Artigos - Movimento Revolucionário
O mecanismo é sempre o mesmo. Um grupo de pessoas faz propostas utópicas e sai às ruas. Se tem algum tipo de ressonância, a coisa cresce, mas ninguém se lembra mais da utopia inicial.
Pior quando chegar o momento em que turbas contrárias tomarem o espaço público com propostas opostas. A chance de guerra campal é toda.
A explosão de violência que ontem se viu, ao abrigo do chamamento para mobilização do Movimento Passe Livre, era perfeitamente esperada. Nenhum movimento de massa, bradando palavras de ordem raivosas, escapa a esse desfecho. O surpreendente, desde o início, foi o apoio dado pelos meios de comunicação na convocação e no incentivo para que a população fosse às praças públicas. Toda essa geração que está fazendo jornalismo e era adolescente em 1968 parece tomada por uma nostalgia perigosa, que quer o revival daquele tempo louco. A manifestação também revela a adesão dessa gente – e não apenas dela, mas de um grande grupo da classe intelectual – que anseia por algum tipo de revolução em seu tempo de vida.
Milagrosamente o Brasil tem escapado, desde o século XX, das revoluções genocidas que então vimos. Essa mentalidade revolucionária está disseminada e contribui para a perda do senso crítico e mesmo do instinto de perigo. Revolução é morte e genocídio, sangue e dor. Mas os que anseiam pela revolução parecem ignorar as lições da história.
O mecanismo é sempre o mesmo. Um grupo de pessoas faz propostas utópicas e sai às ruas. Se tem algum tipo de ressonância, a coisa cresce, mas ninguém se lembra mais da utopia inicial. Agora o pedido principal é duplo, tarifa zero e estatização do transporte coletivo. Ambas as proposições são inexequíveis, pois não há recursos para tal. O passo seguinte é imaginar como pôr a ideia absurda em execução, sempre em prejuízo da propriedade privada, em geral mediante elevação de impostos, ignorando que estes já são proibitivos. O não atendimento das reivindicações dá a falsa motivação para a continuidade do movimento, até o paroxismo.
A utopia permite o discurso auto referenciado, retro alimentador, permitindo a mobilização alucinada da militância.
A nota deprimente dos acontecimentos recentes é a omissão descarada das autoridades. Aos governantes do PSDB faltam as convicções democráticas essenciais de que a sociedade aberta não pode prescindir de ordem e respeito à lei, cabendo a elas mesmas comandar a repressão aos excessos. A omissão da polícia tem sido uma das causas, não apenas para o crescimento do movimento, mas sobretudo para a elevação da sede de violência da turba.
Os acontecimentos recentes lembram em muito aqueles que se viu no anos 30 do século passado. É a ideia cara aos revolucionários a da “ação direta”. Esse método de ação política é essencialmente violento e perigoso. Pior quando chegar o momento em que turbas contrárias tomarem o espaço público com propostas opostas. A chance de guerra campal é toda. O que vimos de violência até agora parecerá desfile pela paz.
O desgaste das forças políticas parece generalizado. Até o PT colheu o seu quinhão, mas não devemos esquecer que é esse partido aquele que cultiva os grupos radicais partidários da ação direta, como é o MST.
É ele o capitão do time, o único que poderá colher frutos se o movimento revolucionário prosperar. Nos tempos atuais as duas únicas forças capazes de “fechar o sistema” são as Forças Armadas, cada vez mais desarmadas no plano político, e o próprio PT, partido com aptidão totalitária e com projeto político totalitário. Quem apoia o povo na rua não pode esquecer de que pode estar dando o poder total discricionário ao PT.
Realmente espero que nos próximos dias a autoridade seja restabelecida e que as convicções democráticas prevaleçam, apoiando a polícia na repressão dos baderneiros.
Comentário em vídeo:
A decisão de baixar as tarifas de transportes públicos foi o maior erro político de Geraldo Alckmin e o PSDB, secundado por Fernando Haddad, porque mostrou falta de autoridade do governo. A massa rebelada não poderia ter essa vitória. Agora a praça pública será alvo de todas as manifestações que queira dobrar o governo.
http://www.youtube.com/watch?v=Fh1Tb1URtx0&feature=player_embedded
22 de junho de 2013
Nivaldo Cordeiro
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