Quem leu não teve dúvida nenhuma: era o próprio Partido dos Trabalhadores, dizia eu, que estava por trás de tudo aquilo. Pois bem, sabem o que mudou na minha ideia? Absolutamente nada! Continuo sustentando a mesma coisa e nessas linhas vamos descobrir quem saiu vitorioso na confusão toda.
Antes dos protestos de junho a situação do núcleo dirigente do PT no Brasil – Lula, José Dirceu e a ralé de Ribeirão Preto - não podia ser pior. De certa maneira, o desfecho do julgamento do Mensalão ainda era a principal preocupação dos brasileiros politizados (desculpem, mas acabei de inventar que existem brasileiros assim..rsss...rsss). Além disso, clamava-se manifestação de Lula sobre os gastos de sua amante – a famosa Rosemary Noronha.
Pergunto a vocês – depois que essa confusão toda começou, vocês escutaram alguém do seu meio de relação tocar nesses temas? Eu não; e por isso mesmo não tenho dúvida em afirmar que o grande vencedor nessa coisa toda foi o próprio Lula. Em qualquer sociedade, o desespero frente à desordem tem como resposta um ato reflexo – lembrar do último período de “prosperidade” e “crescimento do país”. Que período foi (ou querem que pensemos que tenha sido) esse, meus leitores, senão os oito anos de governo do ex-presidente, hein?
O que precisa ficar claro é que toda essa confusão foi provocada pelo próprio PT para fazer uma substituição de urgência antes de 2014 – tirar de campo o desgastado “petismo” e apelar para uma alternativa muito mais popular...mais carismática, e por isso mesma mais perigosa – o Lulismo. É necessário saber distinguir um fenômeno do outro.
Deixando de lado o óbvio aspecto do culto à personalidade do eterno presidente, o Lulismo é uma visão de poder muito mais imediatista, mais rasa e, por isso mesmo, menos democrática. Insisto em dizer que Lula é um eterno habitante do inconsciente coletivo do povo brasileiro e resume aquilo que há de pior na gênese da nossa sociedade.
Em 1500 desembarcou no país uma esquadra portuguesa. Gilberto Freire, em “Casa Grande e Senzala”, mostra com perfeição as intenções das pessoas que vieram para cá. Longe de mim resumir esse que considero “um dos livros da minha vida” numa frase, mas se tivesse que cometer essa barbaridade diria o seguinte – “ninguém pretendia, a princípio, formar família no Brasil.” Disso conclui-se que aqui chegou primeiro o Estado e, “sempre correndo atrás dele”, bem mais tarde veio a sociedade.
Em 1808, com a chegada de uma corte católica, hipócrita, e apavorada com Napoleão, acumula-se mais ainda o déficit de representação eterno entre povo e governo brasileiros. Não há, afirmo eu, em toda história política do país candidato que não saiba explorar com maestria essa sensação de eterno distanciamento...essa noção de “nós” e “eles”..e esse sentimento perene de não ser (como de fato não somos) cidadão...
Lula não é exceção a essa regra, mas traz no caráter traços de um desprezo tão grande pelo estudo, pelo esforço e pela noção de mérito que o pouco da herança cultural brasileira que foi capaz de sobreviver a esses dez anos de petismo há de perecer num próximo governo dele.
Até agora, não vi no Brasil qualquer esboço de oposição capaz de fazer frente a esse plano que descrevi aqui. Imagino dois motivos: ou a classe política simplesmente discorda disso tudo e caracteriza o “Milton como mais um paranóico de ultra-direita”; ou sabe que é verdade e não faz nada imaginando que possa lucrar nos acordos com esse tipo de gente.
Fico com a última hipótese, mas lembro o seguinte – qualquer político brasileiro percebe que “quem não faz aliança; não se elege e “quem faz; não governa” .Talvez essa tenha sido até 2003 a lei mais importante da política brasileira. Acredito eu que continuaria sendo caso o Partido dos Trabalhadores não tivesse chegado ao governo federal pois o PT, meus amigos, elege-se com todas as coligações possíveis e trai todas elas com uma facilidade capaz de constranger Hitler e provocar a inveja de Stalin.
Termino dizendo o seguinte: surgiram no Brasil as primeiras condições de formação de uma atmosfera que sustente vida – a vida da oposição. Se essa vida se tornar inteligente perceberá que somos escravos de um partido que tentou até hoje ser “governo e oposição” ao mesmo tempo, que desencadeia passeatas, incendeia ônibus, saqueia lojas e produz contra si mesmo, quando lhe convém, aquelas tempestades de um planeta politicamente primitivo – um novo e conveniente tipo de tempestade - a tempestade politicamente perfeita.
15 de julho de 2013
Milton Simon Pires é Médico.
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