comentário