Donos das ruas, dos movimentos sociais, da esquerda, do “progressismo” e do “politicamente correto”, o PT e seu governo se veem cada vez mais enrascados por atos que chamam de espontâneos, que repudiam seus cabrestos.
Quase não conseguem esconder o ódio – como as manifestações iniciadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) bem mostraram - de qualquer coisa que possa ter sido gerada fora de suas hostes. E metem os pés pelas mãos quanto tentam politizá-las à sua maneira.
Por pouco não criaram mais um caroço no já grosso angu na quinta-feira, na manifestação nacional convocada pelas centrais sindicais. Ainda que sem o êxito esperado pelos seus líderes – até porque é difícil protestar contra um governo aliado -, o Dia Nacional de Lutas conseguiu interditar rodovias e incomodar o trânsito de grandes cidades.
Os petistas foram previamente contidos. Mas queriam porque queriam defender o finado plebiscito para a reforma política, ideia marqueteira defendida por Dilma, sepultada um dia antes pela Câmara dos Deputados.
Todos aqueles que receberam votos – governantes e parlamentares de todas as esferas -- atropelaram-se a correr atrás dos prejuízos que pareciam não enxergar antes da grita das ruas. Alguns mais desarvorados.
Na base da tentativa e erro – sem jamais admitir erros –, o governo Dilma arriscou de tudo um pouco. Cinco pactos requentados, Constituinte exclusiva, plebiscito, importação de médicos, extensão do curso de Medicina para oito anos, com atendimento compulsório no SUS. Tudo isso em menos de três semanas, como se o mandato tivesse começado ontem e terminasse antes do amanhecer.
Governar de fato, planejar políticas de investimentos e executá-las, impedir a gastança e o desperdício, nem pensar.
No Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) travestiu-se de paladino da ética. Na Câmara, o também peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN) assumiu a mesma tarefa. Acredite-se ou não, ambos poderiam ter tido algum sucesso não fosse a folia com voos da FAB. Como sempre e mais uma vez, as mordomias falaram mais alto do que qualquer voz da rua.
É onde mora o perigo. O País acorda, clama, protesta. Os governos atendem com presteza à reivindicação imediata. Congelam as tarifas de transportes urbanos – com custos severos para todos os contribuintes - e o resto torna-se difuso, sujeito a todo tipo de manipulação dos que se sentem proprietários da vontade popular.
E mais: como são tantos e todos os dias, os protestos começarão a incomodar, a atrair antipatias.
Ao final e ao cabo o PT e os seus farão o que puder para que tudo se resuma aos 20 centavos. É nisso que apostam os que se acham donos do povo.
15 de julho de 2013
Mary Zaidan é jornalista.
O Globo
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