"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 17 de julho de 2013

A COCEIRA, A TIREOIDE E A CONSULTA DE 2 MINUTOS



Há alguns anos, assim sem mais nem menos, uma terrível coceira começou a me atormentar.
Fui então a um clínico geral do plano de saúde que havia contratado.
Claro que ele pediu alguns exames, de sangue.
Viu depois o resultado - tudo normal. 
Me mandou então para um alergista.
Claro que ele pediu mais exames.
Todos, menos um, estavam normais.
"Você deve ir a um endocrinologista, tem alguma coisa errada com os hormônios da tireoide", disse.
Contei a história para o endocrinologista, que, claro, pediu um monte de exames - e me mandou fazer outros - peso, massa corpórea, essas coisas - numa sala de sua clínica.
Quando viu os exames, disse que eu estava com hipertireoidismo, me receitou alguns medicamentos - que deveria comprar numa farmácia de manipulação indicada por ele - e mandou que fizesse um ultrassom da tireoide.
Fiz, deu que havia um nódulo na glândula.
Tive de fazer uma punção para saber se o nódulo era maligno ou benigno.
Era benigno.
A coceira, algum tempo depois que comecei a tomar os remédios, passou.
Novos exames mostraram que os hormônios da tireoide voltaram aos níveis normais.
Passei uns dois anos indo a esse médico, que pedia, a cada consulta, novos exames para ver se tudo ia bem com a danada da glândula.
Deixei de ir porque ele não atendia pelo plano de saúde do novo emprego que arranjei.
E também porque havia me cansado de, a cada vez que ia me consultar, ter de esperar pelo menos uma hora para ser atendido, apesar do horário marcado - certa vez a espera durou uma hora e meia.
Ele só atendia na sua clínica pela manhã - calculo que entre 30 a 40 pessoas.
Como conseguia essa façanha?
Simples: as consultas duravam, em média, uns 5 minutos.
No meu caso, mais ou menos uns 2 minutos, à exceção da primeira, que deve ter demorado uns 10 minutos.
Bem, para terminar essa historinha: o sujeito, graças aos exames, diagnosticou certo o que eu tinha, e os remédios - que comprei uma farmácia de manipulação indicada por ele, embora custassem a metade do preço em qualquer drogaria - fizeram efeito. 
Mas...
Acho que seria legal se ele gastasse uns poucos minutos a mais para saber efetivamente como eu estava de saúde - tirasse a pressão, auscultasse o coração e o pulmão, fizesse essas coisas todas que um médico de verdade deveria fazer toda a vez que consulta um paciente.
Paciente...
Taí uma boa palavra para me definir toda a vez que ia a essa clínica.
Precisei de muita paciência para aguentar o tipo.
Até que ela se esgotou e fui levar minhas indisposições a outro profissional.
Que também pediu exames e mais exames.
 
17 de julho de 2013
crônicas do motta

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