"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de agosto de 2013

BRASIL PERDE COMPETITIVIDADE E IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS TECNOLÓGICOS CRESCE 16,2%

Brasil perde competitividade e importação de produtos tecnológicos aumenta 16,3%.  Segundo levantamento do Iedi, déficit gerado por entrada de produtos de média e alta tecnologia chegou a US$ 46,8 bi de janeiro a junho deste ano



Exatron: fabricação de produtos eletrônicos esbarra no custo elevado pago pelo frete entre o Porto de Rio Grande e a fábrica em Porto Alegre
Foto: Divulgação
Exatron: fabricação de produtos eletrônicos esbarra no custo elevado pago pelo frete entre o Porto de Rio Grande e a fábrica em Porto AlegreDivulgação
 
A possibilidade de a balança comercial encerrar o ano com o primeiro saldo negativo desde 2000 — o acumulado até julho se aproxima de US$ 5 bilhões — mostra a perda de competitividade do Brasil na indústria manufatureira mundial. Além disso, depende cada vez mais de importações de produtos de alta e média tecnologia. Na contramão de seu próprio mercado, ávido por consumir produtos de última geração, o Brasil vê aumentar as importações justamente nos setores de alta e média tecnologia. Um levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que o déficit gerado pela importação de produtos de média e alta tecnologia chegou a US$ 46,8 bilhões de janeiro a junho deste ano, 16,3% a mais do que em igual período de 2012.
 
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a Samsung da Amazônia, de produtos eletrônicos de consumo, foi a segunda empresa que mais importou em 2012, atrás apenas da Petrobras. Só no primeiro semestre deste ano, importou o equivalente a US$ 1,9 bilhão, mais do que as exportações de aviões da Embraer no período. Apenas no segmento de baixa tecnologia industrial o país obteve superávit, de US$ 18,9 bilhões, com a venda de produtos como madeira e derivados, papel e celulose, alimentos, bebidas e tabaco.
 
— O mundo das commodities já não é mais o mesmo, continua bom, mas já não é espetacular a ponto de neutralizar a perda de competitividade do Brasil na indústria. A dependência tecnológica é forte e, num mundo sedento por ganhar mercados, a dificuldade de exportar aumenta — afirma o economista Júlio César Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda.
 
Até mesmo a agricultura, para crescer depende da importação de toneladas de defensivos agrícolas, máquinas e equipamentos. Uma única fornecedora do setor, a Syngenta, aumentou suas importações em 48% no primeiro semestre deste ano e ocupa o 15º lugar no ranking de importadores do período.
 
— Nossa fragilidade no setor industrial se acentuou nos últimos anos e, com o menor crescimento da China e da economia mundial, ela ficou mais clara. O desastre da competitividade ficou nos bastidores — diz Lia Valls Pereira, coordenadora de Estudos de Comércio Exterior do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas.
 
Brasil perde participação
 
Dados da ONU, compilados pelo Iedi, mostram que em 1990 o Brasil respondia por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) manufatureiro mundial. Em 2011, ficou com 1,7%. No período, a Índia aumentou sua fatia de 1% para 2,1%; a Coreia, de 1,4% para 3,1%; e o México perdeu menos que o Brasil, passando de 2% para 1,8%.
 
— Agimos como na fábula da cigarra e da formiga. Com a exportação de commodities agrícolas e minerais em alta, estávamos no verão. E nos esquecemos do inverno. Para vender commodities, o esforço é pequeno; o preço é internacional. No setor industrial, é preciso atitude. A China está vendendo calçados, móveis e máquinas agrícolas para a Argentina. A indústria brasileira precisa reagir, inclusive tentando entrar em nichos do mercado chinês, como o de calçados de couro para segmentos de maior poder aquisitivo — afirma Michel Alaby, consultor de comércio exterior.
 
As indústrias brasileiras convivem com absurdos que ilustram facilmente a situação. A Exatron, fabricante de produtos de automação predial e residencial e sensores de presença, com sede em Porto Alegre, é um dos exemplos. A empresa paga R$ 4 mil pelo transporte de um contêiner de produtos da marca fabricados na China até o Porto de Rio Grande, num trajeto de quase 20 mil quilômetros. Para levar o contêiner do porto até sua fábrica, num percurso de 320 quilômetros, desembolsa R$ 2 mil.
 
Segundo Régis Haubert, diretor da empresa, 14% do valor do transporte terrestre no Brasil correspondem a pedágio.
 
Exportações sobem pouco
 
Estudo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) mostra que, entre 2000 e 2010, as importações latino-americanas do Leste da Ásia, apenas por avião — meio de transporte pela qual viajam produtos de maior valor agregado — passaram de 50 mil toneladas para 1,4 milhão de toneladas por ano (2000/2010). A principal origem é a China (48%), seguida pelo Japão (20%).
 
Entre 2000 e 2012, a participação do Brasil nas importações mundiais de produtos industrializados avançou de 0,84% para 1,37% no período de 2000 a 2011 e pouco cresceu nas exportações — de 0,67% para 0,73%.

04 de agosto de 2013
Cleide Carvalho - O Globo

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