‘A base está muito nervosa’, diz Eduardo Cunha, líder do PMDB
Todo mundo à beira de um ataque de nervos. Assim está o clima entre parlamentares e integrantes do governo neste final de semestre, depois que a pressão das ruas mudou a pauta e, na tentativa de minimizar as perdas políticas, governo e Congresso tentam jogar a batata quente um no colo do outro. Ainda perplexos e sem saída, PT briga contra PT, o PMDB, contra aliados, e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tocam a ferro e fogo uma “pauta positiva” para salvar a própria pele.
A semana termina com reuniões marcadas pelo estresse. Sem falar na presidente Dilma Rousseff, no limite da exaustão, tentando mostrar controle da situação, ouvindo movimentos sociais e fugindo de vaias. E dirigentes do Congresso já admitem o descontrole. Numa das votações da semana passada, com prejuízo para o governo, Henrique Alves teria comunicado ao vice-presidente Michel Temer que não tem mais como controlar as decisões do plenário.
No olho do furacão, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chorou em reunião da Executiva do PT. Num discurso, disse que o PT tinha enfrentado muitas crises em seus 33 anos e que não eram essas dificuldades que iriam derrubar o partido.
— A base está muito nervosa — diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), saudado pelo líder do DEM , Ronaldo Caiado (GO), como “o novo líder da oposição”.
Um dirigente do PMDB diz:
— Está todo mundo estressado. Já acorda de olho no Facebook para ver se tem manifestação. Renan e Henrique acham que o Planalto quer tirar o foco da crise e jogar para cá. Mas é um tiro pela culatra. Se pegar aqui, pega Dilma também.
No Senado, estresse, cansaço e descrédito
A tensão está por todo lado no Congresso. No Senado, na noite de terça-feira, durante a primeira votação que rejeitou a proposta com novas regras para os suplentes de senadores, o até então ponderado Delcídio Amaral (PT-MS) explodiu.
Em discurso emocionado, chamou a sessão de dantesca e dirigindo-se a Renan, de dedo em riste, disse que ele tinha que se responsabilizar por tudo que estava sendo votado:
— O senhor tem responsabilidade, porque o senhor é o nosso condutor. Há verdadeiras barbaridades que estão sendo feitas no Senado nos últimos dias. Muita gente está reclamando, mas está intimidada e ninguém fala. Nós estamos votando coisas que são absolutamente irresponsáveis. Eu espero que isso termine logo e que venha o recesso parlamentar. Eu espero que a gente avalie bem as nossas agendas, porque nós estamos chegando a uma situação absolutamente inadministrável!
Ao final da mesma sessão, o líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), manifestava descrédito e cansaço.
— Estou no limite, cansado, cansado, cansado! Mas meu estresse é por excesso de trabalho. O governo está sem norte, e a falta de liderança está levando a esse estresse na base. A presidente Dilma tem que ser o norte, e ela não consegue oferecer isso. Por isso a confusão. Mas em briga de inhambu, jacu não entra — disse o tucano.
Cansado de apelar para que entrasse na “agenda positiva” a chamada PEC dos mensaleiros, que prevê perda automática do mandato em caso de condenação no Supremo Tribunal Federal, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também explodiu na noite de quinta-feira, quando constatou que a proposta seria engavetada. Depois de cobrar de Renan uma providência, bateu boca com o relator designado, Eduardo Braga (PMDB-AM), e Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Acusou os dois de estarem segurando a votação.
Jarbas Vasconcelos disse que procurou os dois, obteve promessas de que a PEC seria pautada, mas nada ocorreu. E reclamou que estava sendo tratado como “moleque”:
— Nenhum dos dois fez nada, em profunda ação desrespeitosa a um colega. Por que não me disseram que a matéria era inconveniente? Agora vêm com essa história de agenda positiva? Isso é pura lorota. Agenda positiva teria de ter essa PEC.
Quando Braga tentou explicar que estava estudando a matéria, Jarbas reagiu:
— Isso é conversa para boi dormir...
15 de julho de 2013
Maria Lima e Isabel Braga - O Globo
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