O governo terá de cuidar com urgência de dois problemas, se quiser comandar uma reativação econômica puxada pelo investimento. Precisará restabelecer a confiança de empresários e consumidores, fortemente reduzida depois de mais um semestre de inflação alta, baixo crescimento e muita incompetência na maior parte da administração pública.
A onda nacional de mau humor, confirmada por uma série de sondagens, como a nova pesquisa CNT/MDA, está refletida na sensível piora de avaliação do governo e da presidente Dilma Rousseff. O outro grande problema é a baixa eficiência do próprio setor público, incapaz de cumprir a maior parte de suas promessas e, de modo especial, de destravar e pôr em movimento os programas e projetos indispensáveis a uma retomada firme do crescimento.
Se a presidente e sua equipe exibirem mais seriedade e competência do que mostraram até agora, poderão mais facilmente fixar um rumo para a economia nacional e influenciar de forma positiva as expectativas dos agentes particulares. Nada conseguirão, no entanto, com mais bravatas e tentativas de enfeitar um cenário muito feio.
Três sondagens divulgadas ontem evidenciaram de novo a crise de confiança no governo e nas perspectivas da economia. Em apenas um mês, de junho para julho, a avaliação positiva da administração federal caiu de 54,2% para 31,3%, segundo a pesquisa CNT/MDA. No mesmo período, a expectativa de melhora da situação do emprego diminuiu de 39,6% para 32% e a de piora quase dobrou, passando de 11,5% para 20,4%. A esperança de aumento da renda mensal encolheu de 35,8% para 29,6%.
Outra pesquisa importante, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou uma nova queda do Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei). Com a redução de 54,8 para 49,9 pontos, o indicador chegou em julho ao nível mais baixo desde abril de 2009, quando o País ainda experimentava os efeitos da recessão iniciada no fim do ano anterior. O Icei varia de zero a 100 e valores acima de 50 indicam empresários confiantes.
Houve piora tanto da avaliação das condições atuais da economia e da empresa, comparadas com as dos seis meses anteriores, quanto da expectativa para os seis meses seguintes.
O indicador de confiança diminuiu nos três grandes segmentos industriais, mais acentuadamente no setor de transformação do que na construção e na mineração.
O quadro é perfeitamente compatível com a piora dos indicadores deprodução e de emprego divulgados nas últimas semanas por entidades oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e por associações privadas. Também ontem a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apresentou os dados de emprego do mês passado.
O nível caiu 0,23% de maio para junho, descontados os fatores sazonais, e ficou 1,05% abaixo do registrado um ano antes. No primeiro semestre, o índice foi 2,31% superior ao de um ano antes, graças, em grande parte, à expectativa de reativação dos negócios. Mas antes de junho essa expectativa já começou a se esvair.
O resultado do semestre reflete o panorama da economia em 2013, com uma atividade industrial "aquém das expectativas", comentou o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini. Quanto à estimativa para os meses seguintes, acrescentou, é "nada alvissareira".
Até agora, a presidente e sua equipe se mostraram preocupadas principalmente com os efeitos eleitorais da piora de sua imagem. Todas as suas respostas, até agora, foram obviamente orientadas por uma visão de marketing de campanha. Nada foi feito para motivar a recuperação da confiança na evolução da economia e, de modo especial, na gestão econômica do governo a partir deste semestre.
Ao contrário: os anúncios mais notáveis, nesse campo, foram de mais truques para maquiar as contas públicas. Como reavivar a confiança dos cidadãos, se nem o governo pode acreditar no próprio discurso?
17 de julho de 2013
Editorial do Estadão
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