Partido avalia que, mesmo sem participar das recentes manifestações, população pobre se sente representada pelas demandas das ruas por melhores serviços públicos
A onda de descrédito que se voltou contra todos os partidos e políticos nas manifestações de junho atingiu em cheio um dos mais importantes e tradicionais redutos eleitorais do PT no País: a periferia de São Paulo.
Pesquisas internas realizadas antes e após os protestos de rua, entre o início de maio e o final de junho, sinalizam uma queda abrupta da preferência do eleitorado pelo PT em toda a capital paulista. Variou de 34% para 22%.
O mais preocupante para as lideranças partidárias, porém, é que essa queda não poupou a periferia.
Ali, onde a preferência petista sempre se mantém acima da média, a pesquisa de junho apontou um índice em torno de 23%, com pequenas variações de uma região para outra.
Os números foram apresentados a líderes petistas, na tarde de sábado, 13, durante o encerramento de uma série de reuniões de diretórios regionais da capital, dentro do programa denominado Caravanas 2013.
A plenária do encontro, no Sindicato dos Químicos, contou com a presença do prefeito Fernando Haddad e reuniu cerca de 600 pessoas. Em seguida, um grupo menor, com cerca de cinquenta militantes, reuniu-se com a presidente do diretório municipal, vereadora Juliana Cardoso, para ouvir um diagnóstico mais refinado sobre o impacto dos protestos no PT.
A exposição inicial ficou a cargo da pesquisadora Marisol Recamán, que trabalha na área de pesquisas de opinião pública e presta serviços ao PT. Em primeiro lugar ela mostrou, com infográficos, como os candidatos petistas a cargos majoritários são sempre mais votados nas periferias. Esse fenômeno já é conhecido e tem impacto não só nas eleições municipais. Influi até nas campanhas para a Presidência da República.
Dependência
Uma das explicações para a preferência, segundo a pesquisadora, é que os eleitores de periferia dependem mais da presença do Estado.
"A periferia, que tem um peso de 65% no total dos votos, é o setor da capital que mais precisa de serviços públicos, como transporte, saúde e educação", disse.
Na avaliação desse eleitorado, continuou, o PT é o partido com melhores condições de atender a essas demandas: "O eleitor de periferia votou no Haddad na esperança de que a vida dele vai melhorar".
Nesse cenário, a queda abrupta na preferência do eleitorado registrada nas pesquisas é preocupante; e pode ficar ainda mais preocupante se forem analisados outros dois resultados das entrevistas.
O primeiro sinaliza o aumento da rejeição do partido: variou de 14% para 23%.
O segundo mostra o apoio total das grandes massas de periferia aos protestos. O índice de apoio chegou a 92%.
Para a pesquisadora, o principal significado do apoio popular às manifestações é o fato de sinalizar sua profunda insatisfação com a qualidade dos serviços públicos: "O morador da periferia não foi à rua, mas estava lá, de coração, apoiando."
Marisol ressalvou que os ventos de junho não atingiram só o PT. Todos os políticos e executivos brasileiros, da pequena prefeitura do interior à Presidência da República, foram afetados. Outra ressalva, mais tranquilizadora para o PT, foi a de que os resultados da pesquisa não são irreversíveis.
Reflexão
"Estamos tentando diagnosticar e refletir sobre tudo o que ocorreu, para direcionar nossas ações e os debates no PT, que já está vivendo um processo eleitoral", disse Juliana Cardoso ao Estado, referindo-se à eleição para a presidência do partido, no final do ano.
Na plenária, ela cobrou do prefeito Haddad mais atenção para os militantes ligados a movimentos populares e de periferia. O vereador José Américo, presidente da Câmara Municipal, disse que não viu as manifestações de junho como resultado de uma crise institucional: "As pessoas foram para as ruas diante de uma profunda crise dos serviços públicos."
O presidente do PT paulista, deputado estadual Edinho Silva, focalizou as eleições de 2014 para o governo do Estado - o próximo grande alvo eleitoral do partido após a conquista da Prefeitura de São Paulo. Em seu discurso, sinalizou que a qualidade dos serviços será levada para o centro do debate, para atingir o governo atual, na mão dos tucanos. "O PSDB vive o seu pior momento no Estado. A segurança pública está desmantelada", disse o presidente estadual.
15 de julho de 2013
Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo
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